MBL tenta substituir do Val, mas Podemos de Moro pode apoiar até PSDB em SP
Após a crise política desencadeada por falas machistas do então pré-candidato ao governo de São Paulo, Arthur do Val, o MBL (Movimento Brasil Livre) tenta emplacar alguém para substituí-lo no pleito. No entanto, o Podemos pode abandonar o apoio direto ao MBL no estado e abraçar um candidato ao Palácio dos Bandeirantes do próprio partido, sem ligação com o movimento, ou apoiar o tucano Rodrigo Garcia.
No caso de apoio ao PSDB, um dos maiores prejudicados seria o pré-candidato à Presidência do próprio Podemos, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, pois ficaria sem candidato do partido para dividir o palanque no maior colégio eleitoral do país.
Arthur do Val desistiu de continuar como pré-candidato a governador de São Paulo após a revelação de falas machistas dele em viagem à Ucrânia, país que foi invadido por tropas russas. Do Val disse que mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres", entre outras declarações sexistas.
O deputado estadual enfrentava processo disciplinar interno no Podemos que podia resultar em sua expulsão e, nesta terça (8), pediu a desfiliação da sigla. Ele ainda enfrenta ao menos 10 pedidos de cassação do mandato na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).
Por enquanto, não há nada acertado quanto a quem deve substituí-lo. As lideranças do Podemos e do MBL tampouco colocaram todas as propostas na mesa. Mas a movimentação nos bastidores já começou.
Nomes sem consenso
Um integrante da cúpula do MBL informou à reportagem que o grupo cogita lançar o vereador de São Paulo Rubinho Nunes (Podemos), um dos fundadores e coordenadores do movimento, no lugar de do Val ao governo paulista. A ideia ainda precisa ser mais discutida, mas, segundo essa fonte, a sigla já teria sinalizado que aceitará a mudança que decidirem.
Ao ser indagada pelo UOL sobre a tentativa de emplacarem Rubinho Nunes, uma liderança do Podemos descartou a possibilidade. Isso porque os caciques da legenda afirmam considerar que o vereador não tem força suficiente para ser eleitoralmente viável, ainda mais para ajudar Moro. Nem mesmo a pré-candidatura de Arthur do Val era consenso dentro do Podemos.
Procurado pela reportagem, o Podemos informou que "tem grande respeito pelo vereador Rubinho Nunes e vê no trabalho do parlamentar resultados relevantes, com perspectiva de futuro político".
Outro ponto levantado é que qualquer nome sugerido pelo MBL deve ficar atrelado a Arthur do Val na cabeça dos eleitores e na artilharia de adversários políticos. Outro integrante proeminente do MBL que se envolveu em polêmica recentemente foi o deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP), que, durante participação do podcast Flow, disse achar que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.
Fontes do partido afirmam, porém, que é um alívio a crise de do Val ter acontecido a tempo de candidatos serem trocados, senão o prejuízo seria ainda maior para Moro.
Apoio ao PSDB
Uma possibilidade, afirmam, é que o Podemos passe a apoiar o atual vice-governador Rodrigo Garcia para o cargo máximo de São Paulo. Garcia, porém, está fechado com o governador João Doria (PSDB) na disputa ao Planalto — um dos principais adversários de Moro na chamada "terceira via".
Indagado sobre o possível apoio do Podemos ao PSDB no âmbito de São Paulo, mas como adversários na disputa pelo Planalto, um parlamentar da sigla disse acreditar que apenas palanques estaduais não vão resolver a eleição, e que não é preciso firmar alianças 100% homogêneas.
Um ponto positivo levantado é que políticos menos conhecidos do Podemos não precisariam dividir os recursos do fundo eleitoral com um candidato ao governo estadual, o que pode melhorar as finanças para suas campanhas e, por conseguinte, impactar os resultados finais.
Candidatura própria, mas sem o MBL
Apesar disso, o Podemos também não descarta ter um candidato do próprio partido para reforçar o palanque paulista a Sergio Moro — inclusive sem ligação direta com o MBL.
Alguns dos cotados são o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, hoje brigado com o presidente, e a presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu (SP).
Nesta terça, Moro apoiou publicamente o nome de Renata Abreu como candidata ao governo de São Paulo. "No Dia Internacional da Mulher, parabenizo a deputada Renata Abreu, presidente do Podemos. Precisamos de mais mulheres em posições de liderança do país. Quem sabe no governo de SP?", escreveu no Twitter.
Horas depois, porém, Renata disse, em nota, que por ora vai se focar na articulação da candidatura do ex-juiz. "Até o final do período de filiações, este será seu único objetivo. E, logo após, vai tomar sua decisão, sabendo que, para as mulheres, o que jamais vai faltar é coragem para romper barreiras e encarar novos desafios!", completou, em comunicado enviado pelo partido.
Em nota ao UOL, o Podemos afirmou que a sigla, "a exemplo de Rubinho, recém-filiado, tem outros grandes quadros para a disputa do governo como a deputada Renata Abreu, o general Santos Cruz, o prefeito de Itapevi, Igor Soares, reeleito com o maior percentual de votos válidos do Brasil (98%), ou mesmo o deputado Heni [Ozi Cukier], ex-Novo e ligado ao MBL".
Insatisfação até com crítica de Moro a do Val
A crítica de Moro em relação às falas machistas de Arthur do Val, até então seu aliado, também divide integrantes do Podemos. Um articulador da legenda explicou que alguns políticos temem que a atuação da sigla contra o próprio partidário exponha uma nova forma de se lidar com crises de seus filiados.
Alguns parlamentares temem que, em um possível processo judicial que venham a enfrentar no futuro, o Podemos evite defendê-los. Um deles foi direto e disse que os políticos "não querem o candidato da legenda atacando os parlamentares".
Sobre a postura de Moro, o partido disse em nota que "acredita que ela está em sintonia com a imensa maioria da população, de acordo com as convicções de repúdio tanto do partido e quanto por parte do presidenciável". Acrescentou ainda que "atos desde tipo, de ofensa às mulheres, serão sempre repudiados, seja contra quem for".
"Todo filiado ou mandatário com conduta correta será sempre apoiado e terá o Podemos em suas fileiras. Mas não haverá passada de mão na cabeça diante dos erros."
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