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Com impasse local, RS é 1º teste de Lula-Alckmin em estado desfavorável

Lula e Alckmin, na primeira reunião da coordenação da campanha  - Divulgação/Ricardo Stuckert
Lula e Alckmin, na primeira reunião da coordenação da campanha Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

01/06/2022 04h00

A chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvia (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) desembarca em Porto Alegre hoje (1º). É a primeira viagem com os dois juntos, na pré-campanha eleitoral.

Com evento marcado em uma grande casa de eventos, a equipe tem como principais desafios dialogar com um estado conservador, onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve maioria de votos em 2018, e lidar com o impasse interno quanto à disputa estadual, que envolve pré-candidatos do PT e do PSB.

Em meio a um entrave semelhante em Santa Catarina, a visita a Florianópolis, marcada para amanhã (2), foi cancelada. Este tipo de situação é exatamente o que a campanha nacional pretende evitar. A avaliação é que divisões estaduais só atrapalham a candidatura de Lula e um palanque concentrado é melhor do que dois.

Em reunião ontem, os presidentes partidários Gleisi Hoffmann (PT) e Carlos Siqueira (PSB) concordaram, junto a Lula e Alckmin, que a aliança deve ter só um candidato em todos os estados e estabeleceram o prazo de duas semanas para resolver os impasses.

Impasses regionais

Na capital gaúcha, o evento está marcado para as 18h em uma casa de eventos para 5.500 pessoas no bairro Anchieta, zona norte. Deverão falar tanto Lula quanto Alckmin, com a presença de lideranças locais do PT como a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-governador Tarso Genro e o deputado estadual Edegar Pretto, pré-candidato ao governo do partido.

O PSB local não deverá comparecer. O ex-deputado Beto Albuquerque (PSB), também pré-candidato ao governo, diz que o evento foi todo montado voltado ao PT e que, naturalmente, deverá ser voltado à pré-candidatura de Pretto.

No último sábado (28), o PT gaúcho já fez um evento em Porto Alegre para cerca de mil pessoas com as mesmas lideranças para endossar o apoio ao deputado.

"Isso significa que tomaram uma decisão de encerrar a conversa mesmo. Se confirmou seu candidato, não dialogou praticamente nada com a gente e organiza o evento sozinho, tá dado que temos de escolher outro caminho", afirma Albuquerque.

O ex-deputado argumenta que, em um estado conservador como o Rio Grande do Sul, ele consegue atrair mais eleitores ao centro.

Sem Lula, ameaça fechar a coligação local com o PDT e dar palanque a Ciro Gomes (PDT). "Respeito muito as decisões do PT, [mas] se não querem estar comigo, também não vou estar com eles", afirma.

O PT gaúcho, por sua vez, diz que segue dialogando com o PSB e espera chegar a uma resolução, mas, caso não tenha, poderia lançar os dois candidatos. Os petistas argumentam que Pretto teria mais apoio dos outros cinco partidos da aliança nacional.

Na última pesquisa divulgada pelo Real Big Data, nesta semana, os dois aparecem empatados atrás do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e do ex-governador Eduardo Leite (PSDB).

'Questões logísticas'

Caso semelhante ocorre em Santa Catarina, para onde a campanha adiou a viagem que deveria ocorrer logo depois de Porto Alegre, a partir de amanhã (2).

O motivo alegado pelo ex-deputado Décio Lima (PT-SC), presidente estadual e pré-candidato ao governo, foram questões logísticas, para encontrar local adequado para os eventos, e climáticas em Florianópolis.

O adiamento, no entanto, se deu em meio a um atrito local com o PSB, que tem o senador Dario Berger (PSB-SC) também como pré-candidato. Figura histórica do MDB e ligado à centro-direita em Santa Catarina, ele se filiou ao PSB no fim de março, no mesmo evento de filiação de Alckmin. Segundo sua assessoria, ele passou há pouco por um procedimento cirúrgico e não estaria presente em Florianópolis para receber Lula.

A expectativa do senador era que ele fosse o candidato da frente ampla liderado pelo PT e reforçasse, inclusive, o discurso de aliança plural, dado que seu nome nunca foi ligado à esquerda. Por isso, argumentam apoiadores, ele seria um candidato mais viável do que Lima, em um estado majoritariamente conservador e de amplo apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

O deputado federal Pedro Uczai (PT-SC), único petista da bancada catarinense na Câmara, diz que ainda é momento de diálogo, mas afirma não ver dois palanques para Lula em Santa Catarina como "o fim do mundo".

"Nesse momento, cada partido explicita suas lideranças, seus desejos. Acho que tem de buscar um entendimento. Acho que tem de conciliar. O ideal é ter uma candidatura maior juntas, interessa para todo mundo. Agora, para onde não for possível, a gente tem de fazer um acordo de boa convivência", afirma.

A chapa nacional está tentando evitar exatamente isso. Por isso, a comitiva da campanha definiu que a aliança deve ter só um candidato em todos os estados e estabeleceram os prazos de uma semana para resolver os impasses.

Gleisi está em Porto Alegre para se reunir com a executiva estadual desde ontem, e deverá apontar os encaminhamentos da reunião nacional. Está dado que cada partido deverá ceder em estados diferentes, resta saber qual em que estado.

Seja qual for o caminho, a viagem servirá também para isso e o rumo, no Rio Grande do Sul, deverá ser evidenciado no evento da tarde.

Como trunfo, os petistas citam o exemplo de Minas Gerais, em que Lula não contou com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) em seu palanque, mas, após conversas, conseguiu o apoio formal e deverá fazer evento juntos em nova viagem ao estado no meio do mês.

Prestígio perdido

Com a visita, o PT também espera começar a retomar o prestígio que um dia teve no estado. Hoje de perfil conservador, o Rio Grande do Sul deu 63% dos votos a Bolsonaro no segundo turno em 2018 contra Fernando Haddad (PT), mas votou em Lula de 1989 a 2002. Em 2006, virou Geraldo Alckmin (então no PSDB) e, desde então, não elegeu mais o PT para a presidência.

A campanha também está de olho em possíveis protestos. Em 2018, foi na caravana pelo Sul, no interior do Paraná, que um ônibus com o ex-presidente foi atingido por tiros. Por isso, a segurança no percurso deverá ser reforçada, sem detalhes divulgados pela campanha.

O grupo avalia que pode haver algum protesto de grupos bolsonaristas, mas diz não esperar qualquer intercorrência grave. A campanha vê como "bravata" o discurso de apoiadores do presidente de que o petista teria dificuldade em circular pelo Sul.

O discurso também está alinhado. Em agenda fechada, Lula e Alckmin devem trabalhar nas articulações e o pré-candidato a vice deverá mostrar sua movimentação em setores tradicionalmente mais resistentes ao petista.

Em sua fala oficial, Alckmin deverá citar emprego, crescimento e as dificuldades dos pequenos produtores com a inflação. Lula deverá seguir dialogando com trabalhadores e comparando sua gestão (2003-2010) à atual.