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Lula tem agenda movimentada no Sul, mas volta sem resolver impasse local

Lula, Dilma, Alckmin e Janja no principal evento da viagem a Porto Alegre - JOSÉ CARLOS DAVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula, Dilma, Alckmin e Janja no principal evento da viagem a Porto Alegre Imagem: JOSÉ CARLOS DAVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

03/06/2022 04h00

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) encerraram no fim da tarde de ontem (2) a viagem ao Rio Grande do Sul, primeira da chapa, junta, na pré-campanha.

Com quatro agendas em pouco mais de um dia e meio, os dois tiveram uma agenda movimentada, que incluiu encontros com diferentes setores e um grande evento em Porto Alegre. A comitiva não conseguiu, no entanto, avançar no impasse pelo governo estadual entre PT e PSB.

Lula e Alckmin chegaram a Porto Alegre na manhã de quarta-feira (1º). À tarde, participaram de um encontro com educadores, onde, junto a lideranças petistas como a ex-presidente Dilma Rousseff e os ex-governadores gaúchos Olívio Dutra e Tarso Genro, ouviram demandas e problemas locais.

Este também foi o modelo das duas agendas de ontem (2), mas com cooperativas e pequenos agricultores, na manhã, e com profissionais da cultura, à tarde. Todos seguiram o mesmo rito: Lula e companhia ouviam as demandas por cerca de uma hora e meia, depois alguns falavam e o ex-presidente encerrava o ato.

Os discursos abordaram temas recorrentes da pré-campanha, como críticas à economia brasileira atual e ao governo Jair Bolsonaro (PL), e assuntos específicos de cada área.

Queixas no principal evento

O principal evento da viagem foi realizado na noite de quarta, em uma casa de eventos para quase 6 mil pessoas na zona norte da cidade, próxima ao aeroporto. No palco, Lula e Alckmin reuniram não só petistas como outras lideranças da aliança, como Manuela D'Ávila (PCdoB) e Juliano Medeiros (PSOL), presidente da sigla.

Neste evento, o elefante branco da viagem foi colocado no centro do palco. Atualmente, a aliança tem hoje três pré-candidatos ao governo gaúcho:

  • O deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS),
  • O vereador porto-alegrense Pedro Ruas (PSOL) e
  • O ex-deputado Beto Albuquerque (PSB).

O PT esperava reunir os três pré-candidatos no palco do grande encontro, mas Albuquerque e o PSB gaúcho não foram sob a alegação de que o evento era voltado a promover o postulante petista. A ausência do partido que compõe a chapa principal irritou e constrangeu Lula, que abriu sua fala reclamando do impasse.

Eu queria fazer um apelo para os militantes do partidos que estão nos apoiando: por favor, sentem na mesa, tomem até um aperitivo se quiserem, mas tentem chegar a uma solução. Para que a gente não possa fazer um comício e não estar do nosso lado, aqui, o candidato ou candidata a governador... Fica uma coisa meio trouxa."
Lula, em Porto Alegre

O tom de união e "sentar na mesa" foi repetido pela maioria das lideranças. Só se desviou do assunto Alckmin, único representante do PSB no palco, que teve a fala mais curta da noite. Albuquerque não só tem dito que não subirá ao palanque de Lula como aponta coligação local com o PDT, de Ciro Gomes.

Embora seja tratado pela campanha como um assunto voltado aos presidentes partidários —e não aos pré-candidatos—, uma das expectativas da viagem era que Lula e Alckmin ajudassem a resolver o impasse, como ocorreu em Minas Gerais em maio, quando o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) não participou do palanque petista. No entanto, após conversa pessoal com o ex-presidente, oficializou o apoio.

Até agora, no Rio Grande do Sul, não houve jeito. A deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente da sigla, chegou um dia antes a Porto Alegre exatamente para tratar dessas questões, mas sem resultado. Uma situação semelhante em Santa Catarina ajudou a cancelar a visita a Florianópolis, marcada para o final desta semana.

Após o evento, Albuquerque não quis se pronunciar à imprensa, mas seguiu agenda de pré-campanha, sem se encontrar com os petistas, e, no Twitter, debochou dos apelos do ex-presidente. Interlocutores consideram este debate uma pauta esgotada.

Lula, por sua vez, voltou a fazer o apelo no final da tarde de ontem, durante evento com artistas e profissionais da cultura. A Pretto, Ruas e ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS), ele solicitou ajuda.

"É importante que vocês nos ajudem. Eu não estou pedindo muita coisa para vocês, mas, pelo amor de Deus, se unam aqui. Escolham um candidato ou uma candidata a governador, escolha um senador, escolha um vice e vamos ganhar essa p*rra dessas eleições também nesse estado."

Impasse em outros estados

É exatamente este tipo de situação que a campanha nacional quer evitar. A avaliação é que as eleições estaduais reproduzem a polarização nacional entre Lula e Jair Bolsonaro (PL) e ter duas candidaturas à esquerda, de oposição ao atual presidente, enfraqueceria ambas.

Em reunião na segunda-feira (30), Gleisi e Carlos Siqueira (PSB), presidente do PSB, concordaram, junto a Lula e Alckmin, que a aliança deve ter só um candidato em todos os estados e que as situações regionais devem ser resolvidas até o dia 15 de junho.

Além do Rio Grande do Sul, os dois partidos enfrentam entraves em Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.