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Kassab faz jogo de espera em corrida ao Planalto e evita rachar PSD

O cacique político Gilberto Kassab é presidente nacional do PSD (Partido Social Democrático) - Avener Prado/Folhapress
O cacique político Gilberto Kassab é presidente nacional do PSD (Partido Social Democrático) Imagem: Avener Prado/Folhapress

Luciana Amaral e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

12/03/2022 04h00

Cacique político com larga experiência em articulações, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, tem feito um jogo de espera na corrida pelo Palácio do Planalto. A ideia é tentar consolidar o partido como um dos mais influentes do país e evitar qualquer racha interno no primeiro turno das eleições de outubro. Até o momento, ele não demonstra publicamente pressa para selar uma definição sobre o rumo da legenda.

Após a desistência de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na disputa pelo Presidência nesta semana, o interesse declarado de Kassab é atrair ao partido o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) e torná-lo o candidato da legenda a presidente. Se a vinda do tucano não acontecer, outra possibilidade é investir numa negociação com Ciro Gomes, pré-candidato do PDT.

Kassab tem insistido, em público, que o PSD terá candidatura própria para romper com a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), apesar de acenos ao pedetista e até ao petista.

Ao mesmo tempo, caso a candidatura própria fique pelo caminho, integrantes do PSD entendem que não se pode deixar o partido à deriva no primeiro turno. Por isso, o nome de Ciro é lembrado. Avaliam que seria o candidato da terceira via mais "palpável", já que Sergio Moro (Podemos) é recusado por grande parte da ala política que desaprova a Operação Lava Jato. Um deputado do partido disse que, no caso de ter que recorrer a Ciro, o jeito será abraçá-lo ainda que com "uma faca na garganta".

Também não se descarta liberar os filiados a fazerem campanha por quem preferirem. O PSD ainda tende a deixar em aberto se pode apoiar Lula ou Bolsonaro num eventual segundo turno do pleito.

Um integrante do PSD afirmou à reportagem que Kassab é "fiel ao inevitável", ao ressaltar seu pragmatismo político.

Prioridade é firmar PSD entre os grandes partidos

Parlamentares do PSD ouvidos pelo UOL afirmam que a prioridade é firmar o partido como uma das principais siglas de centro e se posicionar entre as três maiores bancadas tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. Atualmente, na Câmara, é a quinta maior bancada.

Eles avaliam que, para atingir essas metas, é preciso reforçar o cacife político do PSD e deixar o partido unido, ao menos até o primeiro turno das eleições. A maneira mais segura de se fazer isso seria ter um candidato próprio à Presidência da República. Segundo parlamentares ouvidos, um candidato próprio cria palanques estaduais mais fortes, e dentro do partido já há quem esteja mais alinhado a Lula ou a Bolsonaro.

O senador Otto Alencar (PSD) está próximo de Lula e de parte do PT na Bahia. Já o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), se mostra simpático a Bolsonaro.

Portanto, integrantes do PSD consideram que, se o partido tomar um desses lados na disputa no primeiro turno, pode perder filiados e possíveis apoios, estragando o projeto de crescer nacionalmente. Também não querem que a rejeição a Lula e a Bolsonaro de eleitores em estados onde o PSD está mais neutro impeça que votem em candidatos do partido.

A primeira opção então é tentar emplacar alguém na chamada terceira via, em oposição a Lula e a Bolsonaro, para cacifar o PSD, inclusive visando maior poder de barganha num eventual segundo turno, e apaziguar eventuais ânimos divergentes internamente.

Possível candidato próprio

O nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como pré-candidato do PSD ao Planalto foi o primeiro a ser ventilado nos bastidores por Kassab, e tinha relativa boa aceitação no partido. Mas, na quarta-feira (9), Pacheco anunciou que não irá se candidatar.

"Os meus compromissos como presidente do Senado e com o país são urgentes, inadiáveis, e não permitem qualquer espaço para vaidades. Por isso, afirmo que é impossível conciliar essa difícil missão com uma campanha presidencial", declarou.

Cotado pelo PSD, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, avisou que não disputará o Planalto - Marcos Oliveira/Agência Senado - Marcos Oliveira/Agência Senado
Cotado pelo PSD, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, avisou que não disputará o Planalto
Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Pacheco não deslanchou nas pesquisas de intenção de voto realizadas até o momento, muito menos para se consolidar como um nome forte na terceira via.

Na verdade, ele nem se esforçou para formar uma equipe e tocar uma campanha como os demais pré-candidatos. Nos bastidores, sua desistência já era dada como certa.

Ciente da situação de aparente desânimo que rondava Pacheco, Kassab tratou de se antecipar e viu no governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) uma "extraordinária alternativa", conforme o próprio cacique declarou no mês passado.

Contudo, após cogitar migrar para o PSD, ser criticado por correligionários tucanos e deixar em dúvida seu destino político, Leite evitou tocar no assunto em público.

Leite considera sair do PSDB após os tucanos escolherem o governador de São Paulo, João Doria, como pré-candidato do partido à Presidência. Ainda não se sabe qual decisão tomará. O certo é que ele esperava a desistência oficial de Pacheco anunciar qualquer decisão sobre seu futuro político.

O gaúcho também não se destaca na terceira via. Porém, integrantes do PSD ouvidos pela reportagem enxergam Leite como mais competitivo do que Pacheco, e afirmam que ele pode surpreender se se jogar na campanha eleitoral. Dizem ainda que, no PSD, o tucano encontrará parlamentares unidos a ele, tempo de televisão e ideologia semelhante à do PSDB.

Caso não consiga passar a um segundo turno desta vez, pelo menos poderá fortalecer seu nome e o do partido, segundo avaliam.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pode abandonar o governador de São Paulo, João Doria, no PSDB e ir para o PSD. Seriam concorrentes na corrida ao Planalto. - Divulgação - Divulgação
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pode abandonar o governador de São Paulo, João Doria, no PSDB e ir para o PSD. Seriam concorrentes na corrida ao Planalto
Imagem: Divulgação

Num cenário menos provável hoje, o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung chegou a ser cotado. Porém, não consideram que tenha viabilidade eleitoral num pleito tão polarizado.

Em uma das últimas instâncias, a opção do PSD pode ser se aliar a Ciro Gomes no primeiro turno para não perder tanto o protagonismo na corrida eleitoral. Conversas com o PDT não seriam inéditas. O PSD tem buscado alianças estaduais com o partido, como no Rio de Janeiro.

Kassab esperançoso

Em nota, Gilberto Kassab afirmou que Rodrigo Pacheco é "um dos principais nomes da renovação política brasileira". "Reafirmo minha convicção de que ainda teremos o privilégio de tê-lo presidindo o Brasil", disse.

Após elogiar a trajetória do colega, disse que Pacheco "entendeu não ser este o momento adequado" para se candidatar à Presidência da República.

"Assim é a democracia e o partido tem total respeito por sua decisão. Sei que ele terá seu nome como um dos melhores presidentes da história do nosso Senado e que seguirá defendendo os interesses de Minas Gerais e trabalhando pelo crescimento e desenvolvimento do Brasil", completou.

Caminho do PSD num segundo turno entre Lula e Bolsonaro

Para dois filiados a par das negociações, há a expectativa de que Lula estacione nas pesquisas de intenção de voto, pois, na avaliação deles, ainda não começou a sofrer um bombardeio real de adversários. Já Bolsonaro pode crescer um pouco.

No momento, ninguém se arrisca a dizer para quem vai o apoio do PSD num eventual segundo turno, ou até mesmo se existirá algum suporte a um dos dois. Isso depende da configuração política formada a partir do resultado do primeiro turno, embora se diga haver uma tendência pró-Lula. Eles lembram que Kassab já foi ministro dos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode não estar tão distante de um apoio de Gilberto Kassab - Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo - Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode não estar tão distante de um apoio de Gilberto Kassab
Imagem: Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Há quem espere que Kassab teste o limite de até onde consegue ir com o PSD ao lado de Lula. Se não conseguir consenso, uma possibilidade citada é liberar a bancada.

Outros são mais céticos em relação a um possível apoio a Bolsonaro se houver um segundo governo seu, já que isso não aconteceu de forma explícita até agora — o ministro das Comunicações, Fábio Faria, filiado ao PSD, é tido como da cota pessoal do presidente.

No entanto, há o entendimento de que "Kassab pode ser ministro tanto de Lula quanto de Bolsonaro", caso um deles se eleja.

De todo modo, a mensagem é que o cacique espera pelo panorama lá na frente para ver quem terá maiores chances de vitória antes de tomar qualquer decisão. Pragmatismo e prudência são as palavras de ordem.