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Lula prega cautela em evento com PSOL e acena aos evangélicos

Lula discursou durante evento com lideranças do PSOL hoje - Reprodução de vídeo/Lula/Twitter
Lula discursou durante evento com lideranças do PSOL hoje Imagem: Reprodução de vídeo/Lula/Twitter

Pedro Vilas Boas

Colaboração para o UOL

30/04/2022 20h54Atualizada em 30/04/2022 22h34

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso moderado durante evento com lideranças do PSOL na noite de hoje, após a sigla oficializar apoio à pré-candidatura do petista. Durante a fala, ele também defendeu diálogo com os evangélicos.

"Sou do tempo que a gente pedia 100% ou nada e falava grosso. [...] Quando você começa uma luta, que você vai negociar, você tem que ter o limite de onde pode chegar, porque em algum momento você vai ter que dizer: 'aqui é importante'".

Estavam no evento lideranças do PSOL como Guilherme Boulos - pré-candidato a uma cadeira na Câmara-, o deputado federal Ivan Valente (SP) e Juliano Medeiros, presidente nacional da sigla. Representantes de outros partidos também marcaram presença, como o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos responsáveis pela campanha de Lula.

"Se Deus quiser vamos criar uma moeda da América Latina, porque não tem esse negócio de depender de dólar. Vamos tentar recuperar os Brics (agrupamento econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Só basta que você [Boulos] mande o Putin parar com essa guerra", disse Lula.

O diretório nacional do PSOL oficializou, em conferência hoje, o apoio à pré-candidatura de Lula ao Planalto. A reunião também definiu o programa político que será defendido pela sigla nas eleições.

"A união da esquerda em torno da candidatura de Lula é sem dúvida a melhor tática para derrotar Bolsonaro. Estamos felizes e esperançosos com essa decisão. Na semana que vem já iniciaremos as conversas para participar do conselho político da campanha e da coordenação do programa de governo", afirma, em nota, Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.

Não podemos brigar com pastores, diz Lula

Durante o discurso, Lula também fez um aceno aos evangélicos, um dos principais pilares de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista defendeu que haja diálogo com esse setor.

"A gente não tem que ficar brigando com pastor. Temos que conversar com o povo evangélico, que não é inferior a ninguém. É um povo capaz", afirmou.

Pesquisa PoderData, divulgada pelo site Poder360 ontem, mostra que Bolsonaro venceria as eleições no primeiro turno, caso elas fossem realizadas só entre evangélicos. O atual mandatário aparece com 52% das intenções de voto nesse segmento, enquanto Lula tem 30%. Outros nomes têm 5% ou menos.

O apoio do PSOL a Lula foi dado após resistências de alas do partido sobre como essa aliança seria selada. Na conferência de hoje, o partido decidiu pela confirmação do apoio, mas apresentou 12 pontos para serem integrados ao programa do eventual governo. Nomes como os dos deputados Glauber Braga (PSOL-RJ) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que resistiram mais ao acordo, não compareceram ao evento.

O discurso moderado de Lula também acontece em em meio à aliança que fez com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que se filiou ao PSB para ocupar a vice em sua chapa. Petistas e aliados de outros partidos foram contra.

Na quinta-feira (28), Alckmin voltou a falar sobre divergências do passado com Lula e ainda exaltou o novo partido e afirmou ter ficado à vontade ao ouvir o hino da Internacional Socialista. "Nós nos defrontamos em eleições, disputamos o mesmo cargo. O fizemos dentro da regra democrática. E hoje estamos unidos por um dever. A política é olhar o interesse público, o interesse das pessoas", afirmou.

Lula compara rompimento político à hanseníase

Lula ainda fez uma fala polêmica durante o evento com psolistas. Ele comparou o afastamento de antigos aliados enquanto ele estava preso a uma pessoa com hanseníase, doença crônica que provoca alterações na pele e nos nervos periféricos. O petista ainda utilizou o termo "leproso", considerado discriminatório.

"Eu tinha virado uma pessoa - como se tivesse na forma antiga - , como se eu fosse 'leproso', tivesse hanseníase. Ou seja, ninguém queria encostar, porque é muita acusação".

Em janeiro deste ano, o juiz Fabio Tenenblat, da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro, proibiu o presidente Jair Bolsonaro de usar o termo "lepra" e seus derivados. A ordem do magistrado ocorre após ação movida pelo Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase). A entidade foi à Justiça depois que Bolsonaro fez um discurso usando o termo "lepra".