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Disputa afunila, e nome da 3ª via fica entre Moro, Doria, Tebet e Leite

João Doria tira selfie com Sergio Moro durante encontro de governadores ocorrido em Brasília, em 2019 - 12.dez.2018 - Renato Costa/Framephoto/Estadão Conteúdo
João Doria tira selfie com Sergio Moro durante encontro de governadores ocorrido em Brasília, em 2019 Imagem: 12.dez.2018 - Renato Costa/Framephoto/Estadão Conteúdo

Leonardo Martins e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

02/04/2022 04h00

Após uma semana de tensão e incertezas envolvendo as movimentações políticas das suas principais figuras, a terceira via começa o mês de abril sem um nome definido para a eleição presidencial. A missão do setor, a partir de agora, não é fácil: conciliar interesses políticos de cada partido envolvido na negociação em torno de um candidato e escolher, enfim, um representante.

PSDB, MDB e União Brasil, que tentam costurar uma aliança, deverão se reunir para definir os critérios de decisão sobre quem se colocará em oposição a Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Palácio do Planalto. Os nomes que se colocam para ocupar o espaço são os de João Doria (PSDB), Sergio Moro (União Brasil), Simone Tebet (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). Ciro Gomes (PDT) , que também pode ser considerado como um nome de terceira via, já tem candidatura consolidada e está fora desse acerto.

As opções já foram mais diversas neste grupo que tentou emplacar o nome dos apresentadores de TV Luciano Huck, que desistiu, por enquanto, de ser político, e José Luiz Datena (PSC). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e o senador Alessandro Vieira (Cidadania), que ganhou notoriedade na CPI da Covid, foram cotados, mas sem sucesso. Ex-ministro da Saúde e desafeto de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (DEM) também figurou na lista.

Há uma luta interna dos tucanos pela liderança. Vencedor das prévias do PSDB para a candidatura ao Palácio do Planalto, Doria, agora ex-governador de São Paulo, convive com a sombra do ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, em uma disputa que o paulista acusa o gaúcho de uma tentativa de golpe, o que desestabiliza a sigla ainda mais.

Derrotado por Doria nas prévias, Leite renunciou ao cargo na última semana almejando ser o representante da terceira via e desbancar o correligionário.

Doria fez um movimento da última quinta-feira (31) para tentar colocar um ponto final no embate — ao menos por enquanto. Ele cogitou desistir da corrida presidencial e permanecer no governo do estado, sem passar o bastão ao vice, Rodrigo Garcia (PSDB), e ameaçando explodir uma costura política construída há três anos.

O objetivo de Doria era incomodar o PSDB e exigir um posicionamento do partido. Conseguiu. O presidente nacional do partido, Bruno Araújo, emitiu uma carta afirmando que era ele o escolhido do partido para o Planalto.

Por ora, o saldo para o ex-prefeito da capital paulista é ter gerado uma tensão ainda maior na sigla porque, conforme explicou Bruno Araújo, presidente nacional da sigla, ontem, a chapa com Doria depende do aval dos outros partidos envolvidos na aliança da terceira via. Araújo, inclusive, validou os movimentos de Eduardo Leite.

Os passos de Moro

O ex-juiz Sergio Moro também se aproximou das negociações pela terceira via. Antes filiado ao Podemos, participava das conversas com os outros candidatos, mas, ao anunciar a filiação ao União Brasil, passa a integrar ativamente o acordo e coloca seu nome na disputa.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública mal assinou a ficha de filiação e já travou uma briga pública com representantes importantes da legenda, especialmente com o prefeito de Salvador, ACM Neto. O União Brasil afirma ter combinado com Moro um projeto estadual para São Paulo, sendo permitida uma candidatura a deputado estadual, federal e, "eventualmente", ao Senado. Não à Presidência.

Moro foi a público dizer que não desistiu de nada e que não será deputado federal. Há setores no partido que não descartam sua candidatura à Presidência. A postura da ala liderada por ACM Neto, que é secretário-geral do partido, no entanto, descarta a possibilidade, em nota divulgada na noite de ontem. "Em caso de insistência em um projeto Nacional, o partido vai impugnar a ficha de filiação de Moro", escreveu o diretório de São Paulo do União Brasil.

Moro também cogita se candidatar ao Senado. Depois da confusão gerada por Doria em São Paulo, o apresentador de TV José Luiz Datena, lançado no início do mês como candidato ao Senado do PSDB e do União Brasil, decidiu romper com a chapa e anunciou filiação ao PSC. Ele deverá apoiar, agora, o ministro Tarcísio Freitas (Republicanos), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo de São Paulo.

Com a vaga em aberto no PSDB para o Senado, Moro também pode concorrer pela aliança com os tucanos, um desejo antigo de Doria, que o convidou para fazer isso pelo PSDB no ano passado.

Simone Tebet também articula seu nome como viável para a disputa presidencial. A senadora ganhou projeção nacional por sua atuação na CPI da Covid. Ela não descarta retirar sua candidatura pela aliança e apoiar outro nome, mas se recusa a ser vice na chapa com outro político.

Negociações

Na semana que vem, em Brasília, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, deve se reunir com Baleia Rossi, presidente do MDB, Luciano Bivar, presidente do União Brasil, e Roberto Freire, presidente do Cidadania, que se juntou em uma federação com o PSDB. A ideia é, justamente, começar as negociações pelo nome da terceira via.

Segundo Araújo, a escolha será definida com base em posições de pesquisas de intenção de votos e pesquisas qualitativas internas, entre outros fatores. "Até jogo de dados, o que for preciso", brinca Araújo.

A data limite para escolha de um nome também deverá ser definida na semana que vem. "Essa candidatura será um conjunto de forças políticas que possam permitir um nome que quebre essa polarização. Teremos semanas de construção", disse Bruno Araújo.

O desafio da terceira via será convencer os eleitores. As quatro pesquisas eleitorais publicadas na última semana indicaram que o melhor desempenho de uma candidatura de terceira via no primeiro turno é inferior a 13% das intenções de votos, considerando a margem de erro. Os pedidos de registro de candidatura devem ser apresentados ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até o dia 5 de julho.