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Arthur do Val desiste de concorrer ao governo de SP após áudios sexistas

Stella Borges e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

05/03/2022 11h05Atualizada em 05/03/2022 19h26

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) desistiu hoje da pré-candidatura ao governo de São Paulo após a divulgação de áudios em que afirma que mulheres ucranianas "são fáceis, porque são pobres". Em meio a críticas, a avaliação até de aliados é que a situação se tornou insustentável.

"Não tenho compromisso com o erro. Por isso, entrei em contato com a presidente do Podemos, Renata Abreu, para retirar minha pré-candidatura ao governo de São Paulo", afirmou, em nota.

"Faço isso por entender que nesse momento delicado da política nacional é necessário preservar o árduo trabalho de todos aqueles que se dedicam na construção de uma terceira via. O projeto não merece que as minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo", completou.

"Os áudios que vazaram de uma conversa privada com amigos são lamentáveis. Não são corretos com as mulheres brasileiras, ucranianas e com todas as pessoas que depositam confiança em meu trabalho e, por isso, peço desculpas", também escreveu.

Mais cedo, Arthur do Val já havia dito que poderia se retirar da disputa.

"Se eu vou continuar pré-candidato? Não sei, cheguei agora no Brasil. Eu não quero atrapalhar a terceira via, eu não quero atrapalhar meu partido, eu não quero atrapalhar ninguém. Então, se isso for melhor, tudo bem, eu retiro, não tem problema. Eu só quero que as pessoas me julguem pelo que eu fiz, não pelo que eu não fiz", disse ele em um vídeo publicado no YouTube.

Depois da divulgação das mensagens, o pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) disse ter rompido com do Val, seu aliado político.

O Podemos classificou como "gravíssima e inaceitável" a conduta do deputado e anunciou a abertura de um procedimento disciplinar para investigar as falas sexistas dele.

O parlamentar, conhecido como Mamãe Falei, viajou à Ucrânia, no último dia 28, com Renan Santos, um dos dirigentes do MBL (Movimento Brasil Livre), para acompanhar o conflito após a invasão da Rússia.

Na gravação, ele admite que os áudios foram gravados por ele e enviados em um grupo de amigos que "não tem nada a ver com política" e que "contou vantagem" a eles. "Como a gente é pessoa pública os áudios vazaram, infelizmente, a gente não tem direito nem a privacidade. Fico triste por vocês terem visto isso."

"Você quer falar que os áudios são escrotos? São. São machistas? São. Eu poderia resumir: aquilo é um moleque, eu estou sendo moleque, essa não é a postura que as pessoas esperam de mim. Quero que você separe as ações das palavras. Eu aceito ser julgado pelo que eu falei, mas não aceito ser julgado pelo que eu não fiz", acrescentou ele.

Mais cedo, em declaração à imprensa, o parlamentar havia classificado os áudios como um "erro em um momento de empolgação".

Do Val diz que apenas se dedicou ao que chamou de "missão" no período em que esteve no país. Em uma postagem nas redes sociais, ele afirmou que estava fazendo coquetéis molotov para o exército ucraniano.

O MBL (Movimento Brasil Livre), grupo do qual o político é um dos dirigentes, emitiu uma nota repudiando a fala de Do Val, mas ressaltando o real objetivo da viagem.

Ao final, o movimento chama "lulistas e bolsonaristas" de "aproveitadores". "Aos aproveitadores, lulistas e bolsonaristas, que viram nesse ocasião apenas um motivo para nos atacar, devemos reiterar que nada impedirá o MBL de continuar seu trabalho em prol da terceira via, de uma alternativa aos projetos políticos criminosos do PT e de Bolsonaro", escreveu o grupo.

Entenda o caso

Em uma série de áudios gravados ontem e enviados a um grupo de amigos no Whatsapp, o deputado estadual descreve suas impressões sobre as mulheres da Ucrânia e, em um dos trechos, afirma que elas "são fáceis, porque são pobres".

"Eu estou mal, eu passei agora por quatro barreiras alfandegárias, são duas casinhas em cada país. Eu juro para vocês, eu contei, foram 12 policiais deusas, que você casa e faz tudo o que ela quiser (...)", afirma o deputado nos áudios, que foram revelados pelo site Metrópoles, e aos quais o UOL também teve acesso.

Em seguida, o parlamentar, afirma: "Detalhe, hein. Elas olham e, vou te dizer, elas são fáceis, porque são pobres. E aqui, a minha conta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de 'minas' e é inacreditável a facilidade. Essas 'minas' em São Paulo, você dá bom dia e ela [sic] ia cuspir na sua cara e aqui elas são supersimpáticas e supergente boa, é inacreditável", prossegue o deputado. Segundo ele, nas "cidades mais pobres, elas são as melhores".

A namorada de do Val, Giulia Blagitz, terminou o relacionamento com o deputado, segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. "Gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos diferentes", registrou Giulia em um perfil redes sociais, que foi desativado.

A ex-embaixatriz da Ucrânia no Brasil Fabiana Tronenko pediu aos deputados estaduais de São Paulo que cassem o mandato dele.

A deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB), colega de Arthur do Val na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), também criticou as declarações, embora não tenha citado o parlamentar nominalmente.

"Na condição de deputada estadual, eu não tenho palavras para expressar a indignação com o desrespeito para com as mulheres ucranianas. O tratamento a elas dispensado já seria inaceitável, pelos termos utilizados! Mas, diante da situação de vulnerabilidade, é revoltante! Triste!"

Suposto assédio contra estudante

Em 2016, Arthur do Val foi acusado de cometer assédio sexual contra uma adolescente de 16 anos, depois de entrar em um colégio em Curitiba (PR) para entrevistar estudantes, que ocuparam o local para realizar um protesto. Na ocasião, Mamãe Falei acabou sendo agredido por esses alunos.

Uma jovem alegou que ele teria passado a mão nela durante a confusão. Os dois assinaram um Termo Circunstanciado e foram liberados pela polícia logo na sequência, segundo informou o "Tribuna Paraná", parceiro do UOL.