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Em discurso duro, Lula diz que 'ignorância gera Bolsonaro' e 'PSDB acabou'

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

31/05/2022 22h59

O ex-presidente Lula (PT) fez na noite dessa terça-feira, em São Paulo, um dos discursos mais duros contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o início de sua pré-campanha ao Palácio do Planalto. No lançamento de um livro com cartas enviadas a ele na prisão, em 2018, o petista afirmou que a "ignorância gera Bolsonaro" e que "o PSDB acabou".

O evento reuniu artistas e políticos, que leram cartas de terceiros, além de apoiadores, que leram as próprias cartas. O encontro aconteceu no teatro da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Estavam presentes a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-ministro Fernando Haddad (PT), pré-candidato ao governo paulista, e a socióloga Janja da Silva, esposa do ex-presidente.

Lula discursou ao final. Ele tratou de economia, falou de política externa e provocou até o PSDB, ex-partido do atual vice de sua chapa, Geraldo Alckmin, hoje no PSB.

"Colocar mais jovens para estudar não é uma opção, é uma necessidade. Nenhum país do mundo conseguiu ser independente e soberano sem investir na educação", afirmou Lula. "A ignorância, ela não gera um estadista, ela gera um Bolsonaro."

Durante o discurso, entre piadas e histórias próprias — e com plateia favorável —, ele fez diversas críticas ao governo Bolsonaro, seu principal concorrente nas eleições de outubro.

Lula fez referência a Genivaldo de Jesus Santos, morto por agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Sergipe na semana passada e chamado por Bolsonaro de "bandido", e citou ainda a chacina na Vila Cruzeiro, no Rio, e as chuvas em Pernambuco.

"Vocês viram o atual presidente chorar por alguma morte de gente com covid? Vocês viram o presidente chorar por alguma pessoa que morreu nesses acidentes todos e na chacina muitas vezes causada pela polícia? A violência na polícia hoje é a ausência do estado no cumprimento das suas funções."

Nem Biden foi poupado

Lula tem se dedicado em seus discursos a comparar seus dois mandatos presidenciais (2003-2010) com o atual governo, em especial no que impacta a renda das classes B, C e D.

"Eu jamais imaginei que a gente ia voltar a ter a pobreza que nós temos", completou Lula. "As pessoas estão se endividando para comprar cesta básica, que mundo é esse, gente?"

Esta foi uma das falas mais contundentes de Lula contra Bolsonaro e adversários. Sobrou até para o presidente norte-americano, Joe Biden, que, segundo Lula, permitiu que os EUA ficassem sem estoque de leite enquanto doava dinheiro para a Ucrânia.

Sobrou também para o PSDB. Ao falar do PT, lembrou do ex-senador Jorge Bornhausen. "Vocês estão lembrados que uma vez um senador do PFL, o Jorge Bornhausen, que disse que era preciso acabar com 'essa desgraça do PT'. O PFL acabou. Agora quem acabou foi o PSDB, e o PT continua forte."

O PSDB respondeu nesta quarta, pelo Twitter. O partido disse que Lula deveria "estar mais preocupado em responder porque [sic] a gestão do PT quase acabou com o Brasil" e ressaltou que o petista "segue na hipocrisia procurando líderes tucanos".

Lançamento de livro

Organizado pela editora Boitempo e pela PUC, o evento foi voltado ao lançamento do livro "Querido Lula", que reuniu com 46 das 25 mil cartas recebidas pelo Instituto Lula ao longo dos 580 dias de prisão de Lula na sede da Polícia Federal, em Curitiba.

Cerca de 40 pessoas ocuparam o palco, entre artistas políticos e ativistas, que leram as mensagens para um auditório lotado. As cartas relatavam histórias de dificuldade, superação e um apoio idólatra a Lula, que acompanhava as leituras emocionado.

Entre artistas, leram os relatos as atrizes Camila Pitanga, Denise Fraga e Cleo Pires. as cantoras Zélia Duncan —que também cantou "Juízo Final", de Nelson Cavaquinho— e Tulipa Ruiz e a ativista Preta Ferreira. Dilma Rousseff e Haddad (PT) também participaram das leituras. Janja, esposa o ex-presidente, leu duas cartas que escreveu enquanto os dois ainda namoravam.