'Me chama de companheiro', diz Lula a Alckmin, indicado para ser vice
O ex-presidente Lula (PT) elogiou o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e pediu a ele que o chame de "companheiro" daqui para frente, no encontro que tinha como objetivo selar a aliança para a eleição presidencial entre PT e PSB. "Companheiro" é o termo usado por Lula ao se referir a aliados políticos.
A reunião ocorreu em um hotel da zona sul de São Paulo hoje (8) pela manhã. Uma carta, assinada pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e endereçada a Lula e à presidente do PT, Gleisi Hoffman, oficializou a indicação. Os dois falaram brevemente.
Daqui pra frente, você não pode ser mais tratado como 'ex-governador'. Eu não posso ser mais tratado como 'ex-presidente'. Você me chama de 'companheiro Lula' e eu te chamo de 'companheiro Alckmin'. E fica tudo certo. Eu tenho certeza de que o Partido dos Trabalhadores irá aprovar o seu nome como candidato a vice. Eu, pessoalmente, quero dizer que já fui adversário do Alckmin, já fui adversário do [José] Serra, já fui adversário do FHC. E nunca nos desrespeitamos. Nunca nos deixamos de nos tratar de forma civilizada."
Lula para Alckmin
Agora, o PT dá sequência às reuniões burocráticas para formalizar a aliança com Alckmin:
- No próximo dia 14 de abril, o encontro do diretório nacional do PT irá indicar o apoio à chapa de Lula com Alckmin em uma votação dos 97 membros, de forma virtual.
- Nos dias 4 e 5 de junho, em reunião final, um encontro nacional do PT irá aprovar, finalmente, o nome de Alckmin como vice.
A chapa deve ser anunciada até o fim das convenções partidárias, no fim do mês de julho.
Ontem (7) à noite, uma outra reunião definiu que o lançamento da pré-candidatura de Lula à Presidência será em um evento que acontecerá em 30 de abril, um sábado, em São Paulo, conforme noticiou a colunista do UOL Carla Araújo.
Aliança impensável até pouco tempo atrás
A aliança entre os dois, até poucos anos atrás impensável, vem se configurando desde o segundo semestre do ano passado.
O encontro de hoje reuniu lideranças petistas e pessebistas e é considerado um dos primeiros atos pré-campanha de Lula. O ex-presidente exaltou a experiência dele e de Alckmin.
"Esses dias, respondendo aos jornalistas, eu disse: 'Olha, ninguém tem mais experiência de ser vice como o Alckmin. Ele foi vice do [ex-governador de São Paulo] Mário Covas [1930 - 2001] e o Mário Covas era um governo turrão. E tem dois políticos no Brasil que eu falo: o [Roberto] Requião [PT-PR] e o Covas. Com todo jeito deles, eu gostava da graça deles. E o Alckmin aprendeu a ser vice do Covas, durante seis anos, e foi governador. Vocês sabem que é isso que precisamos para consertar o Brasil: a experiência do Alckmin, a minha experiência, e o compromisso que vamos assumir", afirmou Lula.
Ele também criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) —provável concorrente no pleito de outubro. "Talvez ganhar as eleições será mais fácil do que recuperar este país", disse o petista. "Eu não imaginava que, em tão pouco tempo, pudessem ser destruídas coisas que levamos tanto tempo para construir."
Nos bastidores, conforme apurou o UOL, Lula tem centralizado boa parte das decisões partidárias, demonstra aos aliados estar mais "tranquilo" e "cuidadoso" e prevê dar um passo adiante na campanha no mês de abril.
Por ora, a preocupação com sua segurança pessoal e o receio de arrumar problemas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) evitam que o ex-presidente coloque a campanha na rua.
Mudança de sigla de Alckmin e aproximação com Lula
No ano passado, Alckmin, estava cotado para mais um mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, mas se mostrava insatisfeito com o PSDB e já havia decidido sair do partido que ajudou a fundar. Ele flertava com outras siglas —foi sondado pelo ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, pelo União Brasil e até pelo PDT, de Ciro Gomes— quando começaram as conversas com o PT.
Líder absoluto nas pesquisas, Lula, por sua vez, procurava um vice. Dentro do Partido dos Trabalhadores, a avaliação é que o nome de Alckmin pode trazer, além de um contingente eleitoral, a chancela de frente ampla contra Bolsonaro, que o partido pretende empenhar nesta eleição.
A possibilidade de aliança enfrentou uma resistência inicial, em especial entre lideranças e parlamentares do PT-SP —oposição histórica aos quase quatro mandatos de Alckmin no governo paulista.
Mas a aproximação foi tomando corpo. A filiação do ex-tucano ao PSB, no mês passado, com a presença da presidente petista Gleisi Hoffmann, fechou o elo.
O ato serve mais como um gesto rumo à eleição presidencial. Oficialmente, partidos, federações e coligações só podem definir seus candidatos nas convenções, realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto.
Mas o presidente Bolsonaro, Ciro e outros candidatos da terceira via de centro e de direita, como o ex-governador João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB), já começaram as movimentações. O ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) chegou a se lançar pelo Podemos, mas acabou desistindo.
Resolução para os estados
Em alguns estados, PT e PSB nem sempre estiveram em consonância. O encontro de hoje deve marcar a pacificação em torno destas questões.
É o caso de São Paulo, onde a sigla fundada pelo ex-governador Miguel Arraes sempre esteve mais próximo do PSDB. França, um dos principais entusiastas da aliança, não só ainda é cotado ao governo do estado como é o principal adversário de Haddad na disputa.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada ontem, o ex-prefeito paulistano tem 29% das intenções de voto, seguido pelo ex-governador, com 20%. No cenário sem França, Haddad cresce para 35%.
França tem vinculado seu nome ao governo desde que perdeu no segundo turno em uma disputa apertada contra Doria em 2018. Em 2020, tentou a Prefeitura de São Paulo, mas acabou em terceiro lugar.
Para petistas, com a aliança, França seria o indicado natural ao Senado —ele tem ocupado o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do apresentador José Luís Datena (PSC).
No Espírito Santo, o PT filiou e lançou a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato contra o governador Renato Casagrande (PSB), o que gerou incômodo no diretório local. No fim de março, no entanto, uma reunião regional do PSB em torno da reeleição de Casagrande contou com presença petista.
A expectativa é que, no estado, o conflito seja resolvido, como ocorreu em Pernambuco. Governado pelo PSB desde 2007, os dois partidos chegaram a um consenso no estado de Arraes em torno do deputado Danilo Cabral (PSB-PE).
Para esquentar a pré-campanha
Diante das movimentações intensas dos prováveis concorrentes às eleições presidenciais deste ano, a equipe de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem debatido —e vem sendo cobrada internamente— para que o petista intensifique sua agenda e apareça ativamente como candidato.
A segurança pessoal de Lula, nas agendas abertas que podem vir, será reforçada. No âmbito pessoal, já houve mudanças. Por receio em torno de sua segurança, o petista foi convencido a se mudar de São Bernardo do Campo, no ABC, e morar na zona central da capital paulista.
Nas próximas semanas, prometem seus aliados, em especial após o anúncio de aliança, as movimentações serão reforçadas."Vamos intensificar ainda mais as andanças para ampliar as alianças e entrar de fato na campanha quando legalmente ela nos permite", afirmou à reportagem Gleisi Hoffman.
Estiveram presentes na reunião, além de Lula e Alckmin:
- Gleisi Hoffmann, presidente do PT
- Paulo Rocha, senador do PT
- Reginaldo Lopes, deputado federal pelo PT
- Paulo Teixeira, deputado federal pelo PT
- José Guimarães, deputado federal pelo PT
- Aloizio Mercadante, ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo
- Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT e integrante do núcleo de campanha de Lula
- Emídio de Souza, deputado estadual pelo PT
- Paulo Câmara, governador de Pernambuco pelo PSB
- João Campos, prefeito de Recife pelo PSB
- Márcio França, ex-governador de São Paulo pelo PSB
- Danilo Cabral, deputado federal pelo PSB e pre-candidato ao governo de Pernambuco
- Alessandro Molon, deputado federal pelo PSB
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