'Vive de pijamas', 'covarde': veja as brigas que Doria já arrumou no PSDB
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que vai concorrer ao cargo de presidente da República pelo partido. No entanto, até o pronunciamento, havia a dúvida se ele participaria do pleito. A possibilidade de racha da sigla é apenas mais uma polêmica da curta carreira política do presidenciável.
Doria apareceu no cenário político em 2016. Empresário de sucesso, disputou as prévias do PSDB para ser candidato à prefeitura de São Paulo. Na época, a prévia também teve muita confusão, tal qual as de 2021 para escolher o presidenciável do partido.
Mesmo com as polêmicas, Doria foi escolhido, disputou as eleições e venceu o então prefeito Fernando Haddad (PT). Com um discurso antipetista e agenda liberal na economia, o paulista dava um passo importante na carreira política.
Menos de dois anos depois de assumir a prefeitura, Doria renunciou ao cargo para disputar o governo de São Paulo, em 2018. Naquela ocasião, o então prefeito já manifestava o interesse de ser presidente do Brasil. Ir para o Palácio dos Bandeirantes, então, seria um trampolim para chegar em Brasília.
Durante a eleição, mais polêmica. Doria abandonou o então aliado Geraldo Alckmin, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto e que patinava nas pesquisas, e declarou apoio a Jair Bolsonaro, então no PSL. A dupla, apelidada de Bolsodoria, foi eleita ao final do pleito.
A forma de fazer política, deixando antigos aliados de lado e levando o PSDB mais para a direita, levou o político a colecionar brigas internas no partido ao longo destes anos. Veja algumas:
Prévias de 2016
Em busca de retomar o comando da capital paulista, o PSDB convocou uma prévia para definir o candidato do partido para a eleição municipal de 2016. Três nomes participaram da disputa: João Doria, Andrea Matarazzo e Ricardo Tripoli. No dia da votação, no entanto, uma confusão foi registrada no bairro Tatuapé, na Região Leste da capital.
Apoiadores de Doria e Tripoli saíram no soco após apoiadores do futuro prefeito acusaram militantes de Tripoli de tentarem roubar uma das urnas do bairro. O caso parou na Polícia, os votos da Região foram anulados e Doria venceu as prévias no segundo turno.
BolsoDoria
Talvez o ponto mais alto da carreira política de João Doria tenha sido o pleito de 2018, quando concorreu ao cargo de governador de São Paulo. Na época, o PSDB lançou Geraldo Alckmin, então chefe do Executivo paulista, como candidato à presidência da República.
Doria, no entanto, não apoiou publicamente Alckmin, que foi seu padrinho na disputa pela prefeitura da capital dois anos antes.
Na época, um cartaz chamou a atenção e despertou a ira de correligionários de Alckmin. Nas vésperas do primeiro turno, a campanha de Doria lançou um cartaz com o slogan: "Contagem Regressiva. Faltam 15 dias para você mudar São Paulo".
Alberto Goldman, um dos caciques do PSDB e aliado de Alckmin, reprovou a atitude de Doria. "[Não tem] referência ao candidato a presidente, nem ao partido, depois de 24 anos de nossos governos", disse à imprensa na época.
Depois de muita especulação, Doria assumiu o BolsoDoria no 2º turno, após Alckmin fracassar e ter apenas 5% dos votos.
Treta com Alberto Goldman
Outra polêmica com forte repercussão foi entre João Doria e o ex-governador Alberto Goldman. Em 2017, no início da gestão Doria na prefeitura de São Paulo, Goldman divulgou alguns vídeos nas redes sociais criticando as atitudes tomadas pela equipe do prefeito. O ex-governador alegava que faltava "comprometimento com a cidade" e acusou a administração de dirigir licitações.
A reposta de Doria foi dura. Em vídeo, também publicado nas mídias sociais, o então prefeito atacou o rival.
"Hoje meu recadinho vai para você, Alberto Goldman, que viveu sua vida inteira na sombra de Orestes Quércia e do José Serra. Você é um improdutivo, um fracassado. Você coleciona fracassos na sua vida e agora vive de pijamas na sua casa", afirmou Doria no vídeo. "Viva com a sua mediocridade que fico com o povo", disse.
Logo após a divulgação deste vídeo, Goldman respondeu a Doria, também pelas redes. "Doria publica um vídeo contra mim em tom bastante raivoso, prepotente, arrogante, preconceituoso. Me acusa de ser velho. Sou velho, mas não sou velhaco. Sou leal, tenho dignidade, respeitado e tenho compromisso com meu povo. Nunca usei meu mandato como trampolim para obter outro mandato. Todos que tive foram obtidos ou pelo respeito que eu tenho ou por eleição", disse o ex-governador.
Goldman faleceu em 2019, após um câncer na região cerebral.
Polêmica com Aécio Neves
João Doria também teve o atual deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) como um dos rivais dentro do partido. O paulista foi um dos mais fervorosos defensores da expulsão do mineiro do PSDB em virtude dos escândalos de corrupção que o ex-governador de Minas Gerais é acusado e responde na Justiça.
Depois de fracassar na tentativa de expulsar Aécio, o atual governador de São Paulo partiu para o ataque contra o desafeto. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Doria criticou fortemente o mineiro por ter votado a favor da proposta de voto impresso na Câmara. "Não teve a grandeza porque trabalhou a sua bancada, se é que podemos chamar assim, para votar a favor de Bolsonaro contra a democracia. E na hora do vamos ver, se absteve. Foi um covarde mais uma vez", disparou Doria.
Aécio não perdeu tempo e rebateu as acusações. "De forma oportunista, se ajoelhou aos pés de Bolsonaro implorando apoio, criando o inesquecível Bolsodoria, e tenta a todo custo fazer com que as pessoas se esqueçam disso. Traiu o seu padrinho político, Geraldo Alckmin, da forma mais covarde e humilhante possível, desrespeitando e atropelando a história do partido, para abrir caminho para a sua ambição", declarou o parlamentar em nota oficial.
Indisposição com FHC
Na esteira da tentativa de expulsar Aécio Neves do PSDB, João Doria recebeu críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Pelo Twitter, FHC criticou o governador paulista, sem citá-lo diretamente. "O PSDB tem um estatuto e uma comissão de ética. Há que respeitá-los. Jogar filiados às feras, principalmente quem dele foi presidente, sem esperar decisão da Justiça, é oportunismo sem grandeza. Não redime erros cometidos nem devolve confiança", escreveu o tucano.
Diferente do que fez com outros correligionários, Doria não respondeu à crítica feita por FHC.
Troca de farpas com Eduardo Leite
Na acirrada e polêmica prévia do PSDB para definir o candidato do partido à presidência da República em 2022, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, acusou a campanha de João Doria de comprar voto.
"Não há nenhuma denúncia de tentativa de compra de votos do nosso lado, nenhuma denúncia de pressão política, nenhuma denúncia de que tenhamos exonerado pessoas por não nos apoiar. Do outro lado, nós vemos isso, denúncia de compra de votos, pressões indevidas, suspensão de filiações e demissão de pessoas", disse Leite, à época.
A campanha de Doria, então, passou a divulgar uma série de vídeos nas redes sociais com memes envolvendo Leite. O foco era mostrar o rosto do gaúcho em personagens históricos que perdiam competições para colar a imagem de mau perdedor.
Levou o PSDB mais para a direita
Considerado, historicamente, um partido de centro-esquerda, com acenos ao centro, o PSDB mudou de "cara" nos anos de João Doria na vida política do partido. Após ser eleito prefeito e governador de São Paulo, o tucano alçou o posto de principal nome da legenda.
Na convenção de 2019 em que definiu Bruno Araújo, aliado de Doria, como presidente nacional do PSDB, o atual governador paulista teve um papel de destaque. Conseguiu deixar os velhos tucanos de lado e mudou a configuração ideológica do partido.
"Ele deixa de ser um partido de centro-esquerda para ser um partido de centro, que dialoga com a esquerda e a direita mas se afasta dos extremos tanto de um lado quanto de outro. Será um partido que tem uma proposta liberal de economia, com menos Estado, pró-mercado, pró-desenvolvimento", disse à época, em entrevista à Revista Veja.
Doria, ao longo da carreira política, sempre se declarou como um político de direita. Também sempre teceu críticas contundentes ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.