'Agenda positiva' de Bolsonaro na eleição inclui projetos de antecessores
A quatro meses do início do horário eleitoral gratuito, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que continua a remar sem um marqueteiro oficial, tem buscado colocar sob teste alguns temas na tentativa de criar uma 'agenda positiva' —com feitos e realizações que possam ser associados à imagem do governo.
Em discursos com clima de pré-campanha, o político recorre até a projetos iniciados em governos anteriores, como é o caso da renegociação de dívidas do Fies e das obras de transposição do São Francisco, marcas da gestão do PT. A estratégia vem sendo adotada especialmente como forma de atrair votos no Nordeste.
Entra na lista ainda a implementação do Pix, sistema de pagamento e transferência instantânea em vigor desde novembro de 2020. O UOL procurou o PL para esclarecer sobre o uso desses programas, mas não obteve retorno (veja abaixo). Entre outros assuntos, propostas de redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e a criação do auxílio emergencial durante a pandemia da covid-19 também surgem como ativos eleitorais na tentativa de se reeleger.
Bolsonaro tem recebido dicas de aliados, dentro e fora do PL, para jogar com a opinião pública e elencar os feitos de sua gestão que possam ter eventual impacto direto nas condições socioeconômicas da população. Paralelamente, os resultados da repercussão de cada assunto estão sendo monitorados.
Com o apoio dos filhos, cabe ao próprio chefe da administração federal formular as suas táticas de marketing —ele rejeita a ideia de ter um marqueteiro no dia a dia. Isso só deve ocorrer à medida que começarem as gravações do horário eleitoral na TV —por sugestão do cacique do PL, Valdemar Costa Neto, a campanha deve contar com a colaboração do publicitário Duda Lima.
Aliados mobilizados na pré-campanha avaliam que a estratégia bolsonarista seria chegar à etapa decisiva da eleição (no começo do segundo semestre) em condições de rebater a retórica da propaganda do principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em suas peças publicitárias, o petista tem buscado relembrar marcos da gestão do partido nos anos em que comandou o país.
Mudança de paradigma
Com o Pix, por exemplo, o presidente tem sustentado a ideia de que trabalhadores informais, os "invisíveis", viraram "microempresários". Isso porque a plataforma permite transações de compra e venda diretamente entre o pagador e o destinatário final, sem intermediação de uma instituição financeira.
Já a redução do IPI em até 25%, publicada no Diário Oficial em fevereiro desse ano, permitiria à população uma economia "na ponta da linha" —isto é, no consumo cíclico em supermercados, lojas e afins. O governo avaliava um novo corte, para que a redução chegue a 33%, mas a decisão ainda não foi tomada. Nos bastidores do Planalto há o entendimento de que as estratégias executadas pelo presidente se mostraram bem-sucedidas, pelo desempenho nas pesquisas. De acordo com o Agregador de pesquisas UOL, Bolsonaro vem diminuindo a distância de Lula nas projeções. Na quinta-feira (14), era de 8 pontos percentuais, contra 14 um mês antes.
Bolsonaro tende a crescer, diz especialista
O cientista político André Rosa entende que há espaço de crescimento para Bolsonaro à medida que assuntos relacionados à pandemia da covid-19 vão ficando para trás. Segundo ele, o avanço do calendário eleitoral acaba amortecendo as críticas decorrentes da criticada atuação do governo federal durante a crise sanitária, a exemplo da demora para compra de vacinas, insistência em medicamentos sem eficácia, entre outros pontos.
"No início havia um descontentamento em relação à pandemia, na questão das vacinas etc. Agora, com boa parte da população vacinada, a tendência é que os eleitores olhem para o governo com menos rejeição e comecem a identificar pautas que cativam", entende o pesquisador em entrevista ao UOL.
"É nesse sentido que há espaço para falar sobre Pix, sobre a abertura comercial com outros países e outros temas. Eu vejo um crescimento natural para ele [Bolsonaro], pois quando saíram as primeiras pesquisas a pandemia ainda estava muito latente. (...) Com essas outras pautas, o Bolsonaro tende a alavancar a sua campanha."
Declarações
Na viagem a Passo Fundo (RS), na semana passado, Bolsonaro usou o palanque na cidade para colocar a estratégia em prática. Em uma só tacada, ele exaltou a criação do auxílio emergencial e ainda celebrou a criação do Pix, fomentando a ideia de que o sistema financeiro seria responsável por tirar dinheiro de banqueiros em benefício da população.
"Demos aos mais necessitados o auxílio emergencial, sem o qual passariam sérias dificuldades. Mais coisas fizemos também. Quando descobrimos que tínhamos em torno de 40 milhões de invisíveis no Brasil, criamos o Pix. Hoje mais de 100 milhões de brasileiros usam o Pix. E só no corrente ano os banqueiros deixarão de ganhar do povo em torno de R$ 20 bilhões. É dinheiro que fica com o povo brasileiro."
Já no discurso realizado em evento do Banco do Brasil, na última quinta-feira (7), Bolsonaro cogitou a possibilidade de que instituições financeiras estejam insatisfeitas com o funcionamento do Pix. E ainda fez uma sugestão: "Procurem outra maneira de buscar manter a rentabilidade da agência".
"Estava discutindo com o Fausto [de Andrade Ribeiro, presidente do Banco do Brasil], alguns do nosso lado, né... E o Pix, gostaram [risos]? Eu acho que não gostaram muito, não... Mas procurem outra maneira de buscar manter a rentabilidade da sua agência. Mas foi algo fantástico para 38 milhões de invisíveis no Brasil que nunca haviam entrado em uma agência bancária e que viviam da informalidade. E foram descobertos por ocasião da pandemia."
A reportagem do UOL enviou ao PL questionamentos sobre as estratégias de Bolsonaro e a participação do partido na construção da pré-candidatura. Não houve resposta até a publicação deste texto, mas o espaço segue aberto para posicionamento.
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