Rumo ao hexa, Eymael vê Lula como maior rival e nega filiação a Bolsonaro
"Quem é que pode derrotar o Lula? Só a democracia cristã". Aos 82 anos, José Maria Eymael é um dos maiores veteranos das eleições brasileiras. Uma semana antes de lançar a pré-candidatura à Presidência pela Democracia Cristã ele recebeu a reportagem do UOL na sede do partido, em São Paulo. Ali, ao falar sobre sua sexta tentativa de chegar ao Planalto, deu o tom da campanha: Lula é o seu maior rival.
Na corrida do "hexa", o democrata cristão profetiza "sinais, fortes sinais" de que a disputa no segundo turno de 2022 será entre ele e o petista.
A previsão não é nova. Quatro anos atrás, Eymael já havia declarado ser o único capaz de derrotar o PT. Quem atrapalhou seus planos foi Jair Bolsonaro (à época no PSL, hoje no PL), eleito presidente da República após vencer Fernando Haddad (PT) justamente no segundo turno.
Mas Eymael insiste. Seu partido é o único que consegue "discutir em igualdade de condições com o Lula", argumenta. E explica o porquê: os avanços sociais alardeados pelo governo petista, diz, foram conquistados graças ao trabalho de Eymael enquanto deputado constituinte.
Há mais um ponto em comum entre Eymael e Lula. Com a pré-candidatura do petista, os dois igualam seis disputas de eleições presidenciais —a conta não inclui 2018, quando Haddad terminou como o candidato do PT.
Fora das pesquisas, mas popular pelo jingle
Não é só o PT: Eymael também se sente desafiado pelas pesquisas eleitorais. Seu nome só passou a constar em levantamentos após a oficialização de sua pré-candidatura.
"Nem me fale em pesquisas de opinião", interrompe quando questionado sobre o desempenho de outros presidenciáveis.
Ele nunca atingiu 1% dos votos em eleições presidenciais. Seu melhor desempenho foi em 1998, quando conquistou 0,2% dos votos válidos. Terminou em 9º na disputa, com 12 candidatos.
Eu não existo nas pesquisas. Qual é a razão? O Brasil inteiro sabe que sou candidato a presidente."
José Maria Eymael (DC), pré-candidato à Presidência
Pelas normas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a inclusão de todos os concorrentes nas pesquisas eleitorais só é obrigatória a partir do momento em que as candidaturas são registradas no Tribunal —o que ocorre apenas na segunda quinzena de agosto.
Antes disso, os institutos não são obrigados a acrescentar todos os pré-candidatos, incluindo Eymael, que afirma ir "muito bem" nas enquetes feitas pelo seu partido; diferentemente das pesquisas de opinião, as enquetes não possuem valor científico.
Ele considera que bateu na trave em 2010. O que o leva a pensar isso? O assédio dos eleitores. "Você sabe quanto tempo eu levava para atravessar a 25 de Março [rua do centro de São Paulo, conhecida pelo comércio popular]? Quatro horas. Era foto, entrevista, abraço...", conta.
Naquele ano, recebeu 0,09% dos votos válidos e ficou em 5º entre os nove candidatos. O resultado se contrapõe à popularidade do seu maior trunfo: o jingle das campanhas.
Ey, ey, ey...
A composição nasceu durante uma reunião do PDC (Partido Democrata Cristão), em 1985. Sobreviveu à queda do muro de Berlim, ao plano Collor e ao "bug do milênio".
Gaúcho de Porto Alegre, Eymael vivia em São Paulo há 21 anos e ia lançar sua candidatura à Prefeitura da capital paulista naquele ano. Sua maior preocupação era introduzir ao eleitor a leitura de um sobrenome "difícil, com y no meio".
Foi o alfaiate José Raymundo de Castro, que bem sabia a dificuldade de soletrar um nome com "y" no meio, quem encontrou a solução.
"Se a gente ensinar o povo a dizer Eymael, o povo não esquece mais", lembra. Castro pediu dois dias de prazo para compor uma marchinha carnavalesca, algo que Eymael não acreditava que fosse solucionar o problema. "Para não deixá-lo triste, demos os dois dias".
Quando ele terminou de apresentar, eu disse: 'Castro, a partir de hoje eu te devo a minha vida política'. Percebi na hora que era um trabalho de gênio."
Castro faleceu em dezembro do ano passado, um mês após ser homenageado e receber uma placa comemorativa pelos serviços prestados à Democracia Cristã.
"Ele conseguiu fazer uma brincadeira sonora com o 'ey' de 'Eymael'", diz o pré-candidato, cantarolando, em seguida, as primeiras estrofes do jingle. "Ey, ey, ey, mael. Um democrata cristão". O assessor que o acompanhava brincou: "Se eu soubesse, tinha trazido meu violão".
Sobre a DC
A insistência em se candidatar à Presidência da República tantas vezes (1998, 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022) reúne, entre os principais propósitos, a ideia de promover a democracia cristã —um movimento que existe também em outros países e difunde princípios cristãos na política.
Angela Merkel, ex-chanceler alemã, é um dos principais expoentes da democracia cristã no exterior.
No Brasil, o movimento deu origem ao PDC, em 1945. Entre os principais nomes, estavam Franco Montoro e Jânio Quadros.
Por dois momentos a legenda deixou de existir no país. A primeira em 1965, com a extinção dos partidos políticos pela ditadura militar. A segunda em 1993, quando o PDC se fundiu com o PDS para formar o PPR e fortalecer a candidatura de Paulo Maluf à Presidência no ano seguinte; Maluf acabou não saindo candidato: o nome escolhido pelo partido foi Esperidião Amin.
No entanto, Eymael não desistiu da democracia cristã. Em 1995, fundou o PSDC (Partido Social Democrata Cristão), partido que preside desde então. Desde 2017, a sigla perdeu duas letras — mas não o propósito — e ficou apenas como DC (Democracia Cristã).
Esquerda, direita ou centro?
Eymael diz que sua postura em relação ao governo é de "independência construtiva". A DC, para ele, não é um partido nem de direita e nem de esquerda. Rejeita, inclusive, a ideia de ser tratado apenas como centro.
Somos um centro transformador."
Em 2018, ele sinalizou apoio a Fernando Haddad no segundo turno das eleições após o deputado federal Eduardo Bolsonaro, um dos filhos de Jair Bolsonaro, declarar que, para fechar o STF, bastava mandar "um soldado e um cabo".
Na ocasião, Eymael escreveu no Facebook que os comentários afastavam "qualquer possibilidade de neutralidade" e propôs um pacto pela democracia.
O democrata cristão nega que a postagem indicava que ele apoiava Haddad no segundo turno. "O que eu fiz foi uma convocação ao Haddad para que assumisse uma liderança e se opor a essa fala", esclarece.
Recusa a Bolsonaro
No ano passado, o político viajou a Brasília para discutir uma possível filiação de Bolsonaro à DC. "Alguns mensageiros já vinham nos procurando, mas um dia, em julho, o Bolsonaro me ligou. Disse: 'Você não pode vir tomar um café comigo aqui em Brasília?'".
Eymael não larga a liderança da sigla e alega se manter no posto por insistência de seus companheiros. Isso inclui, também, a obstinada tentativa de chegar ao Palácio do Planalto. Por isso dispensou Bolsonaro, que tenta a reeleição em 2022.
"Agradeci o convite e disse a ele que nós temos candidatura própria e eu sou o pré-candidato indicado", diz Eymael.
A resposta? Uma proposta de fair play eleitoral.
Ele brincou comigo: 'Então vamos combinar uma coisa, não vamos brigar nos debates'".
O único debate do qual Eymael participou em 2018 foi promovido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e exibido pela TV Aparecida. As emissoras de televisão convidam apenas os candidatos de siglas que possuem um mínimo de cinco parlamentares no Congresso Nacional. A DC, hoje, não tem nenhum.
Mas a esperança persiste. E Eymael também: "Eu quero muito ser presidente da República".
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