Topo

Chuvas, polícia e transportes: o que prometem pré-candidatos em Pernambuco

Do UOL, em São Paulo

11/06/2022 04h00

Pernambuco totalizou mais de 120 mortes após as mais recentes chuvas. Por isso a questão foi um dos focos de promessas de pré-candidatos ao governo do estado durante as sabatinas promovidas por UOL e Folha de S.Paulo nesta semana.

A deputada federal Marília Arraes, do Solidariedade, à frente das pesquisas de intenção de votos, disse que vai investir em infraestrutura e fazer a drenagem dos morros para evitar desabamentos.

"Não tinha uma política para esse problema estrutural, onde a periferia é composta por morros. É necessário que o estado tenha uma intervenção metropolitana, para que as cidades não atuem de forma isolada. O estado não está fazendo a sua parte."

Ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, uma das cidades mais atingidas, Anderson Ferreira (PL) culpou a força das chuvas, "inédita há 47 anos". "A gente não pode achar culpado, num momento como esse, numa tragédia como essa. Em 1975, foi que houve chuva parecida com o que ocorreu em Jaboatão, mais de 500 ml em três, quatro dias. Isso não existe. O que ocorreu não ocorre há 47 anos, um volume de água como aquele. Lógico que precisa investir em políticas públicas habitacionais", afirmou, citando que investiu em muros de arrimo para conter as encostas, mas a força da chuva levou tudo.

Aproveitou para criticar o governo de Paulo Câmara (PSB), dizendo que o governador se isolou e não dialogou com os prefeitos nem durante a tragédia das chuvas nem durante a pandemia da covid-19. "O PSB tem de parar de jogar a culpa nos outros."

Miguel Coelho, do União Brasil, culpou o governo do estado pelos mortos, responsabilidade "compartilhada com prefeitos de respectivas cidades".

"A parte de macrodrenagem, política de habitação, área de risco, é de obrigação da prefeitura em corresponsabilidade com governo do estado. Isso passa por investimento em saneamento básico, micro e macrodrenagem, não só na contenção de encostas, mas na parte de habitação."

Já a tucana Raquel Lyra disse que a gestão de Paulo Câmara não fez os investimentos necessários para conter as encostas.

Do PSB, partido que comanda o estado desde 2007 e a Prefeitura do Recife desde 2013, Danilo Cabral responsabilizou o Estado pelas ocupações irregulares que levaram a tantos mortos no estado.

Ele disse que o país passou por um processo intenso de mudança demográfica em um período de 50 anos, que transformou a paisagem rural do Brasil para predominantemente urbana, mas as cidades não conseguiram comportar esse contingente, o que, consequentemente, levou as pessoas a morarem nos morros.

"As pessoas não foram morar no morro porque queriam, foram porque não houve priorização de dar moradia a essas pessoas. Se você observar, o Estado colocou na Constituição o direito à habitação como direito social em 2000, houve descaso do Estado durante todo esse processo", completou.

Também defendeu um investimento direcionado a moradias populares. "A gente precisa juntar esforços. Essa não é uma solução que nenhum ente da federação isoladamente vai conseguir superar. Nós temos um déficit de habitação no Brasil que hoje chega a quase 8 milhões de pessoas que não têm casa. Fora isso, há um conjunto necessário de infraestrutura de habitabilidade, obras de drenagem, saneamento, e nenhum ente consegue fazer isso só", disse.

O comunista Jones Manoel criticou o PSB e exaltou a gestão de João Paulo (PT) na Prefeitura do Recife, a partir de 2001. "Com ele, foram quase oito anos sem mortes. O governo do PSB nunca fez uma política de moradia popular. A tragédia podia ter sido evitada", afirmou.

"Não é uma tragédia natural quando você tem uma política proposital de não investir em saneamento básico, prevenção a tragédias e moradia popular. A chuva não mata, o que mata é uma política que despreza o interesse da classe trabalhadora."

João Arnaldo (PSOL) disse que vai criar programas de moradia. "Vamos liderar um plano de erradicação de pontos de áreas de risco com moradias na região metropolitana do Recife, e nós vamos financiar isso, já estamos consolidando os cálculos. Vamos requalificar, criar áreas de lazer, [pois] não é só tirar as casas da situação de não cair, mas também garantir qualidade de vida na periferia", declarou.

Transportes e segurança

Na área dos transportes, Marília prometeu fazer vários modelos de bilhete único para o transporte público. "Precisamos rever o consórcio Grande Recife" e "fazer uma licitação decente". "Tudo isso vai impactar no valor da tarifa", disse. "Estamos estudando o impacto para cada valor e modelos", afirmou, citando modelos diários, semanais, mensais e anuais.

Coelho, por sua vez, prometeu fazer um bilhete integrado nos transportes públicos, em vez de ter uma tarifa única, e privatizar o metrô. "Não pelo governo federal, mas pelo governo do estado. Para integrar modais de ônibus, metrô e alternativos."

Sobre segurança pública, Marília disse ser importante que "as tropas estejam motivadas" e "integrar o trabalho das polícias". "Os recursos estão sendo usados principalmente para burocracias. A gente quer colocar para investimento em equipamento para as guardas municipais, em viatura, em armas não letais, investir em inteligência."

"Pernambuco está perdendo a guerra diante do crime organizado porque não tem um governante com firmeza, que não toma para si a solução dos problemas", criticou.

Ferreira prometeu acabar com as faixas salariais na polícia e investir em equipamentos de maior qualidade.

"O que estamos vivendo é tropa desmotivada, se criou até faixas salariais para dificultar o avanço salarial dos militares; frota sucateada; falta de aparelhamento da polícia. Isso precisa ser revisto", afirmou, defendendo o direito de a população estar armada e contra as câmeras nas fardas policiais.

Coelho disse que a polícia "precisa ser empoderada" e chamou o Pacto pela Vida de projeto "falido".

"Precisamos de uma política de valorização, não só salarial, mas também, porque motiva a tropa. Precisamos fazer um grande projeto, programa de investimento, valorização, aparelhamento para que policiais tenham inteligência na hora de atuar. Defendo uma polícia integrada, Guarda Municipal em parceria com Polícia Militar e Civil", afirmou.

Ainda sobre o assunto, ele acrescentou que o "bandido não pode achar que tem direito em Pernambuco, quem precisa de respeito é a polícia". "A gente precisa ter uma mão muito dura. Claro que quem cometer abuso, excesso, vai pagar pelo preço da lei, mas não podemos ter policiais amedrontados."

Raquel Lyra também criticou o Pacto pela Vida, do qual participou na implantação. "O que era uma política pública efetiva acabou virando coisa para tirar retrato", disse. "A gente precisa iniciar um novo um programa integrado de combate à violência e de busca de prevenção social em Pernambuco. Nós fizemos isso em Caruaru com o Juntos pela Segurança."

Jones Manoel concordou com o termo de "falido" dado por adversários ao Pacto pela Vida. Propôs, para reduzir a violência policial, a utilização de câmeras nas fardas e a criação de um comitê externo de defesa dos direitos humanos para fiscalizar a ação da polícia e monitorar as imagens.

"Além disso, a gente tem que fazer com que exista uma capacidade investigativa real. Polícia no Brasil é basicamente repressão. A capacidade de resolução de homicídios é muito baixa", afirmou, dizendo que o essencial é cumprir a lei e que isso não acontece hoje.

João Arnaldo prometeu "criar uma escola de formação de segurança e direitos humanos para todas as corporações, cursos paralelos e mais investimentos em equipamentos e inteligência".