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SP: Ex-aliado de Alckmin, novo governador tem perfil técnico e articulador

O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), em evento no Palácio dos Bandeirantes - Governo do Estado de São Paulo
O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), em evento no Palácio dos Bandeirantes Imagem: Governo do Estado de São Paulo

Do UOL, em São Paulo

02/04/2022 04h00

Rodrigo Garcia (PSDB) assumiu o governo de São Paulo na última sexta (1º) depois que João Doria (PSDB) renunciou para concorrer à Presidência da República. Quadro histórico do antigo PFL —partido que transformou-se no DEM e, agora, União Brasil, após fusão com o PSL—, Garcia chegou ao ninho dos tucanos em maio do ano passado de olho no Palácio dos Bandeirantes.

Aliado antigo de Gilberto Kassab (PSD) nos tempos de PFL, Garcia sempre esteve próximo ao PSDB e de Geraldo Alckmin (PSB), de quem foi secretário em três pastas diferentes. No meio tempo, foi deputado estadual por três mandatos e federal por dois, até ser convidado a compor a chapa tucana em 2018.

De perfil técnico e discreto, Garcia era também secretário de governo e um dos principais responsáveis pela articulação de Doria com a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) e outros partidos. À frente do governo, deverá usar a máquina para alavancar a campanha e melhorar seu lugar nas pesquisas —em especial depois do desentendimento com Doria, que ameaçou desistir da corrida ao Planato e continuar nos Bandeirantes.

Nascido no PFL, mas próximo do PSDB

Nascido em Tanabi (SP), a 480 km de São Paulo, Garcia é um quadro histórico dos antigos PFL e DEM, sigla da qual era filiado desde 1994. Pelo partido, foi eleito deputado estadual em 1998, com duas reeleições (2002 e 2006).

Deixou a Alesp para ir à Câmara dos Deputados em 2010. Depois de dois mandatos (2011 a 2018), foi escolhido pela aliança PSDB-DEM para integrar a chapa de Doria ao Palácio dos Bandeirantes.

Garcia, na verdade, sempre esteve próximo do tucanato. Como presidente da Alesp entre 2005 e 2007, era o principal articulador dos governadores Alckmin, ainda no PSDB, José Serra (PSDB) e Claudio Lembo (então no PFL, hoje no PSD) em uma das épocas de maior tranquilidade dos governos paulistas na Casa.

Como deputado federal, uniu-se aos tucanos na campanha a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e tinha perfil mais discreto, trabalhando sempre em bastidores.

Durante seu período na Alesp e na Câmara, licenciou-se do cargo três vezes para compor o Executivo. Foi secretário de Alckmin nas pastas de Desenvolvimento Econômico e Habitação e de Desburocratização da gestão Kassab, ainda no DEM, na Prefeitura de São Paulo.

Geraldo Alckmin, João Doria e Rodrigo Garcia no lançamento da candidatura da chapa ao Palácio dos Bandeirantes, em 2018 - Patricia Stavis/Folhapress - Patricia Stavis/Folhapress
Geraldo Alckmin, João Doria e Rodrigo Garcia no lançamento da candidatura da chapa ao Palácio dos Bandeirantes, em 2018
Imagem: Patricia Stavis/Folhapress

O oposto de Doria

De fala mansa e olhar sereno, Garcia articula as palavras com calma. Sem muita desenvoltura à frente das câmeras, não é afeito a discursos longos, prefere falas objetivas, sem jogadas para a plateia nem muita firula —na direção exata com que o ex-companheiro de Palácio age.

Aliados contam que Garcia sempre foi um homem de bastidores. Nos tempos de Alesp, mesmo como presidente, não procurava ocupar muito a tribuna, preferia correr o estado e participar das articulações políticas. Homem de muitos contatos, esteve envolvido em todas as escolhas de chapa da antiga parceria PSDB-DEM desde o início dos anos 2000.

O mesmo fazia no Palácio dos Bandeirantes. Enquanto Doria era o homem da exposição, com discursos efusivos e vídeos extremamente bem produzidos, Garcia era considerado o homem da ação. Segundo fontes do Palácio, era Garcia quem tocava a máquina na parte mais técnica do governo.

Ele também era o principal articulador da gestão com os prefeitos no interior paulista, ao lado de Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional, e na Alesp. Segundo fontes da assembleia, com passe livre inclusive nos gabinetes de deputados que não apoiavam o governo, Garcia ia pessoalmente ao local para interceder a favor do Executivo.

Doria e Garcia, na quinta-feira (31), após negociações para manutenção das pré-candidaturas ao Planato e aos Bandeirantes, respectivamente - Divulgação/Pablo Jacob - Divulgação/Pablo Jacob
Doria e Garcia, na quinta-feira (31), após negociações para manutenção das pré-candidaturas ao Planato e aos Bandeirantes, respectivamente
Imagem: Divulgação/Pablo Jacob

Briga com Doria e necessidade da máquina

Com olho no Planalto desde que foi eleito governador, em 2018, Garcia foi alçado a vice pensando em ser o sucessor. Para manter o reinado tucano no Palácio dos Bandeirantes —ocupado pelo PSDB desde 1995, com Mário Covas—, foi trazido ao partido por Doria em maio de 2021, com um evento de filiação cheio de lideranças tucanas.

Tudo quase foi por água abaixo quando, na última quarta (30), Doria ameaçou desistir da campanha à presidência e ficar no governo do estado. A suposta decisão foi informada à queima-roupa a Garcia em um encontro na casa do irmão do então governador, o que enfureceu o vice. Garcia prometeu entregar o cargo de secretário e romper com a chapa.

O principal incômodo do então vice não se dava pela desistência de Doria à Presidência, mas pelo fato do colega decidir seguir no governo e não deixá-lo assumir o cargo para tentar alavancar sua candidatura. Até então, ele não tem conseguido superar o quarto lugar nas pesquisas.

Da mesma forma que seu perfil técnico e de bastidores ajuda na eficiência e na articulação do governo, o torna desconhecido pelo eleitorado. Rodando o estado em eventos de tom eleitoral desde o ano passado, Garcia pretende usar a máquina estadual para seguir em inaugurações pelo estado e em parcerias com prefeitos.

Com bons relacionamentos no meio político, o desafio de Garcia será aparecer mais e tentar deixar o discurso mais eloquente, enquanto tenta mostrar os avanços da sua gestão junto a Doria.