Não faremos papel de idiota, diz Bolsonaro ao citar Exército e atacar urna
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar as urnas eletrônicas e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), declarando que ele, que é "chefe das Forças Armadas", e a instituição "não serão feitos de idiota". No discurso, o mandatário reciclou uma série de boatos já desmentidos, além de levantar suspeitas infundadas sobre os resultados de eleições anteriores. Nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras desde a adoção da urna eletrônica.
"Que justiça é essa? Onde está o nosso TSE quando convida as Forças Armadas, via portaria, assinado pelo ministro Barroso, a participar de uma comissão de transparência eleitoral. As Forças Armadas descobrem centenas de vulnerabilidades, apresentam 9 sugestões, não gostaram. Eleição é coisa para forças desarmadas. Convidaram eles para que, ora bola? Para fazer papel de quê? Eu que sou chefe das Forças Armadas. Nós não vamos fazer o papel de idiotas. Eu tenho a obrigação de agir. Tenho jogado dentro das quatro linhas, não acho uma só palavra minha, gesto ou ato fora da constituição", disse o presidente no evento "Brasil pela Vida e Família".
Em fevereiro, o TSE informou que enviou às Forças Armadas um documento de cerca de 700 páginas com respostas sobre o sistema de votação eletrônico. A Corte eleitoral não divulgou o conteúdo do documento a pedido das Forças Armadas. As perguntas, que foram apresentadas ao TSE em meados de dezembro pela instituição, têm natureza técnica, com diversos graus de complexidade, segundo o Tribunal.
Apesar dos sucessivos questionamentos ao sistema eleitoral, inclusive com perguntas fora do prazo, as Forças Armadas tiveram uma participação tímida na segunda rodada de testes conduzidos pelo TSE para verificar a segurança das urnas eletrônicas. O Teste de Confirmação foi concluído no dia 13 de maio e foi a segunda etapa do chamado Teste Público de Segurança, evento realizado pelo TSE para verificar a segurança do sistema eleitoral por meio de ataques simulados.
Ataque ao ministro Fachin
No evento, que teve a presença de diversos políticos apoiadores do presidente, Bolsonaro novamente subiu o tom contra Edson Fachin, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE.
Outro caso hipotético: João assassinou a esposa Maria e ele foi condenado. Algum tempo depois descobriu que João não era casado com a Maria, eles viviam em união estável, então, soltam o João. Volte o processo para as origens. Assim foi a absolvição do Lula. Patrocinado por quem? Edson Fachin. Ele que botou o Lula em liberdade. Baseado no quê? No CEP. Ele não poderia ser julgado em Curitiba, tinha que ser julgado em São Paulo ou Brasília e anulou-se na época, que já se prescrevia, todas as acusações contra ele. Que Brasil é esse? Jair Bolsonaro
O ministro anulou, em 2021, todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) feitas pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Operação Lava Jato. Fachin argumentou à época que os magistrados de Curitiba não eram o juízo competente para julgar Lula enquanto ele ainda era presidente da República e residia em Brasília. Na avaliação de Fachin, a Justiça Federal do Distrito Federal em Brasília é quem deve julgar os processos do ex-presidente.
"Será que três do STF, que podem muito, podem continuar achando que podem tudo? Eu não vou viver como um rato. Tem que haver uma reação e se a população acha que não tem que ser dessa maneira, preparem-se para ser prisioneiros sem algemas. O ministro que solta o Lula é o mesmo que está à frente do TSE dando as cartas, como o dono da verdade", continuou o presidente.
Bolsonaro está subindo o tom frequentemente contra o ministro e o TSE. Em sua live semanal, no dia 27 de maio, o chefe do Executivo também mentiu ao dizer que Fachin foi "advogado" do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Em entrevista a um podcast em abril, o mandatário já tinha atacado Fachin e insinuado que o ministro agia para "favorecer Lula". Na ocasião, o atual governante, que será candidato à reeleição, buscou medir as palavras, mas declarou considerar que, "se depender do Fachin", "Lula será presidente da República".
Fraudes sem provas em 2018
Sem provas, o mandatário voltou a apontar fraudes nas eleições de 2018, afirmando que os eleitores apertavam o número "1" e a votação era concluída com o número "13", usado pelo PT. Um perito consultado pela reportagem do UOL Confere analisou as gravações citadas hoje por Bolsonaro e concluiu que elas não demonstram fraude. A Justiça Eleitoral sustenta que os vídeos são falsos, que não é possível o voto ser completado sem que alguém aperte a tecla "confirma" e que não há indícios de fraude.
Mais cedo, Bolsonaro também saiu em defesa do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR), que está com um processo de cassação em julgamento no STF. Em entrevista ao SBT, o presidente acusou a Justiça Eleitoral de "perseguição" contra o parlamentar, que foi condenado por ter afirmado que as urnas foram fraudadas para impedir o voto em Bolsonaro em 2018.
"Esse deputado [Francischini] não espalhou fake news porque o que ele falou na live, eu também falei para todo mundo, que estava havendo fraude nas eleições de 2018. Quando você apertava o número 1, aparecia o número 13 e concluía a votação. Foram dezenas de vídeos, dezenas de pessoas que ligaram para mim ao longo da noite da primeira votação do primeiro turno de 2018. Isso é uma verdade e esse deputado foi cassado."
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