Lula critica Bolsonaro no RS: 'Coloca o filho para disputar contra a mãe'
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a ironizar e criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL), seu concorrente na disputa eleitoral, em fala com profissionais da área da cultura hoje em Porto Alegre. Sem citar o nome do presidente, Lula questionou a "experiência de família" de um "cidadão que coloca um filho pra disputar uma eleição contra a mãe".
O petista tem subido o tom contra Bolsonaro nos últimos dias —ainda que a estratégia de sua equipe de comunicação seja de não citar o nome do opositor. No mesmo discurso, durante o último evento da viagem ao Rio Grande do Sul, repreendeu a atual gestão de cultura e disse que o Brasil ensina a história da escravidão errado.
A uma plateia formada por artistas de diferentes áreas, com presença o diretor Jorge Furtado, Lula questionou a implicância do governo atual com a produção cultural brasileira e aproveitou para cutucar Bolsonaro.
"Quando você toca uma música com uma palavra que ele não goste —porque é isso, ele tem que gostar— nada presta. Quando tem uma peça de teatro que fala alguma coisa real da nossa vida, que trata gente como gente, não pode! 'Isso depõe contra a família'", imitou Lula
De quem família esse cara [Bolsonaro] tá falando? Qual é a experiência dele de família? De que família? A família de quem? A nossa não é. Não posso admitir que um cidadão que coloca um filho para disputar uma eleição contra a mãe venha falar para mim de família nesse país, não posso admitir."
Lula, a profissionais da cultura
O petista se refere a uma história antiga, que costuma irritar Bolsonaro. Nas eleições municipais de 2000, o então deputado federal colocou o segundo filho, vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) para disputar a vaga contra a própria mãe, Rogéria Bolsonaro, ex-mulher do presidente e candidata à reeleição.
Rogéria, casada com Bolsonaro entre 1978 e 1997, foi eleita vereadora no Rio de Janeiro em 1992 e reeleita em 1996, nas duas vezes com apoio do então marido, já deputado popular no estado.
Com a separação, Bolsonaro incumbiu ao filho, então com 17 anos, a disputa da vaga pelo PPB (hoje PP) —partido ao qual os três eram filiados—, contra Rogéria. Com o apoio do pai e sem poder usar o sobrenome, o filho levou a melhor.
"Que família esse cidadão tá falando? Vamos proibir a cultura, vamos trancar. Não pode ser assim. 'Teatro é coisa de vagabundo, de quem não gosta de família, de quem gosta de sacanagem'", continuou Lula. "As pessoas precisam ter acesso a todo e qualquer tipo de informação para poderem se informar melhor, para poderem pensar melhor."
'Jeito que a gente conhece a história da escravidão é uma mentira'
No discurso, o presidente pregou que a cultura e a educação são duas áreas interligadas e que, para ele, a forma como livros de história contam revoltas populares são enviesadas.
"Não é só um livro que ajuda a politizar as pessoas, porque, como a história do Brasil foi contada pelos vencedores, muita coisa falta contar para o povo", disse o ex-presidente. "O cinema pode, o teatro, o audiovisual, tudo pode ajudar o país a se desenvolver e se informar melhor."
Falta contar a história da rebeldia dos negros desse país, em que Zumbi é tratado como bandido. As tantas revoltas populares desse país que não são contadas. A Revolta dos Malês, na Bahia, é contada de forma equivocada. Do jeito que a gente conhece a história da escravidão desse país é uma mentira."
Lula, a profissionais da cultura
Ele prometeu criar comitês estaduais de cultura com foco em promoção e projeção nacional de cada cultura local com o objetivo de tentar evitar que os recursos e as referências culturais do país sigam "concentradas no eixo Rio-São Paulo".
Esta é a primeira viagem de Lula junto ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seu vice na chapa. Os dois participaram de três outros eventos na capital gaúcha e devem voltar ainda nesta noite para São Paulo.
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