Com medo de cancelamento, aliados sugerem ajustes nos discursos de Lula
A repercussão de algumas falas do ex-presidente Lula (PT) durante discursos e entrevistas tem preocupado aliados. A avaliação é que gafes podem servir como arma desnecessária para opositores e afastar possíveis eleitores antes e durante a campanha à presidência da República.
O núcleo próximo tenta lembrar o ex-presidente da máxima da internet de que "o print é eterno" e de que falas polêmicas podem ser tiradas de contexto. À reportagem, aliados dizem que ainda é pré-campanha e tudo está sendo ajustado.
Um exemplo foi a citação de que o concorrente Jair Bolsonaro (PL) "não gosta de gente, gosta de policial", no último sábado (30). A frase logo repercutiu mal na internet, sob questionamentos de que se policiais não seriam "gente". Lula se desculpou no dia seguinte no evento de 1º de Maio, em São Paulo, e em postagem no Twitter.
"Quero aproveitar e pedir desculpa aos policiais desse país, porque, muitas vezes, cometem erros, mas muitas vezes salvam muita gente do povo trabalhador. Temos que tratá-los como trabalhadores nesse país", disse o ex-presidente, na festa.
A preocupação entre apoiadores é que as falas, muitas vezes duras e empolgadas durante discursos, sejam mal interpretadas e eternizadas, sendo repetidas negativamente nas redes sociais, meio em que o ex-presidente não é tão familiarizado.
Ao UOL, a equipe de campanha diz que o debate político é normal, mas lamenta que haja "muita edição de falas descontextualizada, usadas para desviar atenção da grave situação do país", e que seguirá debatendo problemas, desemprego, fome e inflação alta, "independente de cortinas de fumaça".
Como evitar afastar possíveis eleitores?
No caso dos policiais, por exemplo, é tido dentro do PT que pessoas mais críticas à violência policial já aderiram à campanha, mas Lula precisa se firmar melhor no "outro lado da farda" e em outros perfis mais conservadores.
Para além da campanha, os apoiadores dizem que o ajuste nos discursos não significa que ele vá deixar de criticar erros de forças de segurança, de qualquer outro setor ou parar de expor suas opiniões —por mais duras que sejam. No entanto, como fez em sua fala no Dia do Trabalhador, ele deve evitar afastar possíveis eleitores.
Posicionamento semelhante foi explicitado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP) no discurso de apoio do Solidariedade à chapa de Lula na terça (3). "Acho que essa aliança pode ser muito maior. Temos perdido tempo com algumas coisas: uma vaia ali, uma Internacional ali, uma reforma trabalhista", disse o deputado, em referência a assuntos que considera polêmicos.
Outro exemplo —este menos citado entre petistas, mas que repercutiu online— foi a fala sobre a guerra da Ucrânia na entrevista à revista Time. Vista com muita euforia dentro do PT pela importância e abrangência da revista norte-americana, o trecho em que compara os papéis dos presidentes da Ucrânia e da Rússia na invasão serviu de munição para críticas e até foi usado como tentativa para eclipsar a capa tida como positiva ao ex-presidente.
"Vejo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudindo de pé por todos os parlamentos (do mundo). Esse cara é tão responsável como Putin. Porque em uma guerra não há somente um culpado", afirmou o petista.
Há discordância quanto à ponderação de Lula sobre a guerra, mas o ponto, para aliados, é que há muitos temas polêmicos a serem comentados e evitar alguns posicionamentos em prol de pautas propositivas é mais benéfico para a campanha.
Também há a percepção, entre petistas, de que a imprensa tende a repercutir mais as suas gafes ou controvérsias do que as dos adversários.
Conforme o UOL já relatou, essa estratégia tem sido usada também ao ignorar as polêmicas de Bolsonaro. Em vez de tratar de casos como o perdão ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), melhor focar na comparação entre governos.
Alinhamento do discurso é natural, dizem aliados
Ao UOL, interlocutores próximos à campanha defendem que é "natural" que o discurso seja alinhado ao longo de toda a campanha e que o foco do presidente será em projetos.
"Ainda estamos na pré-campanha. É natural que algumas falas, o discurso seja alinhado ao longo do trajeto. O presidente [Lula] vai focar sua campanha nos problemas no país e nas questões que importam ao povo", afirma o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).
"O presidente Lula tem feito propostas e tratado dos problemas reais do país. A estratégia [de Bolsonaro] é desviar a atenção do eleitor para a queda de renda, do poder de compra, para a inflação, nós vamos mostrar em como podemos melhorar [o país]", corrobora o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que participa da coordenação da campanha.
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