Desconhecido, Garcia foca em viagens pelo interior de SP
Desde que tomou posse como governador de São Paulo, em 1º de abril, Rodrigo Garcia (PSDB) tem mantido uma agenda intensa de viagens e eventos em busca de se tornar mais conhecido de olho na reeleição.
De acordo com levantamento feito pelo UOL na agenda pública do governador, ele visitou mais de 30 cidades do interior paulista em pouco menos de dois meses — o número é ainda maior se considerados municípios do litoral e da Grande São Paulo. Além dessas incursões pelo estado, ele já anunciou ações voltadas para as áreas de saúde, segurança pública e educação, vistas pela população como os principais problemas do estado, segundo pesquisas, e intensificou suas entrevistas à imprensa.
Em nota, a assessoria de imprensa de Garcia informou que "todos os compromissos do governador pelo interior, litoral e capital são pautados pelo interesse público e são divulgados com toda a transparência para a população e para a imprensa, no site e nos canais oficiais do Governo de São Paulo".
Vice de João Doria (PSDB) por mais de três anos, período em que manteve uma postura discreta, Garcia tem como estratégia na sua busca pela chefia do Palácio dos Bandeirantes pelos próximos quatro anos tornar-se conhecido pelo eleitorado. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no início de abril, 85% dos entrevistados não sabiam quem era o governador de São Paulo.
Em inserções recentes do PSDB na TV, ele se apresenta como "Rodrigo, o novo governador de São Paulo" e diz ser normal não ser conhecido porque, apesar de estar há anos na administração pública, "aprendeu que quem tem que aparecer é a obra e não quem fez". Doria, cuja taxa de rejeição é alta, não é citado em nenhum momento.
O uso da máquina pública é apontado como a principal vantagem dele na disputa, em que aparece em quarto lugar, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Quaest e divulgada no dia 12 de maio. Ele varia entre 5% e 9% das intenções de votos dependendo do cenário.
'Cara nova' do governo
As medidas adotadas pelo novo governador desde que assumiu a cadeira também são vistas como necessárias pelo em torno dele para mostrar "a cara nova" do governo e blindá-lo da rejeição de Doria, de quem ele tem buscado se descolar.
Garcia tomou posse na unidade do Bom Prato (local que chamou de "pronto-socorro da fome") na comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, em vez de fazer um grande evento no Palácio dos Bandeirantes. No mesmo dia, viajou para a região de São José do Rio Preto para entregar viaturas para a PM (Polícia Militar).
Desde então, as agendas incluem desde inauguração de obras, como creches e Poupatempos, até entregas de moradias populares e liberação de verbas para melhorias em rodovias do estado. Nas viagens que faz, aliados relatam que ele mal consegue tocar na comida durante as refeições porque prefere ficar conversando com lideranças locais e atendendo aos pedidos de selfie.
"É uma maneira de se fazer conhecido e mostrar que é um grande fazedor de obras", diz a cientista política Vera Chaia, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), sobre as andanças do governador.
Como concorre à reeleição, não é necessário que Garcia se descompatibilize do cargo, e ele deve usar a máquina justamente para alavancar a candidatura e melhorar seu lugar nas pesquisas. "Esse é um velho debate. Qualquer ato governamental vira um ato eleitoral, qualquer entrega de obra acaba virando um grande evento", aponta o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas de São Paulo).
Garcia também não tem poupado acenos ao interior ao postar fotos com chapéu de caubói, montado em cavalo e exaltando suas origens do campo, visto como reduto conservador e bolsonarista. Nascido em Tanambi, região noroeste do estado, ele se descreve como um "paulista raiz", uma cutucada no ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), um de seus adversários, que é carioca, e candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado.
Também deu início ao programa Governo na Área - um gabinete itinerante com seu secretariado para rodar o estado. Nas viagens, faz uma reunião com prefeitos na cidade visitada, enquanto técnicos recebem representantes dos executivos municipais para ouvir e destravar demandas, numa espécie de "Poupatempo Político".
Os encontros também contam com a entrega de veículos que fazem parte do Programa Nova Frota SP, que auxilia municípios paulistas nas solicitações de mais de 3.000 veículos e maquinários. Para que não haja problemas com a Justiça Eleitoral, a verba de R$ 1 bilhão destinada ao programa está vinculada ao orçamento do ano passado.
Resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que trata sobre questões eleitorais aponta que no ano em que se realiza o pleito fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da administração pública, exceto em casos de emergência, calamidade ou de programas autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior.
Quanto à participação em inauguração de obras públicas, agentes públicos não podem comparecer nos três meses que antecedem a eleição.
Foco em saúde, educação e violência
Desde que assumiu, Garcia também tem buscado uma agenda positiva para áreas listadas como desafios pelos paulistas. Com discurso moderado e cauteloso, ele tenta fugir da polarização que domina o cenário nacional e foca nos problemas do estado, se definindo como um "gestor pragmático".
"Como governador eu tenho que trabalhar pra quem tá lá na ponta da linha, não importa se concorda comigo ou não, se pensa igual a mim ou não. O bom governo não é dogmático, é pragmático e trabalha pra todos", escreveu ele em uma rede social.
No fim de abril, o governador trocou o comando das polícias. Na Polícia Civil, saiu Ruy Ferraz Fontes e entrou Osvaldo Nico. Já a PM passou ao comando do coronel Ronaldo Miguel Vieira, no lugar do coronel Fernando Alencar.
Segundo pesquisa Datafolha, 14% dos entrevistados indicaram que violência, segurança e polícia são o principal problema do estado.
No dia 4 de maio, Garcia prometeu dobrar o policiamento nas ruas da capital paulista como resposta à onda de assaltos na cidade, principalmente envolvendo criminosos disfarçados de entregadores, numa operação batizada de "Sufoco", que não tem prazo determinado para acabar.
"Aqui em São Paulo, o bandido que levantar a arma vai levar bala da polícia", disse o governador ao anunciar o conjunto de ações.
Dias depois, ele liberou o pagamento de R$ 176,2 milhões em bonificação a policiais e servidores da SSP (Secretaria de Segurança Pública), um aceno às forças de segurança, área em que bolsonaristas costumam ter mais força.
Nesta semana, Garcia anunciou um mutirão de cirurgias eletivas para acabar com a demanda reprimida em razão da pandemia de covid-19 - são 538,1 mil procedimentos cadastrados na central de regulação do estado. A saúde é tida como o principal problema do estado hoje na avaliação de 24% dos entrevistados.
No mesmo dia, liberou R$ 1 bilhão em pagamento de abono e bônus para professores da rede estadual e do Centro Paula Souza — a educação está no topo das preocupações para 11% dos entrevistados do Datafolha.
A estratégia contra os adversários é se mostrar um político experiente que trabalhou com cinco governadores diferentes — ele diz que Mario Covas (1930-2001) é sua maior inspiração na política — e conhecedor dos problemas do estado.
Enquanto vice, também ocupou a secretaria de governo, responsável por fazer a interlocução com prefeitos. Um deles relatou à reportagem que era Garcia quem tocava a máquina na parte técnica do governo, enquanto Doria era o "rosto" do governo.
"Durante o governo ele esteve escondido, não apareceu muito. Doria deixou o vice de lado e assumiu o protagonismo durante a pandemia. Agora ele [Garcia] está correndo atrás do prejuízo", avalia Vera.
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