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Eleições: o que trava o acerto de França com Lula e Haddad em São Paulo?

26 out. 2020 - Márcio França (PSB) em campanha no centro de São Paulo - DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
26 out. 2020 - Márcio França (PSB) em campanha no centro de São Paulo Imagem: DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Leonardo Martins e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

27/02/2022 04h00

A reunião da última terça-feira (22) entre o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terminou sem definição sobre quem seria o candidato dos dois partidos ao governo de São Paulo caso eles se unissem em uma federação partidária nas eleições deste ano.

França e Fernando Haddad (PT) concorrem pela candidatura. A disputa envolve um fator prático: o candidato precisa conseguir receber votos do interior de São Paulo e chegar ao segundo turno. Nos bastidores, os interesses e costuras políticas, como a importância de governar o estado mais populoso do país, conduzem a negociação.

Negociações em torno da federação

PT, PSB, PV e PCdoB negociam uma federação partidária para as próximas eleições. Se a costura der certo, os partidos deverão permanecer unidos pelos próximos quatro anos e só poderão indicar um candidato às eleições que irão disputar —o acordo valerá nos pleitos federal e estaduais.

Nesse último encontro, França diz ter levado a sugestão de contratar uma pesquisa eleitoral para simular um pleito com Haddad, que disputa liderar a chapa com França —não foi a primeira vez que o pessebista falou sobre isso. Segundo o ex-governador, Lula, agora, irá analisar a proposta e conversar com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-prefeito de São Paulo.

Novo rosto e novo palanque

Petistas estão animados com a ideia de ter um político como Haddad, que nunca disputou o cargo, como novo concorrente da sigla no âmbito estadual. Membros do partido citam que, ao contrário de 2018, o PT pode ter um candidato competitivo desta vez em um estado que o partido nunca governou.

Para os filiados ao PSB, a bola está com França porque o quadro está posto: assim como o ex-governador estaria "irredutível" sobre abrir mão de se candidatar em São Paulo, o PT não deve abrir mão de Haddad, escolhido por Lula para disputar o governo.

Não se sabe até onde a corda será esticada. A expectativa é que a palavra final seja de Lula.

Para o PT, a candidatura de Haddad ao governo de São Paulo é fundamental para a campanha de Lula à Presidência, pois daria palanque ao ex-presidente no estado mais populoso do país.

Isso porque o PT não terá candidaturas para governador nos outros três estados do Sudeste, região considerada estratégica para as pretensões de Lula voltar ao Planalto:

  • No Rio de Janeiro, partido apoiará o deputado federal Marcelo Freixo (PSB);
  • Em Minas Gerais, deverá estar com Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte;
  • No Espírito Santo, mesmo com alguns ruídos, caminha para aderir à campanha de Renato Casagrande (PSB) à reeleição.

O entrave com Márcio França é o último nó a ser desatado por Lula, que pegou problema no colo, segundo aliados.

O lugar de Boulos

A candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) ao governo paulista também era um entrave. Mas, hoje, o PSOL já admite, internamente, abrir mão de tê-lo na disputa majoritária em prol de um protagonismo na eleição estadual, seja ocupando a vaga de vice de Haddad ou uma candidatura ao Senado. A expectativa é que Boulos dispute uma vaga para deputado federal.

Em contrapartida, o PSOL receberia o apoio do PT na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2024. Fontes do UOL dizem que os petistas já decidiram que não terão candidato daqui a dois anos para o comando da capital paulista. Oficialmente, o PSOL, porém, mantém o discurso de que nada mudou e Boulos disputa o governo.

O lado do PSB

No PSB, o argumento principal é que Márcio França conseguirá abarcar para si os votos do interior de São Paulo, que não é uma região forte do PT historicamente. França se vê como um candidato com mais chance de vitória que Haddad.

Apesar disso, na mais recente pesquisa eleitoral, do Ipespe, Haddad empata com Alckmin na corrida pelo governo paulista. Sem Alckmin, Haddad lidera com 28%; França vem na sequência com 18% e Guilherme Boulos (PSOL) em terceiro com 11%.

No cenário, sem Haddad, Alckmin e Boulos, Márcio França lidera com 31%. No cenário sem Alckmin, França e Boulos, Haddad amplia a vantagem para 33%.

A Prefeitura de São Paulo também é um problema para o PSB, que quer a deputada federal Tabata Amaral como candidata própria em 2024.

Para França, uma das ideias ventiladas é de disputar uma vaga para deputado federal e, caso Lula seja eleito, integrar o governo do petista como ministro.

Também se fala em uma candidatura para o Senado. Mas com apenas uma vaga em disputa, o cenário é visto como arriscado. Ser vice de Haddad é uma hipótese remota, praticamente descartada.

França não descarta a possibilidade de lançar uma segunda candidatura, caso Haddad não abra mão da disputa —mas reconhece que isso afastaria os dois partidos. "Lula deu até entender que poderia ser (duas candidaturas). Acho que duas candidaturas, na prática, é difícil sem que haja divergência. Ninguém vai pra disputa pra não ganhar", disse.

Para ele, a conversa com Lula caminhou para um acordo. "Na prática, como você tem dois quadros mais relevantes e experientes, quem sabe a gente consegue formatar. Eu saí convicto que vai formatar [a chapa]."