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Perfis pró-Bolsonaro puxam alta de menções a fraude eleitoral nas redes

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo*

13/05/2022 04h00

Impulsionadas por perfis apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), publicações que levantam a suspeita de que haverá uma fraude eleitoral dispararam nas redes sociais após a divulgação, na segunda-feira (9), das respostas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a sugestões feitas pelas Forças Armadas para as eleições deste ano, mostra levantamento feito pela empresa de monitoramento digital Torabit a pedido do UOL. Nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras desde a adoção das urnas eletrônicas.

A pesquisa abrange 36.887 publicações sobre o tema feitas do dia 5 até as 10h de ontem (12) no Twitter, Facebook, YouTube e blogs. A Torabit categorizou as publicações com a ajuda de inteligência artificial para identificar quais delas divulgavam a possibilidade de uma fraude eleitoral. Depois disso, uma análise humana foi realizada com base em uma amostragem aleatória das menções para checar se os dados coincidiam. A margem de erro da análise é de 2,9 pontos percentuais.

Com isso, a análise detectou que 77,9% das menções (28.795) levantavam a tese de uma fraude eleitoral e vieram de perfis de apoiadores de Bolsonaro, o que também pôde ser verificado pelo conteúdo dos posts. O restante das menções ao tema veio de perfis contrários a Bolsonaro ou eram comentários sobre as notícias sobre o assunto.

As publicações com este teor se concentraram entre segunda e quarta. De domingo (8) para segunda, a quantidade de posts que defendiam a suspeita de fraude eleitoral saiu de 152 para 4.499, ou quase 30 vezes a quantidade do dia anterior. Na terça (10), dia com mais publicações deste tipo no intervalo analisado, o total foi de 11.357 posts, mais que o dobro da véspera. Na quarta, foram 8.404 posts.

Segundo a Torabit, muitas destas publicações citam uma suposta irregularidade nas eleições como a única responsável por uma eventual derrota de Bolsonaro na disputa por mais um mandato.

Em buscas no Twitter utilizando palavras-chave relativas ao tema, a reportagem do UOL encontrou exemplos de posts deste tipo.

"Não tenho a menor dúvida que o presidente Bolsonaro só perde para a fraude, e todos os movimentos indicam que haverá, o próprio TSE se acusou", escreveu na quarta (11) um perfil com quase 38 mil seguidores. A publicação tinha cerca de 1.200 interações (retweets e curtidas) na noite de ontem.

A visão de que o presidente só não seria reeleito em caso de fraude por vezes aparece junto a tentativas de desacreditar as pesquisas de intenção de voto — que há meses mostram Bolsonaro em segundo lugar, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como mostra o agregador de pesquisas do UOL.

"Nem o Lula e nem o PT acreditam nessas pesquisas. Apenas uma fraude nas urnas pode salvar a pele deste zumbi!", diz um post feito anteontem no Twitter por um perfil com mais de 46 mil seguidores. A publicação tinha obtido 450 interações até ontem à noite.

Desinformação sobre urnas eletrônicas

Apesar de uma fraude nunca ter sido comprovada nas eleições brasileiras desde a adoção das urnas eletrônicas, uma nova onda de desinformação lançando suspeitas sobre o pleito surgiu após a resposta do TSE às Forças Armadas.

No fim da tarde de segunda, poucas horas depois de o TSE divulgar suas respostas aos militares, voltou a circular o boato de que há uma "sala secreta" para a contagem de votos das eleições — o que foi desmentido pelo UOL Confere na quarta.

A mentira pegou carona no destaque dado pela imprensa ao trecho da resposta em que o tribunal diz aos militares que a apuração das eleições não é feita em uma "sala escura" ou em "salas secretas". As Forças Armadas haviam sugerido que a soma dos votos fosse "feita de maneira centralizada no TSE em redundância com os TRE [Tribunais Regionais Eleitorais], visando a diminuir a percepção da sociedade de que somente o TSE controla todo o processo eleitoral".

As alegações sobre uma suposta fraude eleitoral também ganham força em meio a uma nova ofensiva de Bolsonaro para levantar suspeitas sobre o voto eletrônico, sistema que passou a ser usado em todo o Brasil em 2000 e pelo qual o político foi eleito, desde então, para quatro de seus seis mandatos de deputado federal e para presidente.

Em abril, Bolsonaro desafiou o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a prendê-lo por desconfiar do sistema de votação. No fim do mês, repetiu a tese da "sala secreta". Na semana passada, o presidente afirmou que seu partido contratará uma "auditoria antes das eleições". O TSE já faz uma auditoria do funcionamento das urnas, e partidos políticos podem participar de todo o processo.

Em julho do ano passado, em live nas redes sociais, Bolsonaro reciclou uma série de boatos já desmentidos sobre a urna eletrônica. A transmissão é assunto de um inquérito comandado por Moraes.

*Colaborou Bernardo Barbosa, do UOL em São Paulo