Atritos, rejeição, palanque nos estados: por que o PSDB 'rifou' Doria?
O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou hoje que desistiu da sua pré-candidatura à Presidência da República diante da pressão de seu partido. "Serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida", disse ele, em um pronunciamento.
Assim, o tucano abriu espaço para que a senadora Simone Tebet (MDB) venha a ser o nome escolhido na aliança entre a sigla tucana, o MDB e o Cidadania, conforme defende o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo — havia a expectativa de que a executiva do parido pudesse bater em torno da candidatura da parlamentar em uma reunião amanhã, mas o encontro foi cancelado.
Outra ala do partido, encabeçada pelo deputado Aécio Neves (MG), porém quer o ex-governador gaúcho Eduardo Leite no lugar de Doria.
Logo após Doria anunciar sua desistência, Araújo, disse que o nome de Tebet "está posto" como representante da chamada terceira via e que considera "natural" que os tucanos indiquem o candidato a vice na coligação, mas não citou o nome de Doria como uma das possibilidades.
Conforme mostrou o UOL, a pressão para desistência do ex-governador não é recente. Embora tenha se aprofundado nas últimas semanas, o isolamento existe no PSDB desde que ele entrou na política, segundo a avaliação de líderes tucanos ouvidos pela reportagem.
Histórico de atritos
Os atritos de Doria com líderes do PSDB começaram ainda antes de sua primeira vitória eleitoral, em 2016. Para concorrer à prefeitura, ele derrotou Andrea Matarazzo, quadro histórico da sigla, que acabou desistindo das prévias e deixou o partido acusando Doria de comprar o apoio de correligionários. Desde então, o apoio a ele no PSDB nunca foi unânime.
Prévias conturbadas
O ex-governador paulista venceu as prévias — votação interna do partido — contra Eduardo Leite (RS) e Arthur Virgílio (AM) em novembro do ano passado.
A vitória por uma margem apertada —53,99% dos votos dos cerca de 30 mil filiados que participaram da eleição —não convenceu parte das lideranças tucanas, que preferiam o nome do ex-governador do Rio Grande do Sul. Uma ala do partido tentou fazer com que o gaúcho fosse o nome tucano para a corrida, mas o projeto não teve sucesso à epoca.
Em meio a essas disputas internas, Doria já havia ameaçado desistir de concorrer ao Planalto —em 31 de março, chegou a dizer a aliados que não renunciaria ao governo de São Paulo, o que prejudicaria os planos eleitorais de Rodrigo Garcia, seu vice, que hoje concorre à reeleição. Araújo chegou a apresentar uma carta ao diretório paulista afirmando que o governador paulista era o candidato à Presidência da República pelo partido.
Rejeição alta
Conforme mostrou o colunista do UOL Tales Faria na semana passada, a pesquisa encomendada pelos partidos, feita pelo Instituto Guimarães, apontou que Doria praticamente não tinha mais espaço para crescer nas pesquisas eleitorais, enquanto Tebet teria uma margem maior. A rejeição do tucano, segundo o levantamento, é mais que o dobro da taxa da emedebista.
Segundo mostra o agregador de pesquisas do UOL, ele vinha oscilando entre 2% e 5% nas pesquisas e não conseguia ir além do quarto lugar nas sondagens.
Disputa nos estados
Em uma reunião da comissão executiva do partido em Brasília, na última terça-feira (17), sem a presença de Doria, quase todos os líderes da sigla decidiram que era preciso dizer ao ex-governador que a campanha dele atrapalharia os palanques tucanos na maioria dos estados, especialmente em São Paulo, administrado pelo PSDB há quase 30 anos, onde Garcia disputa a reeleição.
Devido à rejeição do ex-governador, aliados de Rodrigo Garcia avaliavam que associar a imagem de Doria a dele minava as chances de Garcia de ser reeleito.
Por causa disso, nas últimas semanas, o atual governador vinha ensaiando um distanciamento de Doria. "Fui vice do João Doria. Um é diferente do outro", declarou Garcia em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
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