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Bolsonaro 'truca' Zema com candidato próprio, mas esbarra em rejeição em MG

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de MG Romeu Zema (Novo) - Reprodução/João Godinho/O Tempo/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de MG Romeu Zema (Novo) Imagem: Reprodução/João Godinho/O Tempo/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

22/04/2022 04h00

As pesquisas eleitorais em Minas Gerais indicam que o governador do estado, Romeu Zema (Novo), pode ser reeleito ainda no primeiro turno. A sua popularidade e o receio de entrar num fogo cruzado em uma eleição presidencial polarizada indicam que a estratégia será diferente da utilizada há quatro anos. Agora, Zema prefere deixar o presidente Jair Bolsonaro (PL) em "banho-maria" a se aliar a ele como fez em 2018.

Em 1º de abril, último dia de janela partidária, o senador Carlos Viana trocou o MDB pelo PL de Bolsonaro e anunciou a pré-candidatura ao governo de MG. Ao jornal "Estado de Minas", Viana disse que decidiu sair do MDB, partido no qual se encontrava há apenas três meses, por receio de que a sigla formasse uma aliança com o Novo em torno da reeleição de Zema.

No entanto, deputados mineiros ouvidos pela reportagem afirmam que a pré-candidatura de Viana é uma resposta de Bolsonaro à falta de um apoio público explícito de Zema.

O presidente, segundo interlocutores, teria dado a última semana de janela partidária como prazo final para que Zema confirmasse uma aliança entre os dois no estado. Caso não atendesse ao ultimato, lançaria um nome próprio para não perder o palanque em Minas.

Oficialmente, a justificativa do governador é a de que o Novo já tem um presidenciável: o cientista político Luiz Felipe D'Ávila. Segundo o agregador de pesquisas do UOL, D'Ávila tem apenas 0,2% das intenções de voto até o momento, abaixo de nanicos como José Maria Eymael (DC), com 0,9%, e Vera Lúcia (PSTU), com 0,3%.

Na prática, aliados de Zema não enxergam motivo para que ele apoie Bolsonaro abertamente. Os motivos incluem a popularidade do governador, a rejeição do presidente no estado e o crescimento de Alexandre Kalil (PSD) nas pesquisas quando associado ao ex-presidente Lula (PT).

Zema x Kalil

De acordo com o levantamento eleitoral do Instituto Ver, publicado nesta terça-feira (19), Zema pode ser reeleito no primeiro turno com 44% dos votos. Em segundo lugar aparece Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte, com 22%. Viana, em terceiro, tem apenas 5% da preferência dos eleitores.

Na pesquisa, a primeira realizada após o anúncio de que Viana seria o pré-candidato do PL em MG, a diferença entre Zema e Kalil é apertada quando o ex-prefeito de BH aparece apoiado por Lula: Kalil tem 33% e Zema, 32%.

O vice de Kalil na chapa é o deputado estadual Agostinho Patrus (PV), em composição que foi intermediada pelo presidente do Senado, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O PV, partido de Patrus, integra a federação "Brasil da Esperança", formada junto do PT e do PCdoB.

Viana, quando apontado explicitamente como o candidato de Bolsonaro, atinge 13% das intenções de voto. Especialistas consultados pelo UOL pontuam que ele é desconhecido pelo eleitor mineiro. O senador foi uma indicação do deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG), ex-ministro do Turismo de Bolsonaro.

"Em 2022, Minas aponta um cenário bem tradicional, de escolher lideranças que estão polarizando nacionalmente ou no estado. Essa é a dificuldade do Carlos Viana, que tenta entrar como novidade, apoiado pelo Bolsonaro, mas em terreno já ocupado por lideranças nesse momento", avalia Malco Camargos, diretor do Instituto Ver e professor da PUC-MG.

Para Camargos, "Bolsonaro tem mais a ganhar com o Zema do que o Zema com ele". A pesquisa indica que 58% dos eleitores de MG reprovam o governo Bolsonaro, enquanto 62% disseram que não votariam no atual presidente de jeito nenhum.

Já o governo Zema, ainda de acordo com o levantamento, tem aprovação de 65% dos entrevistados.

"Um candidato aliado ao Bolsonaro traz junto a má avaliação do presidente", observa Cristiano Rodrigues, professor de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Espelho do país, MG tem lógica própria

Minas Gerais é parada estratégica nas campanhas presidenciais: desde 1989 nenhum presidente perdeu a eleição no estado.

Minas, ''estado-síntese"

Além de ter o segundo maior colégio eleitoral do país, com mais de 15 milhões de eleitores segundo dados de 2020 do TSE (atrás apenas de São Paulo, com 33 milhões), o estado apresenta muitas diferenças regionais.

É um estado que reflete quase todas as regiões. É como se fosse um laboratório das regiões brasileiras."
Cristiano Rodrigues, professor da UFMG

Os especialistas traçam os perfis dos eleitores mineiros de acordo com as divisas. Ao norte, Minas faz divisa com a Bahia; no sul, com São Paulo. Já no Triângulo Mineiro, próximo de Goiás, "há um padrão mais parecido com o que se encontra no Centro-Oeste, ligado ao agronegócio", diz Rodrigues. Minas também tem divisas com Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul.

Mapa MG -  -

O "estado-síntese", como descrito por Camargos, é apontado como um dos principais fatores da derrota de Aécio Neves (PSDB) em 2014. Ex-governador de MG, ele perdeu no próprio estado para Dilma Rousseff (PT) naquele ano, um reflexo que ocorreu, também, a nível nacional.

"A tradição mineira é de lógica própria. Aqui tivemos Lulécio [junção de Lula e Aécio] e Dilmasia [junção de Dilma e Antônio Anastasia], no qual o eleitor votou numa direção na eleição nacional e em outra na estadual, que é exatamente o que ocorre no estado nesse momento: Lula lidera e Zema lidera, não há um vínculo direto", acrescenta Camargos.

A "lógica própria" de Minas, inclusive, coloca o PL de Bolsonaro no mesmo bloco do PT na ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais); ambos os partidos fazem parte da oposição ao governo Zema. Durante a janela partidária, o PL ganhou sete novos deputados — incluindo bolsonaristas como Bruno Engler, ex-candidato à Prefeitura de BH.

A tendência, segundo apurou a reportagem, é que o PL deixe a coalizão, algo que já foi pleiteado publicamente pelos deputados do partido.