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Alckmin com Lula: veja políticos que "viraram casaca" e se uniram a rivais

Ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin durante a cerimônia de sua filiação ao PSB - MATEUS BONOMI/ESTADÃO CONTEÚDO
Ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin durante a cerimônia de sua filiação ao PSB Imagem: MATEUS BONOMI/ESTADÃO CONTEÚDO

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

23/03/2022 16h40Atualizada em 24/03/2022 00h20

A notícia de que Geraldo Alckmin, então no PSDB, negociava para ser vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pegou muitas pessoas de surpresa. Afinal de contas, os dois políticos polarizaram o debate durante anos. Inclusive foram adversários na campanha presidencial de 2006, em que o petista levou a melhor no segundo turno e se reelegeu.

Durante o final da década de 90 e o início da década de 2010, PT e PSDB rivalizaram no cenário político nacional. A nível nacional, os petistas foram derrotados duas vezes pelos tucanos (1994 e 1998). O troco viria nas quatro eleições seguintes, com vitória do PT (2002, 2006, 2010 e 2014). O cenário se modificou com a vitória de Jair Bolsonaro, então no PSL, em 2018.

O ex-tucano filiou-se ao PSB em evento nesta quarta-feira (23), em que teceu elogios ao seu antigo rival, Lula, e fez crítica indireta ao presidente Jair Bolsonaro. Mas essa reviravolta na vida pública não é novidade. Geraldo Alckmin não é o primeiro a "virar a casaca" e a se aliar com antigos adversários. Ao longo da história política brasileira, vários casos foram registrados.

Roberto Requião (do PMDB para o PT)

Lula participa de evento de filiação de Roberto Requião - Reprodução/Twitter/LulaOficial - Reprodução/Twitter/LulaOficial
Roberto Requião, antes MDB, ao lado de Lula em sua filiação pelo PT
Imagem: Reprodução/Twitter/LulaOficial

O ex-governador do Paraná, Roberto Requião, se desfiliou, após 42 anos, do MDB e se filiou ao PT, pelo qual pretende disputar um quarto mandato à frente do governo paranaense.

Requião foi um dos maiores nomes do então PMDB nas últimas décadas, sendo eleito três vezes governador do Paraná, disputando os pleitos contra o PT. Em 2006, foi contra o apoio do partido à reeleição de Lula. Em 2010, chegou a lançar sua pré-candidatura à presidência. Mas, na convenção do partido, ficou decidido que o PMDB ficaria na coligação com o PT na chapa Dilma/Temer, que venceu o pleito daquele ano.

Senador da República, Requião votou contra o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mesmo com o partido sendo favorável à destituição da petista e tendo o vice, Michel Temer, assumindo no lugar de Rousseff.

Dilma Rousseff (do PDT para o PT)

19.mar.2017 - Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff participam da "inauguração popular" da Transposição do São Francisco" em Monteiro, na Paraíba - Divulgação/Ricardo Stuckert - Divulgação/Ricardo Stuckert
A aproximação da ex-presidente Dilma Rousseff com o PT começou apenas em 1998
Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert

No final da Ditadura Militar, quando o bipartidarismo teve fim, a então ex-guerrilheira Dilma Rousseff, ao lado do marido Carlos Araújo, se uniu com Leonel Brizola na intenção de refundar o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). No entanto, o partido ficou na mão da Ivete Vargas, herdeira do ex-presidente Getúlio Vargas. Com isso, Brizola fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

O PDT, apesar de ligado à centro-esquerda, rivalizou com o Partido dos Trabalhadores nas décadas de 80 e 90. No Rio Grande do Sul, base eleitoral de Dilma, os pedetistas enfrentaram grandes disputas contra os petistas, sendo derrotados, por exemplo, nas eleições para prefeito de Porto Alegre em 1988 e 1992, com vitórias de Olívio Dutra e Tarso Genro, respectivamente.

A aproximação com o PT começou na campanha de 1998 para o governo do Rio Grande do Sul. No segundo turno, o PDT apoiou Olívio Dutra, que se sagrou vitorioso. Dilma aceitou o convite e se tornou Secretária de Energia, Minas e Comunicações.

Quatro anos depois, tornou-se Ministra de Minas e Energia do governo Lula e em 2005 foi nomeada Ministra Chefe da Casa-Civil, onde permaneceu até ser eleita Presidenta da República pelo PT, partido ao qual é filiada até hoje.

Moreira Franco (do PDS para o MDB)

12.mai.2017 - O então Presidente da República, Michel Temer, e o ministro Moreira Franco. Ambos foram presos em um desdobramento da Operação Lava Jato - AFP - AFP
O ex-presidente Michel Temer (à esq.) e seu ex-ministro, Moreira Franco (à dir.)
Imagem: AFP

Moreira Franco iniciou sua carreira pelo MDB, na época da Ditadura Militar. No entanto, ao assumir a prefeitura de Niterói, migrou para o PDS (ex-ARENA, e partido de sustentação do Regime Militar). Após a redemocratização, retornou para o PMDB, onde foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1986. Ocupou cargos importantes durante os governos do PT e, na queda da ex-presidente Dilma Rousseff, foi um dos políticos mais próximos de Michel Temer.

Teotônio Vilela (da ARENA para o PMDB)

22.out.2013 - Teotônio Vilela, senador por Alagoas entre 1967 e 1982. Iniciou carreira política na UDN, em 1948. Apoiou o golpe militar de 1964, mas logo passou a fazer oposição a ele, mesmo sendo filiado à Arena. Durante o processo de redemocratização, passou a ser membro do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Morreu em 1983. É pai do atual governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho - Reprodução/TV Senado - Reprodução/TV Senado
Teotônio Vilela: de apoiado pelo Regime Militar a nome forte pela volta da democracia no Brasil
Imagem: Reprodução/TV Senado

Teotônio Vilela foi um udenista (filiado à União Democrática Nacional) histórico em Alagoas. Com o golpe militar, ficou filiado à ARENA e, com o apoio do Regime, foi eleito senador em 1974. No entanto, em meio ao processo de redemocratização iniciado pelo governo de Ernesto Geisel (1974-79), o senador começou a se afastar da ARENA e ser um forte nome a favor da volta da Democracia. Em 1979, filiou-se ao MDB.

Teotônio foi um dos maiores defensores da Anistia Geral e Irrestrita e visitava os presos políticos nos presídios espalhados pelo Brasil.

Marta Suplicy (do PT para o MDB)

Marta Suplicy, pré-candidata à prefeitura de São Paulo pelo Solidariedade -  Karime Xavier/Folhapress -  Karime Xavier/Folhapress
Marta Suplicy foi do PT por anos, mas votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, quando já era do MDB
Imagem: Karime Xavier/Folhapress

Militante histórica do Partido dos Trabalhadores, Marta Suplicy foi prefeita de São Paulo, Deputada Federal, Senadora e Ministra dos governos petistas, até pedir desfiliação do partido em 2015 alegando escândalos de corrupção. Na sequência, ela se filiou ao MDB e votou a favor do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (de quem foi Ministra).

Atualmente está sem partido e é Secretária Municipal de Relações Internacionais de São Paulo. Em entrevistas, destaca a proximidade com Lula e foi sondada a voltar ao PT.

José Sarney (da Arena para o MDB)

José Sarney é senador (PMDB-AP) e foi presidente da República (1985-1990) e do Congresso Federal. - Sérgio Lima 17.dez.2012/Folhapress - Sérgio Lima 17.dez.2012/Folhapress
José Sarney: da Arena para o MDB, ao qual é filiado até hoje
Imagem: Sérgio Lima 17.dez.2012/Folhapress

José Sarney foi o primeiro presidente a assumir o cargo após a Ditadura Militar. Vice na chapa encabeçada por Tancredo Neves (PMDB), Sarney assumiu após o falecimento do político mineiro. No entanto, durante os "anos de chumbo", fez parte da ARENA, e após o fim do bipartidarismo, do PDS, partidos da Ditadura. Foi presidente nacional dos dois partidos e era favorável que o PDS lançasse um candidato que não fosse Paulo Maluf nas Eleições Indiretas de 1985. Como foi voto vencido, desfiliou-se do partido e meses depois foi para o MDB ser vice de Tancredo. Mesmo fora da vida pública desde 2015, Sarney continua filiado ao partido.

Roberto Freire (do MDB para o PCB e depois Cidadania)

4.abr.2017 - Foto de arquivo: Roberto Freire, então ministro da Cultura, discursa em comissão do Senado - Geraldo Magela/Agência Senado - Geraldo Magela/Agência Senado
Roberto Freire foi do MDB para o PCB e depois para o Cidadania
Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Roberto Freire esteve na linha de frente contra a Ditadura Militar. Eleito deputado federal por Pernambuco em 1979, foi um dos principais defensores da Anistia Geral e Irrestrita, ao lado de Teotônio Vilela. Com a volta à legalidade do Partido Comunista Brasileiro (PCB), filiou-se em 1985 e foi um dos deputados mais atuantes na Assembleia Constituinte. No entanto, após divergências internas no Partidão, fundou o Partido Popular Socialista (PPS), que hoje é o Cidadania.

Freire foi oposição ao governo Lula e, já domiciliado em São Paulo, apoiou candidatos do PSDB. Atualmente é o presidente nacional do Cidadania, que deve formar uma Federação com o PSDB e o MDB.

Garotinho (9 partidos na carreira)

O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (c) deixa o presídio em Benfica, zona norte da cidade - WILTON JUNIOR/AE - WILTON JUNIOR/AE
Anthony Garotinho não economizou no "troca-troca" e já foi filiado a 9 partidos
Imagem: WILTON JUNIOR/AE

Anthony Garotinho já passou por nove partidos políticos na sua carreira pública. Começou em 1980 no Partido dos Trabalhadores. Três anos depois foi para o PDT, mas manteve a ligação com os petistas. Quando foi governador do Rio de Janeiro, teve Benedita da Silva como vice. Foi para o PSB disputar a eleição presidencial de 2002 e terminou em terceiro lugar. Logo após as eleições migrou para o MDB e permaneceu no partido durante o mandato de sua esposa, Rosinha Garotinho no governo fluminense (2003-2007).

A partir daí começou uma peregrinação de partidos: PR, PRP, Patriota, Pros e, atualmente, está no União Brasil. Todos eles mais ligados à direita, ao contrário do PT, em que Garotinho iniciou a carreira.

Delcídio do Amaral (PSDB, PT e agora PTB)

Ex-senador Delcídio do Amaral depõe na CCJ do Senado. - Alan Marques/ Folhapress - Alan Marques/ Folhapress
Delcídio do Amaral já passou por PSDB e PT, e hoje está no PTB
Imagem: Alan Marques/ Folhapress

Delcídio do Amaral começou a carreira política no PSDB, em 1998. No entanto, aproximou-se do PT e filiou-se ao partido em 2001, ao se tornar Secretário Estadual de Infraestrutura do governo de Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul. Com apoio de Lula, foi eleito duas vezes senador da República pelo Estado.

Em 2015, foi escolhido pela ex-presidente Dilma como líder do governo no Senado. No entanto, em 2016, com denúncias de corrupção, assinou um acordo de delação premiada e deixou o PT. Após uma rápida passagem pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), em 2018, acertou seu retorno à política no PTB, sendo anunciado pelo então presidente nacional do partido Roberto Jefferson. O PTB, atualmente, é base de apoio do presidente Jair Bolsonaro.

Cabo Daciolo (de rival a apoiador de Ciro Gomes)

Cabo Daciolo (Patriota) e Ciro Gomes (MDB) conversam durante intervalo do debate presidencial - Nelson Antoine/UOL - Nelson Antoine/UOL
Cabo Daciolo disputou eleição com Ciro Gomes, e agora o apoia
Imagem: Nelson Antoine/UOL

Cabo Daciolo (PMB) foi rival de Ciro Gomes na disputa presidencial de 2018. Considerado um outsider na eleição, Daciolo foi protagonista de memes e sempre teve uma postura ácida nos debates, com forte pegada religiosa. Considerado um pré-candidato à Presidência em 2022, o militar do Corpo de Bombeiros retirou a candidatura no final de 2021 e anunciou o apoio a Ciro Gomes (PDT).

Eduardo Jorge (Do PT ao PV)

10.out.2014 - Eduardo Jorge discursa anunciando seu apoio à Aecio Neves no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Eduardo Jorge apoiou Aécio Neves nas eleições de 2014
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Um dos primeiros filiados do Partido dos Trabalhadores, Eduardo Jorge foi parlamentar pelo partido, a níveis estadual e federal, durante diversas legislaturas entre as décadas de 1980 e 2000. Acumulou cargos nos governos petistas de Luiza Erundina e Marta Suplicy. No entanto, após divergências internas no início do governo Lula, Eduardo Jorge deixou o partido em 2003 e se filiou no mesmo ano ao PV.

No PV, foi candidato à Presidência em 2014. Após ficar em 6° lugar, indicou apoio ao então candidato Aécio Neves (PSDB), em vez de sua antiga companheira de partido, Dilma. Em 2018, saiu como vice na chapa de Marina Silva (REDE). No segundo turno, ao contrário da companheira, declarou voto nulo na disputa entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

Soninha Francine (do PT ao apoio ao PSDB)

A secretária de Assistência Social, Soninha Francine, e o prefeito João Dória participam de evento na prefeitura - Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo - Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Soninha Francine em abraço com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB)
Imagem: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Soninha Francine se filiou ao PT ainda jovem, em 1988. Pelo partido, foi eleita vereadora de São Paulo em 2004. Três anos depois rompeu com a sigla ao anunciar que seria candidata à prefeitura da capital paulista. Foi para o PPS, hoje Cidadania, mas não foi eleita.

Após a tentativa de chegar ao Executivo, alinhou-se com os tucanos e participou ativamente dos governos de Gilberto Kassab (prefeitura), Geraldo Alckmin (governo estadual) e João Doria (prefeitura).

André Janones (do PT a possível adversário de Lula pelo Avante)

13.out.2021 - Deputado federal André Janones (Avante-MG), durante sessão na Câmara - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Filiado ao PT no início da militância, hoje André Janones é do Avante e pode disputar eleições contra Lula
Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Com 37 anos e pela primeira vez em um cargo público, o deputado federal por Minas Gerais, André Janones, já "rodou" em partidos. Começou a militância no PT, em 2003. Saiu do partido em 2012 e foi para o PSC. Na sigla, foi candidato a prefeito de Ituiutaba, mas ficou em terceiro lugar.

Em 2018, autointitulou-se um dos líderes da Greve dos Caminhoneiros. Com o engajamento alcançado, foi eleito parlamentar pelo Avante, partido que rumou naquele ano. Em 2022 se coloca como pré-candidato à Presidência e deve enfrentar Lula nas urnas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Eduardo Jorge não foi fundador do PV, partido ao qual se filiou em 2003. O PV foi fundado em 1986.