Alckmin com Lula: veja políticos que "viraram casaca" e se uniram a rivais
A notícia de que Geraldo Alckmin, então no PSDB, negociava para ser vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pegou muitas pessoas de surpresa. Afinal de contas, os dois políticos polarizaram o debate durante anos. Inclusive foram adversários na campanha presidencial de 2006, em que o petista levou a melhor no segundo turno e se reelegeu.
Durante o final da década de 90 e o início da década de 2010, PT e PSDB rivalizaram no cenário político nacional. A nível nacional, os petistas foram derrotados duas vezes pelos tucanos (1994 e 1998). O troco viria nas quatro eleições seguintes, com vitória do PT (2002, 2006, 2010 e 2014). O cenário se modificou com a vitória de Jair Bolsonaro, então no PSL, em 2018.
O ex-tucano filiou-se ao PSB em evento nesta quarta-feira (23), em que teceu elogios ao seu antigo rival, Lula, e fez crítica indireta ao presidente Jair Bolsonaro. Mas essa reviravolta na vida pública não é novidade. Geraldo Alckmin não é o primeiro a "virar a casaca" e a se aliar com antigos adversários. Ao longo da história política brasileira, vários casos foram registrados.
Roberto Requião (do PMDB para o PT)
O ex-governador do Paraná, Roberto Requião, se desfiliou, após 42 anos, do MDB e se filiou ao PT, pelo qual pretende disputar um quarto mandato à frente do governo paranaense.
Requião foi um dos maiores nomes do então PMDB nas últimas décadas, sendo eleito três vezes governador do Paraná, disputando os pleitos contra o PT. Em 2006, foi contra o apoio do partido à reeleição de Lula. Em 2010, chegou a lançar sua pré-candidatura à presidência. Mas, na convenção do partido, ficou decidido que o PMDB ficaria na coligação com o PT na chapa Dilma/Temer, que venceu o pleito daquele ano.
Senador da República, Requião votou contra o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mesmo com o partido sendo favorável à destituição da petista e tendo o vice, Michel Temer, assumindo no lugar de Rousseff.
Dilma Rousseff (do PDT para o PT)
No final da Ditadura Militar, quando o bipartidarismo teve fim, a então ex-guerrilheira Dilma Rousseff, ao lado do marido Carlos Araújo, se uniu com Leonel Brizola na intenção de refundar o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). No entanto, o partido ficou na mão da Ivete Vargas, herdeira do ex-presidente Getúlio Vargas. Com isso, Brizola fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
O PDT, apesar de ligado à centro-esquerda, rivalizou com o Partido dos Trabalhadores nas décadas de 80 e 90. No Rio Grande do Sul, base eleitoral de Dilma, os pedetistas enfrentaram grandes disputas contra os petistas, sendo derrotados, por exemplo, nas eleições para prefeito de Porto Alegre em 1988 e 1992, com vitórias de Olívio Dutra e Tarso Genro, respectivamente.
A aproximação com o PT começou na campanha de 1998 para o governo do Rio Grande do Sul. No segundo turno, o PDT apoiou Olívio Dutra, que se sagrou vitorioso. Dilma aceitou o convite e se tornou Secretária de Energia, Minas e Comunicações.
Quatro anos depois, tornou-se Ministra de Minas e Energia do governo Lula e em 2005 foi nomeada Ministra Chefe da Casa-Civil, onde permaneceu até ser eleita Presidenta da República pelo PT, partido ao qual é filiada até hoje.
Moreira Franco (do PDS para o MDB)
Moreira Franco iniciou sua carreira pelo MDB, na época da Ditadura Militar. No entanto, ao assumir a prefeitura de Niterói, migrou para o PDS (ex-ARENA, e partido de sustentação do Regime Militar). Após a redemocratização, retornou para o PMDB, onde foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1986. Ocupou cargos importantes durante os governos do PT e, na queda da ex-presidente Dilma Rousseff, foi um dos políticos mais próximos de Michel Temer.
Teotônio Vilela (da ARENA para o PMDB)
Teotônio Vilela foi um udenista (filiado à União Democrática Nacional) histórico em Alagoas. Com o golpe militar, ficou filiado à ARENA e, com o apoio do Regime, foi eleito senador em 1974. No entanto, em meio ao processo de redemocratização iniciado pelo governo de Ernesto Geisel (1974-79), o senador começou a se afastar da ARENA e ser um forte nome a favor da volta da Democracia. Em 1979, filiou-se ao MDB.
Teotônio foi um dos maiores defensores da Anistia Geral e Irrestrita e visitava os presos políticos nos presídios espalhados pelo Brasil.
Marta Suplicy (do PT para o MDB)
Militante histórica do Partido dos Trabalhadores, Marta Suplicy foi prefeita de São Paulo, Deputada Federal, Senadora e Ministra dos governos petistas, até pedir desfiliação do partido em 2015 alegando escândalos de corrupção. Na sequência, ela se filiou ao MDB e votou a favor do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (de quem foi Ministra).
Atualmente está sem partido e é Secretária Municipal de Relações Internacionais de São Paulo. Em entrevistas, destaca a proximidade com Lula e foi sondada a voltar ao PT.
José Sarney (da Arena para o MDB)
José Sarney foi o primeiro presidente a assumir o cargo após a Ditadura Militar. Vice na chapa encabeçada por Tancredo Neves (PMDB), Sarney assumiu após o falecimento do político mineiro. No entanto, durante os "anos de chumbo", fez parte da ARENA, e após o fim do bipartidarismo, do PDS, partidos da Ditadura. Foi presidente nacional dos dois partidos e era favorável que o PDS lançasse um candidato que não fosse Paulo Maluf nas Eleições Indiretas de 1985. Como foi voto vencido, desfiliou-se do partido e meses depois foi para o MDB ser vice de Tancredo. Mesmo fora da vida pública desde 2015, Sarney continua filiado ao partido.
Roberto Freire (do MDB para o PCB e depois Cidadania)
Roberto Freire esteve na linha de frente contra a Ditadura Militar. Eleito deputado federal por Pernambuco em 1979, foi um dos principais defensores da Anistia Geral e Irrestrita, ao lado de Teotônio Vilela. Com a volta à legalidade do Partido Comunista Brasileiro (PCB), filiou-se em 1985 e foi um dos deputados mais atuantes na Assembleia Constituinte. No entanto, após divergências internas no Partidão, fundou o Partido Popular Socialista (PPS), que hoje é o Cidadania.
Freire foi oposição ao governo Lula e, já domiciliado em São Paulo, apoiou candidatos do PSDB. Atualmente é o presidente nacional do Cidadania, que deve formar uma Federação com o PSDB e o MDB.
Garotinho (9 partidos na carreira)
Anthony Garotinho já passou por nove partidos políticos na sua carreira pública. Começou em 1980 no Partido dos Trabalhadores. Três anos depois foi para o PDT, mas manteve a ligação com os petistas. Quando foi governador do Rio de Janeiro, teve Benedita da Silva como vice. Foi para o PSB disputar a eleição presidencial de 2002 e terminou em terceiro lugar. Logo após as eleições migrou para o MDB e permaneceu no partido durante o mandato de sua esposa, Rosinha Garotinho no governo fluminense (2003-2007).
A partir daí começou uma peregrinação de partidos: PR, PRP, Patriota, Pros e, atualmente, está no União Brasil. Todos eles mais ligados à direita, ao contrário do PT, em que Garotinho iniciou a carreira.
Delcídio do Amaral (PSDB, PT e agora PTB)
Delcídio do Amaral começou a carreira política no PSDB, em 1998. No entanto, aproximou-se do PT e filiou-se ao partido em 2001, ao se tornar Secretário Estadual de Infraestrutura do governo de Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul. Com apoio de Lula, foi eleito duas vezes senador da República pelo Estado.
Em 2015, foi escolhido pela ex-presidente Dilma como líder do governo no Senado. No entanto, em 2016, com denúncias de corrupção, assinou um acordo de delação premiada e deixou o PT. Após uma rápida passagem pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), em 2018, acertou seu retorno à política no PTB, sendo anunciado pelo então presidente nacional do partido Roberto Jefferson. O PTB, atualmente, é base de apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Cabo Daciolo (de rival a apoiador de Ciro Gomes)
Cabo Daciolo (PMB) foi rival de Ciro Gomes na disputa presidencial de 2018. Considerado um outsider na eleição, Daciolo foi protagonista de memes e sempre teve uma postura ácida nos debates, com forte pegada religiosa. Considerado um pré-candidato à Presidência em 2022, o militar do Corpo de Bombeiros retirou a candidatura no final de 2021 e anunciou o apoio a Ciro Gomes (PDT).
Eduardo Jorge (Do PT ao PV)
Um dos primeiros filiados do Partido dos Trabalhadores, Eduardo Jorge foi parlamentar pelo partido, a níveis estadual e federal, durante diversas legislaturas entre as décadas de 1980 e 2000. Acumulou cargos nos governos petistas de Luiza Erundina e Marta Suplicy. No entanto, após divergências internas no início do governo Lula, Eduardo Jorge deixou o partido em 2003 e se filiou no mesmo ano ao PV.
No PV, foi candidato à Presidência em 2014. Após ficar em 6° lugar, indicou apoio ao então candidato Aécio Neves (PSDB), em vez de sua antiga companheira de partido, Dilma. Em 2018, saiu como vice na chapa de Marina Silva (REDE). No segundo turno, ao contrário da companheira, declarou voto nulo na disputa entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).
Soninha Francine (do PT ao apoio ao PSDB)
Soninha Francine se filiou ao PT ainda jovem, em 1988. Pelo partido, foi eleita vereadora de São Paulo em 2004. Três anos depois rompeu com a sigla ao anunciar que seria candidata à prefeitura da capital paulista. Foi para o PPS, hoje Cidadania, mas não foi eleita.
Após a tentativa de chegar ao Executivo, alinhou-se com os tucanos e participou ativamente dos governos de Gilberto Kassab (prefeitura), Geraldo Alckmin (governo estadual) e João Doria (prefeitura).
André Janones (do PT a possível adversário de Lula pelo Avante)
Com 37 anos e pela primeira vez em um cargo público, o deputado federal por Minas Gerais, André Janones, já "rodou" em partidos. Começou a militância no PT, em 2003. Saiu do partido em 2012 e foi para o PSC. Na sigla, foi candidato a prefeito de Ituiutaba, mas ficou em terceiro lugar.
Em 2018, autointitulou-se um dos líderes da Greve dos Caminhoneiros. Com o engajamento alcançado, foi eleito parlamentar pelo Avante, partido que rumou naquele ano. Em 2022 se coloca como pré-candidato à Presidência e deve enfrentar Lula nas urnas.
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