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ANÁLISE

Economia tem grande peso em nova fase da pré-campanha dos presidenciáveis

O presidente Jair Bolsonaro (PL) em evento no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 31.mar.22/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro (PL) em evento no Palácio do Planalto, em Brasília Imagem: Pedro Ladeira - 31.mar.22/Folhapress

Alberto Bombig

Colunista do UOL

30/05/2022 12h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (30) da newsletter UOL nas Eleições 2022, que hoje tem uma análise sobre a nova fase da campanha entre presidenciáveis, além dos acordos e desacordos entre PT e PSD e as indefinições dos nomes da "terceira via". Para assinar o boletim e recebê-lo no seu email, clique aqui. Para receber outros boletins exclusivos, assine o UOL.

A mais recente pesquisa Datafolha, que começou a ser divulgada na quinta-feira (26), inaugurou uma nova fase na pré-campanha presidencial. O crescimento das intenções de voto em Lula (PT) redefiniu as estratégias e teve como efeito colateral aumentar a tensão nos bastidores dos mundos político e jurídico do país.

O levantamento quantificou aquilo que os analistas, políticos e estrategistas das pré-campanhas já vinham antevendo, a importância do cenário econômico na definição do candidato. Segundo o Datafolha, 53% dos brasileiros consideram que a situação econômica está tendo "muita influência" na sua decisão de voto.

Outro fator importante em termos de cenário eleitoral: a divulgação do levantamento, analisado no Radar das Eleições do UOL, ocorreu quando a chamada terceira via parece ter definido seu rosto na pré-campanha, o da senadora Simone Tebet (MDB). Por tudo isso, é possível dizer que a partir desta semana todos os pré-candidatos a presidente passarão a deixar mais claros seus objetivos estratégicos, ao menos em termos de comunicação, nesta fase da disputa.

Com larga vantagem, conforme mostra o Agregador de Pesquisas do UOL, o time de Lula retoma o objetivo de liquidar a disputa ainda em primeiro turno. Sob nova direção na comunicação, o PT vai pontuar as diferenças entre o ex-presidente e Bolsonaro, acentuando a mensagem de que "o amor vai vencer o ódio" e chamando a atenção para o cenário econômico. O partido vai abordar, por exemplo, as iniciativas armamentistas do atual presidente, lembrando que a questão está no cerne dos debates nos EUA sobre o mais recente massacre de crianças em uma escola, ocorrido semana passada.

Do outro lado da disputa, Bolsonaro já começou a gravar as (muitas) inserções do PL que serão exibidas em junho. Do que se sabe até agora, a primeira-dama do país, Michelle, fará participação para tentar diminuir a rejeição do marido no eleitorado feminino. O presidente, em tom informal, também deverá abordar os problemas que afligem os brasileiros e falar do benefício pago por seu governo aos mais desfavorecidos.

Segundo apurou este colunista, porém, tanto o time de Lula quanto o de Bolsonaro passaram a avaliar o uso de ações de comunicação que tenham por objetivo aumentar a rejeição de seus oponentes já nesta fase da pré-campanha. No caso do presidente, o método teria por objetivo frear o crescimento do petista. Do outro da trincheira, a avaliação é de que aumentar a rejeição de Bolsonaro pode garantir a vitória de Lula ainda no primeiro turno.

O objetivo da pré-campanha de Simone Tebet, que também terá inserções de rádio e televisão no decorrer dos próximos meses, é tornar a senadora mais conhecida do eleitor. Reservadamente, os responsáveis pela comunicação da pré-candidata são cautelosos em termos de crescimento quantitativo nas pesquisas, diferentemente de muitos políticos que orbitam a terceira vai: ela só deverá começar a crescer substancialmente a partir de julho e agosto. Por ora, o objetivo permanece sendo o de apresentar Simone Tebet aos brasileiros.

No QG de Ciro Gomes a ordem é evitar o crescimento da onda pelo "voto útil" em Lula ainda no primeiro turno. O pré-candidato do PDT seguirá firme em sua toada de criticar o ex-presidente petista, mas, a partir de agora, com foco nas questões econômicas. Ciro insistirá na tese de que o modelo de crescimento utilizado e "reciclado" pelo PT é antiquado e não se adapta à nova realidade do Brasil e do mundo.

Nos bastidores, as dúvidas colocadas sobre as mesas dos comitês, gabinetes e escritórios da Faria Lima são de outra natureza, que não é a da comunicação eleitoral: 1) Há alguma chance de a economia melhorar até a eleição? 2) Em situação complicada, Jair Bolsonaro atuará dentro das quatro linhas, como ele gosta de dizer? 3) Para além da campanha eleitoral, se for derrotado, Bolsonaro respeitará o resultado das urnas?

Os próximos dias também podem indicar respostas para essas perguntas.

O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER

O GEORGE FLOYD BRASILEIRO
Foi grande a comoção com a morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos. O caso provocou consternação nacional após circularem as imagens do homem preso no porta-malas de uma viatura da PRF tomada por gás lacrimogêneo. A vítima morreu asfixiada e, segundo familiares, sofria de esquizofrenia.

A brutalidade da morte, somada à repercussão da recente operação policial no Rio, que matou 23 pessoas na Vila Cruzeiro, tem tudo para colocar o debate público sobre a violência policial na pré-campanha eleitoral. Ruim para o presidente Jair Bolsonaro, principalmente por tratar-se da Polícia Rodoviária Federal, e para os demais candidatos extremistas, que sofrem abalo no discurso de que o uso da violência é justificável em qualquer situação.

PROVA DE FOGO PARA LULA EM MG E PT X PSD NO PR
Lula visitará Minas Gerais novamente neste começo de junho. Desta vez, o pré-candidato petista aparecerá oficialmente ao lado de Alexandre Kalil (PSD), seu nome para o governo do estado. Os dois devem visitar, no próximo dia 10, a região conhecida como "Triângulo Mineiro", historicamente influenciada pelos ventos do agronegócio que sopram de São Paulo, de Goiás e do Mato Grosso do Sul. Ou seja, será uma estreia em território hostil.

Para fechar a aliança em Minas, Alexandre Kalil pegou um avião para se encontrar com Lula em São Paulo, na presença de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, do empresário Walfrido dos Mares Guia e do deputado estadual Agostinho Patrus (PSD-MG), que anunciou ao ex-presidente a desistência de ser vice na chapa em prol de um projeto maior. "O Brasil precisa do senhor", disse Patrus a Lula.

O ex-presidente agradeceu o gesto. A aliança foi fechada, com o petista André Quintão como vice e com o senador Alexandre Silveira (PSD) como candidato à reeleição. Ao fim e ao cabo, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) esticou demais a corda e perdeu a chance ter feito o gesto que coube a Patrus: renunciar a um projeto pessoal em nome da eleição nacional.

Enquanto em Minas Gerais o PSD se acertou com o PT, no Paraná a declaração de apoio do governador Ratinho Júnior, do mesmo partido de Alexandre Kalil, a Jair Bolsonaro deve forçar uma polarização entre ele e Roberto Requião (PT), embalada pela questão nacional. Nesse cenário, o PSDB, sempre tradicional na política paranaense, tentará se espelhar no governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP) para se tornar uma alternativa de terceira via. Nesta semana, os pré-candidatos ao governo do Paraná serão sabatinados pelos jornalistas do UOL e da Folha.

QUASE LÁ
A expectativa na terceira via é de que a adesão oficial do PSDB à pré-candidatura de Simone Tebet (MDB) a presidente aconteça ainda esta semana, quando o tucano Eduardo Leite deve ser anunciado pré-candidato a governador do Rio Grande do Sul com apoio dos emedebistas gaúchos.

Com Leite engajado na eleição para o governo, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) tem tudo para continuar sendo o mais cotado a ocupar a vice de Tebet.

ELE, NÃO
Cresceram as restrições à candidatura de Sérgio Moro ao Senado, por São Paulo, na aliança em torno de Rodrigo Garcia (PSDB). Agora, além de Milton Leite, principal cacique da União Brasil, o ex-juiz enfrenta muitas resistências entre tucanos, no Cidadania e no Podemos.

Em privado, o senador José Serra (PSDB), que será candidato a deputado federal, tem dito que trabalhará para que seu atual suplente, o também tucano José Aníbal, seja o candidato no lugar de Sérgio Moro.

O Podemos continuará firme na indicação do deputado estadual Heni Ozi Cukier. "Nenhuma outra candidatura me fará desistir", diz ele.