Topo

Entre polêmicas, Leite mostra pesquisa à frente de Doria, mas nega disputa

Os ex-governadores Eduardo Leite e João Doria - Divulgação
Os ex-governadores Eduardo Leite e João Doria Imagem: Divulgação

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

22/04/2022 18h10

Em aceno cruzado, o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) reafirmou hoje, em carta e nas redes sociais, que não é pré-candidato à presidência ao mesmo tempo em que mostrou seu nome à frente do ex-govenador paulista João Doria (PSDB), pré-candidato do partido, na pesquisa Exame/Ideia, divulgada ontem.

Na carta de hoje, Leite afirma compromisso com a candidatura de Doria e diz que apoia que o PSDB seja a cabeça da aliança na chamada 3ª via de centro-direita. Em carta-resposta divulgada pouco depois, o paulista diz ver o gesto de Leite "com otimismo".

Este é mais um capítulo da duradoura briga no ninho tucano pela candidatura ao Planalto. Desde que renunciou ao governo gaúcho e se colocou "à disposição do Brasil e do partido", Leite tem sido cotado como presidenciável, embora o nome oficial do PSDB seja Doria, vencedor das prévias —o que aumenta o racha, apesar do aparente tom de tranquilidade.

Nas últimas semanas, Leite tem rodado o país junto ao deputado Aécio Neves (PSDB-MG), desafeto de Doria e principal fiador de uma possível candidatura, e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e se encontrado com lideranças de outras siglas.

Oficialmente, ele tem falado que não é pré-candidato —mensagem repetida em publicação nas redes sociais e em carta enviada à imprensa. A publicação no Twitter, no entanto, passava também outra mensagem.

Sem citar Doria, ele mostra os dois cenários da pesquisa Ideia, em que o paulista aparece com 3% e ele, com 4%, quando os nomes são trocados, e agradece "aos brasileiros que nos enxergam como uma alternativa à polarização".

Horas depois, divulgou à imprensa, por meio de assessoria, uma carta em que reafirma que o PSDB deve ter candidato e que este nome seria Doria.

"O PSDB deve ter candidato a presidente e liderar o centro democrático. Hoje este nome é João Doria, por decisão dele e das prévias - das quais nunca se buscou tirar legitimidade. Qualquer caminho diferente dependeria de entendimento com o próprio candidato escolhido", diz o texto.

Leite diz ainda ter conversado com Doria, que disse não abrir mão de ser o candidato. "Ele tem este direito e esta legitimidade, vencedor das prévias que foi. E ele ouviu de mim que não serei eu que criarei entrave de qualquer natureza", completa.

A resposta pública de Doria veio pouco depois. Ele diz ver a demonstração de Leite, a quem chamou de " expressiva liderança do partido", com "otimismo".

"O gesto de reconhecimento de Eduardo, do resultado das prévias e pela candidatura única do PSDB para a presidência da república é prova de coerência e bom senso. Finalmente, foram superadas todas as divergências internas, corroborando com o resultado e a legitimidade das prévias que mobilizaram mais de 44 mil eleitores tucanos. É um gesto honrado, democrático e elogiável", diz Doria.

Apesar da troca de afagos entre ambos, a movimentação de Leite é vista com desconfiança pelo círculo paulista. Doria, sempre tão atuante, tem ficado mais calado nas últimas semanas. O jogo tem sido jogado nos bastidores.

Tanto Doria quanto o grupo guiado por Aécio trabalham para conquistar possíveis apoios dos outros partidos da aliança entre a federação PSDB-Cidadania, MDB e União Brasil, que também tem como postulantes ao Planalto, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o deputado Luciano Bivar (União Brasil-PE).

Aécio tem dado entrevistas em que defende o nome de Leite, mas, segundo fontes ouvidas pelo UOL, a principal motivação do grupo seria, na verdade, tentar fazer com que o partido não tivesse um candidato principal à presidência - e o fundo eleitoral fosse repartido com mais fartura sem o gasto nacional.

Este é um dos pontos em que a carta de Leite se destaca. Embora já tenha dito que não seria vice, nos bastidores da aliança uma das ideias postas é que o PSDB abrisse mão da candidatura para apoiar Tebet. Dessa forma, não lançaria Doria, mas também não desrespeitaria suas prévias.

Este foi um dos principais motivos do rompimento entre o PSDB-SP e a campanha de Doria com o presidente nacional do partido, Bruno Araújo. Na avaliação da campanha em São Paulo, o ex-deputado pernambucano, que já havia brigado com o paulista e voltou a se aproximar no último ano, não só estaria sendo conivente com a campanha independente de Leite como seria simpático à saída de Doria do pleito.

Em mais uma briga pública, Araújo, que era o coordenador-geral da campanha, foi trocado pelo ex-secretário Marco Vinholi, presidente do PSDB-SP e braço-direito de Doria, e respondeu com ironia em seu Twitter: "Ufa!".

Entre os tucanos, está dado que, para a cúpula nacional, é mais importante manter o governo paulista sob o comando do PSDB, onde está desde 1995, com a candidatura do governador Rodrigo Garcia (PSDB), do que apostar em presidenciáveis que não passam dos 5%.