Pressionado, Doria decide deixar o governo mesmo que desista da Presidência
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), decidiu deixar o cargo mesmo que desista de concorrer à Presidência da República. Pressionada por aliados e, agora, ex-apoiadores, a cúpula da gestão Doria entende que a possibilidade de abandonar a disputa presidencial e se manter no posto deixou o mandato ingovernável e sem qualquer benefício ao tucano, segundo o UOL apurou.
A decisão ocorre em meio a muitos boatos e incertezas sobre a situação política de Doria desde que surgiram as primeiras notícias sobre a desistência de sua candidatura ao Planalto. Oficialmente, o governo estadual não comenta.
Em jantar na noite de ontem (30), Doria comunicou a aliados que pensava em não concorrer mais à presidência e que ficaria no cargo, o que atrapalharia os planos do vice Rodrigo Garcia (PSDB) na sucessão no Palácio dos Bandeirantes. Isso não agradou em nada os partidos MDB e União Brasil, que comporiam a aliança.
À jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Doria disse que a decisão não está tomada. "Estou correndo muito aqui. Mas nem fui, nem voltei. Só para você saber. Só especulação", declarou o tucano. A expectativa é que o anúncio oficial seja feito em um pronunciamento na tarde de hoje.
Doria iria fazer a transição de mandato para Garcia em evento hoje e promover o lançamento informal de sua candidatura ao Planalto. Segundo fontes ouvidas pelo UOL, o clima começou a mudar no fim da tarde de ontem.
Doria passou a se isolar e se reunir apenas com seu núcleo duro de governo e da campanha. A possibilidade de desistir teria virado uma decisão só no meio da madrugada, após desentendimentos com membros do partido.
Pré-candidato do PSDB desde que venceu as prévias, em novembro, Doria era um dos principais articuladores da aliança nacional com MDB e União Brasil por meio de conversas com os diretórios estaduais. O problema é que essas duas legendas também estão intimamente ligadas à candidatura de Garcia ao governo estadual.
O principal incômodo de Garcia não se dá pela desistência de Doria à Presidência, mas pelo fato de decidir seguir no governo. Garcia esperava assumir o cargo. De perfil técnico e desconhecido pelo eleitorado, Garcia pretendia usar a máquina do estado para rodar o interior, como tem feito desde o ano passado, e alavancar sua campanha, que patina entre o quarto e o quinto lugar nas pesquisas.
Quando Doria acena que seguirá com a máquina, mesmo que não concorra a nenhuma vaga ou não fique no PSDB, cria problemas não só para Garcia como para toda a coligação. Lideranças do União Brasil já chamam Garcia, quadro histórico do ex-PFL e do ex-DEM, para voltar ao partido e seguir na corrida.
Sobre Doria, dizem preferir não comentar, mas não indicam apoio algum.
Pressão também aumentou na Alesp
Pressão semelhante ocorre na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), onde as movimentações já começaram antes da abertura de qualquer sessão.
PSOL e PT, apoiadores da candidatura de Fernando Haddad (PT), e bolsonaristas, pró-Tarcísio Freitas (Republicanos), também pré-candidato ao governo paulista, já estão conversando para, caso Doria siga no cargo, ressuscitar um dos mais de dez pedidos de impeachment contra ele.
O governador nunca foi extremamente popular na Alesp. Embora tenha conseguido emplacar dois presidentes tucanos, Cauê Macris, seu atual secretário, e Carlão Pignatari, o governador ia pouco à Casa e sofria uma das oposições mais acirradas dos mais de vinte anos de gestões tucanas.
Segundo fontes da Alesp, ele conseguia segurar as pontas em especial por causa de Garcia, ex-presidente da assembleia, e com passe livre inclusive entre deputados que não apoiavam o governo. Com a revolta de Garcia, a aposta é que a roleta gira e Doria não só perde seu principal articulador no parlamento como ganha um inimigo influente.
Já circula pelos corredores da casa que o vice-governador não só "liberou" seus aliados a baterem no governador como não veria com maus olhos caso ele fosse cassado. A aposta tanto à esquerda quanto à direita é que, sem essa base, Doria seria tirado do cargo sem muitos problemas — ou, no mínimo, teria um fim de gestão ingovernável.
Neste segundo ponto, a confusão levantada na madrugada também fragilizou o secretariado e a equipe no Palácio dos Bandeirantes, sempre tão fiel a ele. Conforme o UOL apurou, quase todos os secretários foram pegos de surpresa com a decisão de Doria.
Até a tarde de ontem, o clima no Palácio dos Bandeirantes era de despedida. Assessores e secretários tratavam abertamente que aquele era o último dia de governo da gestão Doria, fazendo balanço da gestão e tratando sobre projetos futuros.
Agora, eles não sabem se ficarão ou não no governo — ou se querem ou não ficar no governo. Um deles, sempre elogioso ao governador, usou apenas as palavras "espantado" e "envergonhado" para falar do assunto.
Ainda não se sabe se o martelo de Doria sobre a candidatura ao Planalto foi batido. Depois de dizer que sairia, agora acena às pessoas próximas que a decisão ainda está sendo avaliada e deverá ser anunciada no evento desta tarde. De qualquer forma, deverá deixar o governo.
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