País era feliz com polarização PT-PSDB, diz Lula após 'acabar' com partido
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou hoje (1º) que o Brasil era feliz quando a polarização política no país era entre petistas e o PSDB. O discurso —uma indireta à disputa atual contra o presidente Jair Bolsonaro (PL)— ocorre um dia após o próprio Lula falar, em São Paulo, que o PSDB tinha "acabado".
O ex-presidente participou de um encontro com educadores em Porto Alegre nesta tarde. É a primeira viagem da chapa de Lula com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) na pré-campanha eleitoral. Em seu discurso, o petista tratou mais uma vez da antiga disputa com Alckmin, ex-tucano, e afirmou que o confronto histórico era "civilizado".
"Por que chamar o Alckmin para ser meu vice? Eu comecei falando que a gente tem que perder as coisas para começar a valorizar. Eu já disse para o Alckmin: como esse país era feliz quando a polarização era do PT contra o PSDB", afirmou Lula, citando as disputas contra o senador José Serra (PSDB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o próprio ex-governador, que hoje está na mesma chapa.
Antes da polarização com o presidente Jair Bolsonaro (PL), PT e PSDB protagonizaram seis eleições seguidas durante 20 anos, de 1994 a 2014:
- Foram duas vitórias para os tucanos (FHC em 1994 e 1998, no primeiro turno) e
- Quatro dos petistas (Lula em 2002 e 2006 e Dilma Rousseff em 2010 e 2014).
"A gente era civilizado, a gente ganhava e perdia. Aprendi com o velho engenheiro Leonel de Moura Brizola: vai para casa, cuida das suas feridas e se prepare para outra luta. Era assim que a gente fazia. A transição que fizemos com Fernando Henrique foi a mais civilizada que esse país conheceu", completou o ex-presidente.
Você disputava eleição, mas não estava em guerra. Teu adversário não era seu inimigo. Se você terminasse um comício aqui em Porto Alegre, ia encontrar no bar o adversário de outro partido e tomar uma cerveja junto. O que aconteceu nesse país em tão pouco tempo?"
Lula, em evento em Porto Alegre
Em outro evento, PSDB 'acabou'
Um dia antes, na terça-feira (31), em São Paulo, Lula havia falado que o PSDB havia acabado. "Vocês estão lembrados que uma vez um senador do PFL, o Jorge Bornhausen, que disse que era preciso acabar com 'essa desgraça do PT'. O PFL acabou. Agora quem acabou foi o PSDB, e o PT continua forte", disse o ex-presidente.
A provocação, claro, não repercutiu bem entre os tucanos —nas redes sociais, o partido acusou o adversário de hipocrisia. O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), ex-presidente da legenda, classificou a fala como "arrogante e desrespeitosa".
"Para a gente construir esse clima de paz, nós passamos 21 anos para derrubar um regime militar. Muita gente nossa morreu na cadeia. Muita gente morreu matada e inventaram que foi acidente", disse Lula hoje, em mais uma indireta a Bolsonaro.
No discurso de ontem (31), durante o lançamento de um livro em São Paulo, o ex-presidente fez algumas das mais duras críticas ao principal adversário nas eleições de outubro.
"Colocar mais jovens para estudar não é uma opção, é uma necessidade. Nenhum país do mundo conseguiu ser independente e soberano sem investir na educação", afirmou Lula. "A ignorância, ela não gera um estadista, ela gera um Bolsonaro."
Viagem ao Sul
Lula e Alckmin estão em Porto Alegre para um grande evento marcado para esta noite. É a primeira viagem com os dois juntos na pré-campanha eleitoral.
Com a visita, o PT também espera começar a retomar o prestígio que um dia teve no estado. Hoje de perfil conservador, o Rio Grande do Sul deu 63% dos votos a Bolsonaro no segundo turno em 2018 contra Fernando Haddad (PT), mas votou em Lula de 1989 a 2002. Em 2006, virou Alckmin (então no PSDB) e, desde então, não elegeu mais o PT para a presidência.
Os dois também têm de lidar com um impasse interno quanto à disputa estadual, que envolve pré-candidatos do PT e do PSB.
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