Cúpula do PT aprova coligação com PSB e indicação de Alckmin a vice de Lula
O diretório nacional do PT aprovou hoje a coligação com o PSB e a indicação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) a vice na chapa presidencial do ex-presidente Lula (PT). Agora, o assunto deverá ser levado ao encontro nacional com todo o partido, em junho.
Em nota divulgada após a votação, por volta das 17h20, o partido manteve o tom já presente no evento com o PSB na semana passada de que as eleições deste ano serão "uma disputa entre democracia e fascismo". Além da aliança, também foi aprovada a federação com o PCdoB e PV.
A reunião nacional era considerada formalidade dentro do partido. No encontro, realizado virtualmente desde as 9h30, a aprovação teve 68 votos a favor e 16 contra (81% dos presentes). Apesar da pequena resistência anterior de parcela do PT paulista ao nome de Alckmin, a indicação do ex-tucano já era dada como certa. Participaram 84 dos 93 votantes e não houve nenhuma abstenção.
Desenhada desde o segundo semestre de 2021, a indicação do ex-governador e ex-adversário de Lula nas eleições foi entregue oficialmente pelo diretório nacional do PSB em um evento em São Paulo na última quinta (8) com a presença dos dois.
"A coligação nacional com o PSB, que apresentou formalmente o nome do ex-governador Geraldo Alckmin para compor a chapa como candidato a vice-presidente de Lula, será importante passo na direção almejada. Confirmará nossa disposição de, no governo, implementar um programa de reconstrução e transformação do Brasil, ampliando nossa base social", diz a nota do diretório, enviada à imprensa.
A votação é apenas a chancela política de um processo burocrático partidário cheio de etapas. Com a aprovação, as duas decisões são levadas ao encontro nacional, no primeiro final de semana de junho, com lideranças e filiados, que deverá referendar os dois itens, para, então, ser anunciada na convenção nacional.
Apesar de todo o processo interno, oficialmente, partidos, federações e coligações só podem definir e apresentar seus candidatos nas convenções, realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto, de acordo com o calendário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Federação com PCdoB e PV
Outro item da reunião foi a aprovação do estatuto e da federação com o PV e o PCdoB, aprovada no fim de março. O próprio PSB já chegou a flertar com a composição, mas, por causa das mesmas questões ainda não resolvidas em certos estados, como São Paulo e Espírito Santo, decidiu ficar de fora e só compor a chapa. Agora, Lula diz que Alckmin vai participar da montagem do plano de governo.
A aliança improvável
A aliança entre Lula e Alckmin, até poucos anos atrás improvável, vem se configurando desde o segundo semestre do ano passado.
Insatisfeito com o PSDB, Alckmin, então cotado para mais um mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, já havia decidido sair do partido, que ajudou a fundar. Ele flertava com outros partidos —foi sondado pelo ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, pelo União Brasil e até pelo PDT, de Ciro Gomes— quando começaram as conversas com o PT.
Líder absoluto nas pesquisas, Lula, por sua vez, procurava um vice. Dentro do Partido dos Trabalhadores, a avaliação é que o nome de Alckmin pode trazer, além de um contingente eleitoral, alimenta o discurso de frente ampla contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) que o partido pretende empenhar nesta eleição.
A possibilidade de aliança enfrentou uma resistência inicial, em especial entre lideranças e parlamentares do PT-SP —oposição histórica aos quase quatro mandatos de Alckmin no governo paulista. Mas a aproximação foi tomando corpo. A filiação do ex-tucano ao PSB, no mês passado, com a presença da presidente petista Gleisi Hoffmann, fechou o elo.
Articulações nacionais
Enquanto a parte burocrática é resolvida pelo partido, Lula já tem se movimentado para garantir apoios pelo país. Além dos três partidos fechados por federação e aliança, o PT espera ainda o apoio formal do PSOL e da Rede nos palanques nacionais — o que ainda precisa ser decidido nas convenções.
Anteontem, Lula, que está em Brasília nesta semana, participou de um jantar na casa do ex-senador Eunicio Oliveira (MDB), com a presença de sete senadores de diferentes partidos — antes se encontrou com o ex-presidente José Sarney (MDB).
Entre as lideranças presentes no jantar, estavam Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Omar Aziz (PSD-AM). Um dos pontos de discussão é formação de palanques regionais fortes mesmo sem ter o apoio formal ou nacional dos partidos, como é caso do MDB e do PSD.
Resolução para os estados
Apesar da coligação certa, PT e PSB ainda não estão em consonância em alguns estados. É o caso de São Paulo, onde o partido fundado pelo ex-governador pernambucano Miguel Arraes sempre esteve mais próximo do PSDB. O ex-governador Márcio França (PSB), um dos principais entusiastas da aliança, não só ainda é cotado ao governo do estado como é o principal adversário do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) na disputa.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta passada (6), o ex-prefeito paulistano tem 29% das intenções de voto, seguido pelo ex-governador, com 20%. No cenário sem França, Haddad cresce para 35%.
França tem vinculado seu nome ao governo desde que perdeu no segundo turno em uma disputa apertada contra Doria em 2018. Em 2020, tentou a Prefeitura de São Paulo, mas acabou em terceiro lugar.
Para petistas, com a aliança, França seria o indicado natural ao Senado, onde tem ocupado o segundo lugar nas pesquisas, atrás do apresentador José Luís Datena (PSC). Ele nega e diz que não só se mantém candidato ao governo como deverá dividir os apoios de Lula e Alckmin com Haddad até que os partidos cheguem a uma decisão.
Há divergências ainda no Espírito Santo, onde o PT filiou e lançou a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato contra o governador Renato Casagrande (PSB), o que gerou incômodo no diretório local. No final de março, no entanto, uma reunião regional do PSB em torno da reeleição de Casagrande contou com presença petista.
A expectativa é que, no estado, o conflito seja resolvido, como ocorreu em Pernambuco. Governado pelo PSB desde 2007, os dois partidos chegaram a um consenso em torno do deputado Danilo Cabral (PSB-PE).
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