Topo

Pré-candidata no DF é alvo de transfobia nas redes: 'Mulher de próstata'

Paula Benett é assistente social e pré-candidata trans à Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal - Reprodução/Instagram/@paulabenett_
Paula Benett é assistente social e pré-candidata trans à Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal Imagem: Reprodução/Instagram/@paulabenett_

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/04/2022 09h22Atualizada em 01/04/2022 13h10

A pré-candidata à Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal Paula Benett (PSB) foi vítima de ataques transfóbicos nas redes sociais nesta semana ao compartilhar uma reportagem sobre ela e outras mulheres trans e travestis que irão concorrer a uma vaga na Casa no pleito deste ano.

A matéria da Agência Pública compartilhada por Paula no início desta semana tinha o nome dela e de outras mulheres, como a deputada estadual Erica Malunguinho (Psol-SP), a pré-candidata à deputada federal por Pernambuco Robeyoncé Lima (Psol), a vereadora por São Paulo e pré-candidata à deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) e a também pré-candidata à Câmara e ex-BBB Ariadna Arantes (PSB).

Um perfil no Instagram chamado "WDI Brasil", que se classifica como uma "Campanha pelos Direitos Humanos das Mulheres", comentou a postagem de Paula: "Preenchendo as cotas das mulheres com portadores de próstata. Inclusão pra c4r4lh*!". O perfil que proferiu discursos transfóbicos contra as candidatas tem mais de 6.935 seguidores

Paula — que é ativista trans de direitos humanos, assistente social e gestora pública — respondeu o comentário, classificando-o como "transfóbico", e apontou que o perfil segue um "feminismo retrógrado e excludente".

Lamentável a sua transfobia. A sua página defende um feminismo retrógrado, excludente e anacrônico. Apenas reproduz o mesmo sentimento machista que foi imposto às mulheres por meio de exclusão, invisibilidade e silenciamento. Nós mulheres transexuais e travestis somos parte do gênero feminino que tem uma gama de identidades, inclusive o Estado já reconheceu isso juridicamente e administrativamente. Paula Benett, pré-candidata à Câmara, rebate comentário transfóbico

E acrescentou: "Você age de forma criminosa confundindo liberdade de expressão com liberdade de opressão. Incluir as trans, não significa retirar direitos das mulheres... Por favor, respeite mais, evolua e melhore. Abraço".

Ao denunciar os comentários transfóbicos que sofreu, Paula escreveu na legenda da postagem no Instagram: "A transfobia de cada dia que tenta nos derrubar e silenciar".

Segundo a coluna "Janela Indiscreta", do site Metrópoles, o caso foi denunciado à PCDF (Polícia Civil do Distrito Federal) e seguiu para investigação na Decrin (Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência).

O UOL entrou em contato com a PCDF e a demanda foi encaminhada para a unidade responsável pela apuração. A matéria será atualizada assim que obtivermos retorno.

Outro lado

Em resposta ao UOL, a página "WDI Brasil" afirmou por meio de nota: "Os direitos de meninas e mulheres são baseados no sexo e eles são incompatíveis com o apagamento legal do mesmo. Se não podemos definir o que são meninas e mulheres, não podemos protegê-las; se qualquer um pode reivindicar-se mulher, então os direitos específicos pelos quais lutamos ao longo dos séculos, inclusive pagando com a morte, não existem mais; foram transformados em direitos de todos. Os espaços separados por sexo tornam-se unissex, as cotas na política se tornam unissex, a palavra mulher se torna unissex. Nada mais é nosso. A troca do critério objetivo do sexo por 'gênero' e 'identidade de gênero' nos prejudicou. Fomos redefinidas sem que quiséssemos e sem nem mesmo que tivéssemos direito a voz. Na verdade, nossas vozes foram e são apagadas continuamente, inclusive pela mídia".

"Entendemos que termos como 'transfobia', 'preconceito' e 'discurso de ódio' estão funcionando como uma tática de silenciamento para que a sociedade não reflita sobre o impacto das políticas de 'identidade de gênero', sobre o que muda quando ressignificamos o que são homens e mulheres", acrescentou a "WDI Brasil".

Mais ataques

Na mesma publicação da matéria da Agência Pública no Instagram, Paula também rebateu outro perfil, que afirma seguir a linha do "feminismo radical", que questionou por que as mulheres transexuais e travestis não usam cotas específicas para o grupo em vez de cotas para as mulheres na política.

"Com todo respeito, nenhuma trans quer tomar lugar de uma cis, somos identidades femininas que sofremos por estarmos no gênero feminino que vai além de sexo e genitália, acho errado segregar. Você só está reproduzindo o preconceito e o que sempre ocorreu contra as mulheres e o gênero feminino", afirmou a pré-candidata.

"Na política, não se preocupe, homens trans irão disputar nas vagas de gênero masculino e mulheres transexuais e travestis nas vagas de gênero feminino, ou seja não há prejuízo, e outra: quando falamos de gênero feminino temos que entender que é diverso com várias identidades e especificidades", completou.

A assistente social ainda destacou nos comentários que foi a primeira mulher transexual a ocupar um assento no Conselho da Mulher no Distrito Federal, atuou como servidora na Secretaria da Mulher e "teve o privilégio de trabalhar coletivamente com todas" as colegas.

A pré-candidata também finalizou afirmando que "o tipo de luta excludente que vocês fazem só fortalece o machismo".