PSDB apoia Tebet, mas ainda não tem solução para impasse com Doria
Apesar de já ter encaminhado um consenso para apoiar a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência, como representante da terceira via, o PSDB ainda não tem uma solução para o impasse criado com o ex-governador de São Paulo João Doria. O tucano renunciou ao governo paulista na expectativa de sair candidato ao Planalto, mas perdeu apoio e foi preterido na disputa pela vaga.
Nomes da cúpula do partido, consultados pelo UOL, avaliam que Doria não conseguirá impor sua candidatura com base na vitória nas prévias da sigla, realizadas em novembro do ano passado. Não se sabe, por outro lado, que alternativa pode ser oferecida ao ex-governador. Foi cogitada a ideia de que ele seja vice na chapa de Tebet, mas parte das lideranças prefere outros nomes, como o do senador Tasso Jereissati (CE).
A percepção dos políticos tucanos é que Doria ficou com pouca margem para negociar uma saída vantajosa para o impasse, especialmente após a carta aberta que enviou à cúpula, no último sábado, chamando de "tentativa de golpe" a articulação do PSDB com MDB e Cidadania pela campanha de Tebet. Após o atrito com Bruno Araújo, presidente da sigla, o isolamento de Doria se agravou.
No momento, o ex-governador contesta o resultado da pesquisa encomendada pelos três partidos, revelada na quarta-feira (18), que aponta Tebet como a melhor opção da terceira via. Uma das possibilidades de Doria é ir à Justiça para fazer valer o resultado das prévias, mas o partido não acredita neste desfecho.
"Ele [Doria] já tinha notícia, antes de sair do governo de São Paulo, que sua situação não era mais razoável. Apesar dos esforços, sua campanha ficou travada, e agora estamos diante dessa situação. Eu acho que tem que haver conversas e busca por soluções políticas, para evitar o caminho judicial", avalia o ex-senador José Aníbal (PSDB-SP), quadro histórico da legenda.
Em reunião na última terça, em Brasília, a Comissão Executiva do PSDB tomou a decisão de marcar uma reunião pessoal com Doria, para que vários colegas de partido falem a ele diretamente sobre os prejuízos de se manter a candidatura. Até o momento, porém, o tucano alegou motivos de agenda para evitar a reunião, que pode acontecer na próxima segunda-feira (23), em São Paulo.
"É preciso ter uma conversa franca com o Doria, para ponderar uma série de coisas. A pesquisa diz que mais de 50% dos eleitores no país não querem a polarização, o que abre espaço para uma candidatura. Mas a pesquisa indica que a terceira via precisa se unir em uma candidatura única, não adianta ter várias. Então é preciso ouvir o Doria para buscar um entendimento, uma solução conjunta", diz o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (SP), que é pré-candidato ao governo do Distrito Federal.
No final da tarde de ontem, os três partidos divulgaram uma nota conjunta, afirmando que o resultado das prévias do PSDB, que elegeram Doria, esteve sempre "vinculado a uma aliança mais ampla", e que o ex-governador tem a "compreensão de que estávamos tratando de algo maior do que uma escolha partidária".
Atrito
Doria aparece como postulante ao Planalto desde que venceu, no final de novembro do ano passado, as prévias do PSDB para a escolha da candidatura. Em uma eleição tumultuada, marcada por hostilidades e problemas no aplicativo de votação, Doria teve o apoio de 53,99% dos filiados e derrotou o então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Nos meses seguintes, todavia, o tucano ficou estagnado nas intenções de voto para presidente. Conforme mostra o agregador de pesquisas do UOL, ele tem oscilado entre 2% e 5% nas pesquisas e não consegue ir além do quarto lugar nas sondagens. A falta de perspectiva no crescimento de Doria levou o PSDB, já dividido, a procurar alternativas.
Desde o início do ano, os tucanos vêm buscando legendas de centro, como o MDB e o União Brasil, para tratar de uma possível aliança para as eleições. Com uma destas siglas, o Cidadania, o PSDB formará uma federação partidária, o que unirá as legendas não apenas na campanha, mas também durante os quatro anos seguintes.
As conversas com o MDB, por sua vez, já estavam avançadas no final de março, quando uma manobra de Doria aumentou as tensões. De última hora, o tucano ameaçou desistir da pré-candidatura e se manter no governo de São Paulo se não recebesse "apoio explícito" da cúpula tucana em torno de seu nome para a Presidência.
A jogada irritou parte dos aliados de Doria, que já contavam com a renúncia dele ao cargo para que o vice, Rodrigo Garcia, assumisse o Palácio dos Bandeirantes. O partido tem como prioridade a recondução de Garcia ao governo paulista. No fim das contas, Doria deixou o cargo como combinado, mas os atritos não se dissiparam desde então.
Terceira via
Assim como outros postulantes a candidato da terceira via, Doria tem sofrido com a falta de espaço entre eleitores de Jair Bolsonaro (PL). O tucano, que pediu o voto "Bolsodoria" em 2018, passou a se afastar do presidente ainda no primeiro ano de governo.
A ruptura se consolidou com a chegada da pandemia de covid-19 ao Brasil, no início de 2020. Enquanto Bolsonaro combatia as medidas de contenção do vírus, Doria adotou um tom moderado e agiu para que São Paulo começasse a fabricar vacinas antes das primeiras importações do governo federal.
Hoje, o tucano tenta conquistar um eleitorado que, em tese, segue antipetista como em 2018, mas arrependeu-se do voto em Bolsonaro. Nas pesquisas de momento, essa fatia está em disputa entre ele, Tebet e outros nomes.
Um deles, o ex-ministro Sergio Moro, vinha despontando como favorito da terceira via até o final de março, quando abandonou a pré-candidatura já acertada ao Podemos e se filiou ao União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL. No momento, contudo, a legenda afirma que lançará como candidato o deputado Luciano Bivar (PE), outro antigo aliado de Bolsonaro.
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