Topo

PSB oficializa nome de Alckmin para vice, e Lula fala em 'recuperar país'

Leonardo Martins e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

08/04/2022 04h00Atualizada em 20/07/2022 10h38

O PSB oficializou hoje pela manhã, por meio de uma carta, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como nome do partido para compor a chapa presidencial do PT ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O documento é assinado por Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB e é endereçado a Lula e à presidente do PT, Gleisi Hoffman. Lula e Alckmin estão reunidos em um hotel, na zona sul de São Paulo, para selar a aliança.

Todas e quaisquer chapas que venham a se formar para disputar a Presidência da República são devedoras para com os brasileiros, em termos desses direitos e expectativas, todos eles concretos, objetivos, palpáveis. Apenas uma, contudo, pode entregar à população o muito que, com toda a legitimidade, ela exige. Temos convicção absoluta de que esta chapa é a que se consolidará com as candidaturas dos companheiros Lula e Geraldo Alckmin.
Carta do PSB ao PT

"O PSB deseja contribuir na tarefa programática inerente à formação de uma frente ampla de forma produtiva e efetiva. Para tanto, vale observar que o partido se mobilizou nos últimos 2 anos, para formular e implementar uma exaustiva e abrangente atualização de suas plataformas políticas", diz a carta, entregue aos presentes no encontro.

Lula e Alckmin em encontro em São Paulo - ALOISIO MAURICIO/ESTADÃO CONTEÚDO - ALOISIO MAURICIO/ESTADÃO CONTEÚDO
8 de abril 2022 - Lula e Alckmin em encontro em São Paulo
Imagem: ALOISIO MAURICIO/ESTADÃO CONTEÚDO

"Talvez a gente possa recuperar esse país"

Lula e Alckmin falaram brevemente. O petista afirmou que sempre teve uma relação "civilizada" com Alckmin quando era presidente e o tucano, governador de São Paulo. Ele também citou que, caso eleito, sua gestão irá conversar com "empresários e o povo trabalhador desse país".

"Talvez ganhar as eleições seja mais fácil do que a tarefa de recuperar esse país. [...] Alckmin, você será recebido como um companheiro pelo nosso querido Partido dos Trabalhadores", completou o ex-presidente, que referendou que o PSB irá participar da elaboração do programa de governo.

Quero dizer que vamos fazer dessa experiência tua, dessa minha experiência, vamos fazer disso um instrumento para que a gente possa recuperar esse país.
Lula, no encontro PT-PSB

Agora, o PT dá sequência às reuniões burocráticas para formalizar a aliança com Alckmin. No próximo dia 14 de abril, a reunião do diretório nacional do PT irá indicar o apoio à chapa de Lula com Alckmin em uma votação dos 97 membros, de forma virtual. Nos dias 4 e 5 de junho, em reunião final, um encontro nacional do PT irá aprovar, finalmente, o nome de Alckmin como vice.

A chapa deve ser anunciada até o fim das convenções partidárias, no final do mês de julho.

Uma reunião na noite de segunda-feira (4) definiu o lançamento da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência em um evento que acontecerá no dia 30 de abril, um sábado, em São Paulo, conforme noticiou a colunista do UOL Carla Araújo.

A ideia é ter um local com boa infraestrutura e segurança para o ato. No momento, petistas apontam que a tendência é que a oficialização da pré-campanha aconteça no centro de convenções do Anhembi, na zona Norte da capital paulista.

Nos bastidores, conforme apurou o UOL, Lula tem centralizado boa parte das decisões partidárias, demonstra aos aliados estar mais "tranquilo" e "cuidadoso" e prevê dar um passo adiante na campanha no mês de abril. Por ora, a preocupação com sua segurança pessoal e o receio de arrumar problemas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) evitam que o ex-presidente coloque a campanha na rua.

A aliança improvável

A aliança entre os dois, até poucos anos atrás impensável, vem se configurando desde o segundo semestre do ano passado. O encontro reúne lideranças petistas e pessebistas e é um dos primeiros atos pré-campanha de Lula.

Insatisfeito com o PSDB, Alckmin, então cotado para mais um mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, já havia decidido sair do partido, que ajudou a fundar. Ele flertava com outros partidos —foi sondado pelo ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, pelo União Brasil e até pelo PDT, de Ciro Gomes— quando começaram as conversas com o PT.

Líder absoluto nas pesquisas, Lula, por sua vez, procurava um vice. Dentro do Partido dos Trabalhadores, a avaliação é que o nome de Alckmin pode trazer, além de um contingente eleitoral, a chancela de frente ampla contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) que o partido pretende empenhar nesta eleição.

A possibilidade de aliança enfrentou uma resistência inicial, em especial entre lideranças e parlamentares do PT-SP —oposição histórica aos quase quatro mandatos de Alckmin no governo paulista. Mas a aproximação foi tomando corpo. A filiação do ex-tucano ao PSB, no mês passado, com a presença da presidente petista Gleisi Hoffmann, fechou o elo.

O ato serve mais como um gesto. Oficialmente, partidos, federações e coligações só podem definir seus candidatos nas convenções partidárias, realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto.

Mas o presidente Bolsonaro, Ciro e outros candidatos da terceira via, como o ex-governador João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB), já começaram suas movimentações. Até o ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) chegou a se lançar pelo Podemos, mas acabou desistindo.

Resolução para os estados

Em alguns estados, PT e PSB nem sempre estiveram em consonância. Hoje, têm interesses distintos e é esperado que este encontro marque a pacificação acerca destas questões.

É o caso de São Paulo, onde o partido fundado pelo ex-governador Miguel Arraes sempre esteve mais próximo do PSDB. França, um dos principais entusiastas da aliança, não só ainda é cotado ao governo do estado como é o principal adversário de Haddad na disputa.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada ontem, o ex-prefeito paulistano tem 29% das intenções de voto, seguido pelo ex-governador, com 20%. No cenário sem França, Haddad cresce para 35%.

França tem vinculado seu nome ao governo desde que perdeu no segundo turno em uma disputa apertada contra Doria em 2018. Em 2020, tentou a prefeitura de São Paulo, mas acabou em terceiro lugar.

Para petistas, com a aliança, França seria o indicado natural ao Senado, onde tem ocupado o segundo lugar, atrás do apresentador José Luís Datena (PSC).

Mas não é só em São Paulo que os dois partidos têm divergências. No Espírito Santo, o PT filiou e lançou a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato contra o governador Renato Casagrande (PSB), o que gerou incômodo no diretório local. No final de março, no entanto, uma reunião regional do PSB em torno da reeleição de Casagrande contou com presença petista.

A expectativa é que, no estado, o conflito seja resolvido, como ocorreu em Pernambuco. Governado pelo PSB desde 2007, os dois partidos chegaram a um consenso no estado de Arraes em torno do deputado Danilo Cabral (PSB-PE).

Para esquentar a pré-campanha

Diante das movimentações intensas dos prováveis concorrentes às eleições presidenciais deste ano, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem debatido — e vem sendo cobrada internamente — para que o petista intensifique sua agenda e apareça ativamente como candidato.

A segurança pessoal de Lula, nas agendas abertas que podem vir, será reforçada. No âmbito pessoal, já houve mudanças. Por receio em torno de sua segurança, o petista foi convencido a se mudar de São Bernardo do Campo, no ABC, e morar na zona central da capital paulista.

Nas próximas semanas, prometem seus aliados, em especial após o anúncio de aliança, as movimentações serão reforçadas."Vamos intensificar ainda mais as andanças para ampliar as alianças e entrar de fato na campanha quando legalmente ela nos permite", afirmou à reportagem Gleisi Hoffman.

Estão presentes na reunião, além de Lula e Alckmin:

  • Gleisi Hoffmann, presidente do PT
  • Paulo Rocha, senador do PT
  • Reginaldo Lopes, deputado federal pelo PT
  • Paulo Teixeira, deputado federal pelo PT
  • José Guimarães, deputado federal pelo PT
  • Aloizio Mercadante, ex-ministro e presidente da Fundação Perdeu Abramo
  • Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT e integrante do núcleo de campanha de Lula
  • Emídio de Souza, deputado estadual pelo PT
  • Paulo Câmara, governador de Pernambuco pelo PSB
  • João Campos, prefeito de Recife pelo PSB
  • Márcio França, ex-governador de São Paulo pelo PSB
  • Danilo Cabral, deputado federal pelo PT e pre-candidato ao governo de Pernambuco
  • Alessandro Molon, deputado federal pelo PSB