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Após 33 anos, líder do 'Se liga, 16' vê filha tirar título: 'Fez questão'

Manuela Pinho, 50 anos, líder do "Se liga, 16!" em 1989, posa ao lado da filha Helena, 15, que vai votar pela primeira vez em 2022 - Manuela Pinho/Arquivo Pessoal
Manuela Pinho, 50 anos, líder do "Se liga, 16!" em 1989, posa ao lado da filha Helena, 15, que vai votar pela primeira vez em 2022 Imagem: Manuela Pinho/Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

02/05/2022 04h00

Trinta e três anos após liderar o movimento "Se liga, 16!", criado para atrair a atenção de adolescentes para as eleições de 1989, a jornalista Manuela Pinho, 50 anos, passa o bastão. Depois de batalhar para que a faixa etária entre 16 e 18 anos conquistasse o direito ao voto —e comparecesse às urnas— chegou o dia em que sua filha Helena, de 15 anos, tirou o título de eleitor.

"Ela fez questão de tirar o título, assim como os amigos", conta Manuela ao UOL.

Não se trata apenas do orgulho de uma mãe. É também o alívio de ver novas gerações se engajando em uma causa da qual Manuela foi porta-voz.

Em julho de 1989, ela entregou nas mãos do presidente do TSE, o ministro Francisco Rezek, um vídeo que foi transmitido no horário eleitoral gratuito da TV. Nele, convocava os adolescentes a participar das eleições, as primeiras de voto direto desde o fim da ditadura militar e também a primeira aberta a eleitores com idade de 16 a 18 anos.

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Manuela Pinho, em julho de 1989, durante audiência com o então presidente do TSE, ministro Francisco Rezek, em Brasília (DF)
Imagem: Lula Marques/Folhapress

"Foi um direito conquistado por nós em 1988, durante a Constituinte. O ambiente democrático favoreceu para que o movimento tivesse mais força e chamasse mais atenção naquela época", lembra.

Manuela menciona a queda, com o passar dos anos, do percentual de jovens tirando o título de eleitor. Entre os motivos, aponta a falta de obrigatoriedade do voto antes dos 18 anos e também o afastamento que os adolescentes sentem em relação à política.

A juventude é subrepresentada no Parlamento e ainda mais no Executivo."
Manuela Pinho, líder do "Se liga, 16!", movimento para atrair os jovens para a política em 1989

"É preciso dar centralidade às pautas da juventude: educação, cultura, acesso ao mercado de trabalho e à construção de políticas públicas traduz isso. É isso o que atrai a juventude a votar e ter maior participação no processo eleitoral", diz.

Até março deste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declarou ter registrado a menor quantidade de jovens com títulos de eleitor desde 2004. Com a aproximação do dia 4 de maio, prazo final para emitir o documento, houve ampla campanha de influenciadores e artistas para atrair a atenção desta parcela do eleitorado.

Após a mobilização, o tribunal anunciou que houve um aumento de 45% no número de adolescentes correndo atrás do título de eleitor.

"É importante que artistas e influenciadores estejam chamando a atenção para isso, porque existe essa vontade grande de mudar as coisas nas ruas. Talvez esse movimento dos famosos ajude a aumentar a quantidade de pessoas tirando títulos", diz Manuela.

Em 1989, o "Se liga, 16!" também promoveu shows e festas para levar a pauta aos mais eleitores mais jovens — sobretudo porque muitos ainda não sabiam que haviam adquirido o direito de votar. Manuela virou figurinha constante em eventos políticos e até na televisão, sendo convidada para participar de uma sabatina da TV Globo com Mário Covas, então candidato à Presidência pelo PSDB.

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Manuela Pinho, filha do ator Otávio Augusto, durante a sabatina da TV Globo com o candidato Mário Covas (PSDB) em 1989
Imagem: Reprodução/TV Globo

Manuela é filha do ator Otávio Augusto, primeiro presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos do Rio de Janeiro (1975). Engajada em movimentos sociais e políticos desde os 8 anos, mantém até hoje a atuação política. Atualmente, é assessora de imprensa do ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Para ela, "crescer num ambiente em que se discute política desde cedo torna mais natural o interesse pelo assunto". Por isso, acredita, a filha Helena se mobilizou para votar assim que possível —a jovem completa 16 anos antes das eleições deste ano.

Bem-humorada, Manuela conta que não imaginava o quanto a tecnologia poderia facilitar o processo eleitoral. Na sua época, procurou o cartório eleitoral, com vários documentos em mãos, para garantir o direito ao voto. Quando soube que era possível tirar o título de eleitor pela internet, se ofereceu para ligar o computador de casa e ajudar a filha com os trâmites. Só não esperava tamanha praticidade: "Não precisa não, mãe. Eu faço tudo aqui pelo celular", respondeu Helena.