Lula ainda patina no Telegram, reduto digital de Bolsonaro
A pré-campanha do ex-presidente Lula (PT) ainda não conseguiu deslanchar em um dos principais meios de transmissão de conteúdo e de conversa com eleitores hoje: as redes sociais. O petista patina em especial no Telegram, reduto digital do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Apesar de números robustos, os canais oficiais do petista nas principais plataformas digitais têm menos de um terço dos seguidores do que os do atual presidente, seu principal concorrente ao Planalto.
A comunicação tem sido um dos focos da campanha lulista neste ano. A avaliação dentro do PT, já feita publicamente em uma espécie de mea culpa, é que o partido errou em especial nos meios digitais durante as eleições de 2018, quando Fernando Haddad (PT) foi derrotado.
Neste ano, o partido dedicou um andar inteiro do seu prédio em Brasília para operação multimídia, com foco especial em comunicação digital. O próprio ex-presidente Lula, que não é visto publicamente com smartphones, tem feito mais postagens, publicado fotos, sido mais aberto nas redes e se habituado aos meios digitais.
Apesar do empenho, a pouco mais de cinco meses do primeiro turno das eleições, o petista tem, ao todo, 13 milhões de seguidores, enquanto os de Bolsonaro têm 46,6 milhões. O cálculo leva em consideração apenas canais oficiais e verificados.
Em alguns canais, a diferença é maior. No YouTube, o canal de Bolsonaro tem 3,65 milhões de assinantes enquanto o petista tem apenas 412 mil.
No Telegram, plataforma mais livre e usada por grupos conservadores e de direita no mundo inteiro, o canal oficial de Bolsonaro tem 1,34 milhão de acompanhantes enquanto o de Lula tem apenas 63 mil. Ou seja, o atual presidente tem 21 vezes mais seguidores.
Está dado entre petistas que é preciso melhorar essa presença. O desconforto tem sido sentido inclusive por apoiadores de Lula e pessoas próximas à campanha, conforme revelou o colunista do UOL Alberto Bombig. Pesquisadores da área concordam.
As plataformas moldam, ajudam a compor a percepção que temos da realidade, inclusive politicamente. Elas ocupam papel preponderante nas nossas escolhas, na nossa vida. Estar mais presente tem um ganho econômico e político muito grande. O fato de que a candidatura do atual presidente é mais falada nas diferentes plataformas obviamente aumenta a visibilidade dessa candidatura no meio.
Leonardo Nascimento, coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA
"Estamos falando de multidão. Apesar de ser digital, é massa. Então é estatístico: quanto mais seguidores, mais prolifera. É o processo de ir espalhando, é mais do que o microgerenciamento pago", afirma Letícia Cesarino, antropóloga da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) que pesquisa uso político do Telegram.
A questão Telegram
O alcance político do Telegram pode não ser tão grande no Brasil —segundo uma pesquisa do Instituto FSB divulgada no fim de março, apenas 7% dos brasileiros dizem usar a ferramenta para se informar sobre política —, mas ele tem papel central na difusão do material político e memético na internet, dizem os especialistas.
Um dos canais preferidos entre bolsonaristas e apoiadores da direita, o aplicativo de mensagem é recheado de grupos voltados ao presidente - e é neste meio que grande parte do conteúdo divulgado nas outras redes nasce.
O Telegram não é tão grande, mas faz parte de uma rede mais ampla: a ligação entre outras plataformas. Há uma relação muito próxima entre Telegram e YouTube. É uma forma de esses grupos menos mainstream ocuparem o Telegram para dar impulsionamento da plataforma de 'superfície', como Facebook, YouTube e WhatsApp. É como uma dobradinha.
Letícia Cesarino, antropóloga da UFSC
É uma espécie de cozinha, explica Cesarino. Nestes canais, oficiais ou não, circulam memes, teorias e imagens. "Ali eles testam narrativas", aponta a pesquisadora.
"Telegram é o leva traz", concorda Nascimento. "Tem gente conversando todos os dias, o dia inteiro, em mensagem de voz, mesmo de madrugada. Cada uma dessas pessoas passa conteúdo para muitas outras. Não se pode desprezar."
Aí entra a importância do canal oficial, com diferença de 21 vezes entre ambos. "Esses públicos de Telegram são um complemento da comunicação oficial do presidente, ele tem plena consciência do que as falas dele vão ser", afirma Cesarino.
Linguagem também importa
Não é só o número de seguidores. Segundo os pesquisadores, também há, como em todo o mundo, uma disparidade em entender as linguagens de cada uma das redes sociais entre direita e esquerda, com vantagem para a primeira.
"Cada plataforma tem uma gramática específica, um modo de expressar, de compartilhamento e eles [campanhas bolsonaristas] entendem a gramática: hashtag, encaminhamento, texto com imagem visual, stories rápidos", avalia Nascimento.
Já os grupos ligados à esquerda, incluindo o PT e Lula, tratam "de uma forma mais antiga, como se fosse marketing dos anos 1990", diz o pesquisador, com textos maiores, muitos links e conteúdos menos escaláveis.
"A comunicação melhorou muito do PSOL e do PT nos últimos anos, mas ainda está faltando a coisa de base digital. É importante lembrar que há trabalho espontâneo ali no meme, nos grupos de família. É isso que falta, uma cultura de ficar mandando e gerando meme que nem doido", concorda Cesarino.
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