Quem fez reforma trabalhista tem mentalidade escravocrata, diz Lula
O ex-presidente Lula (PT) afirmou hoje que os formuladores da reforma trabalhista tinham "mentalidade escravocrata". A declaração foi feita em encontro com sindicalistas em São Paulo. O texto foi aprovado em 2016 no governo Michel Temer (MDB).
No evento sindicalista Sindimais 2022, na sede da central Força Sindical, no centro da capital paulista, o petista voltou a falar sobre uma nova legislação trabalhista, elaborada por meio de um debate entre governo, trabalhadores e empresários. Reafirmou que não é preciso "voltar ao que era antes", mas defendeu mudanças nos acordos atuais.
A mentalidade de quem fez a reforma trabalhista, a reforma sindical é a mentalidade escravocrata, de quem acha que sindicato não tem que ter força, não tem representatividade."
Lula, a sindicalistas
Como tem feito em seus discursos, Lula fez um paralelo com seu governo (2003-2010) e a gestão atual —destacado questões econômicas. Ele defendeu que, enquanto era presidente, as questões trabalhistas eram definidas entre o governo, os empresários e as centrais sindicais.
"Toda desoneração que eu fiz era compactuada com o movimento sindical, tinha que ter a contrapartida. Vocês [sindicalistas] participavam das mesas de negociação", afirmou Lula.
"No mundo desenvolvido, em que você tem economia forte, você tem sindicato forte, em qualquer país do mundo. Se você tiver economia forte você tem sindicato forte", completou.
Com plateia basicamente sindicalista, o discurso foi voltado ao trabalho, pincelando propostas que já vem apresentando na pré-candidatura. O ex-presidente tem defendido não apenas a revogação da reforma, mas a criação de um novo texto de legislação trabalhista, "voltado à realidade atual", levando em consideração novas formas de trabalho, como motoristas e entregadores de aplicativo, e com forte representação sindical.
Nesta tarde, ele voltou a afirmar que não se deve "voltar ao que era antes" e defendeu que a CLT (Confederação das Leis de Trabalho) pré-reforma precisava de reajustes.
Um dos pontos em que Lula mais bate na reforma de Temer é a flexibilização e o trabalho intermitente. Para a campanha petista, que ainda está elaborando o plano econômico junto a outros partidos da aliança, não é preciso retomar à "rigidez" de antes, mas tem de se criar uma vinculação dos trabalhadores aos direitos garantidos pela CLT, como férias remuneradas, licença maternidade, entre outros.
Distribuição de renda para girar a roda da economia
Lula também tem falado com frequência sobre medidas como revogar o teto de gastos, proposto pelo governo Temer em 2017, e uma nova reforma tributária. Aos sindicalistas, voltou a argumentar que não há como melhorar a economia se não aumentar o poder de consumo do trabalhador e que, para isso, é preciso aumentar a distribuição de renda.
"Mas isso não se discute. E se não discutir desenvolvimento, não tem crescimento do país, e crescimento gera emprego, emprego gera renda, a renda gera o consumo e o consumo gera para a empresa. Assim, a roda da economia volta a funcionar e é o que eu digo todo dia: o trabalhador vai voltar a fazer churrasquinho", disse o ex-presidente.
Ao final da fala, Lula reafirmou o compromisso de negociação entre as três frentes —governo, empresários e trabalhadores—, em um aceno aos mais críticos, dizendo que todo governo precisa de "credibilidade e previsibilidade" para dar certo na economia. Foi, novamente, uma crítica ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Tem duas coisas que nós temos que ter certeza. Vale para as centrais sindicais, vale para o presidente, para os empresários e os trabalhadores: nós precisamos conquistar credibilidade, para que as pessoas acreditem, e previsibilidade. Ninguém pode ser pego de surpresa toda noite.
Lula (PT), a sindicalistas
O petista voltou a afirmar que Bolsonaro prefere focar em temas como flexibilização armamentista a investimentos na educação e que esta seria uma das causas para a crise econômica atual do país.
"Eu quero que o trabalhador possa ter livro na sua casa [em vez de armas]. É a qualificação profissional que valoriza salário", declarou o ex-presidente. "A gente não vai ser nunca um país competitivo se a gente não investir em educação."
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