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Rede oficializa apoio a Haddad e aproxima Marina de chapa em São Paulo

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

11/06/2022 12h13Atualizada em 11/06/2022 14h02

O partido Rede Sustentabilidade oficializou hoje o apoio à pré-candidatura de Fernando Haddad (PT) ao governo de São Paulo. A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) participou do evento na capital paulista ao lado do petista.

A celebração é considerada por políticos próximos a Haddad e à ex-ministra um aceno importante de aproximação entre os dois — ela é desejada para assumir a posição de vice da chapa em que o ex-prefeito disputará o Palácio dos Bandeirantes. No entanto, a decisão ainda esbarra em negociações com o PT e em conflitos internos da federação Rede/PSOL.

A Rede anunciou no final do mês de maio que decidiu compor uma aliança com o PT. Hoje, no evento, o partido entregou sugestões para o plano de governo de Haddad, com ações voltadas para o meio ambiente.

Desde a decisão pela aliança, as especulações sobre o nome de Marina junto a Haddad têm aumentado nos dois partidos. O ex-prefeito diz reservadamente que Marina é a "vice dos sonhos", como noticiou o jornal O Estado de São Paulo.

Em sua fala hoje, Marina Silva caracterizou o encontro como "programático". "Diretrizes que foram discutidas e que serão entregues ao futuro governador são as bases do nosso diálogo", disse.

A ex-ministra não comentou diretamente participar da chapa com Haddad. "Tomei todas as providências legais e estou apta a ser candidata federal por São Paulo. Mas ainda vou bater o martelo. É uma discussão que estou fazendo com a Rede".

Em entrevista ao colunista do UOL Chico Alves, a Marina Silva citou a negociação entre PT e PSB como algo que precisa ser definido antes da escolha do vice de Haddad. Ela, porém, não descartou ser essa pessoa.

Já Haddad iniciou sua fala de hoje saudando Marina como "companheira" e que o encontro era uma "comunhão". "Sou próximo da Marina desde que a conhecia e sou admirador antes de conhecer", disse Haddad sobre a ex-ministra. "Sei exatamente o que é abraçar Marina Silva no dia de hoje", concluiu.

Haddad disse ainda que há "pendências a ser desatadas" antes de anunciar essa decisão da chapa, em conversa com jornalistas após o evento.

"Há uma possibilidade, talvez, de que haja um acordo com o PSB. A hora que isso for conformado, aí, sim, nós vamos definir a chapa majoritária", disse o ex-prefeito.

Na última quinta-feira (9), uma pesquisa do Instituto Ideia, contratada e publicada pela revista Exame, aponta Haddad na liderança da disputa pelo governo de São Paulo, com 27% das intenções de voto.

Dois ex-ministros de Lula

Marina e Haddad são amigos, segundo pessoas próximas aos dois políticos, e semeiam boas relações desde quando trabalharam no mesmo período nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Marina já foi filiada ao PT e ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008 e Haddad, ministro da Educação entre 2005 e 2012.

O encontro entre os dois no evento de hoje aconteceu após uma semana de conversas e acenos. Na última segunda-feira (6), Haddad foi entrevistado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, e Marina deu RT e repercutiu positivamente dois tuítes com falas do pré-candidato durante a entrevista.

Além da boa relação, pesa a favor de Marina sua projeção política nacional e o fato de ter potencial para cumprir um objetivo crucial da campanha: atrair eleitores de centro. A ideia é receber os votos de eleitores mais resistentes ao PT, principalmente no interior do estado.

Na Rede, integrantes do partido ouvidos pela reportagem relatam que a sigla abriu espaço para que a decisão de Marina de compor com Haddad seja individual.

Antes da federação com o PSOL, ela sairia a deputada federal pela Rede para conseguir puxar votos a outros candidatos e evitar que o partido tivesse problema com a cláusula de barreira das eleições, ficando sem acesso ao fundo partidário.

Apesar da vontade do próprio ex-prefeito de fechar com Marina, políticos próximos de Haddad pedem cautela. Eles relatam ao UOL que a possibilidade de compor com Marina Silva está em fase de negociações. É preciso "girar muitos pratos ao mesmo tempo" para agradar a todos os partidos da aliança, conforme relatou um interlocutor de Haddad à reportagem.

A cadeira de vice de Haddad é cobiçada pelo PSB e PSOL.

Na aliança construída com o PSB, o PT trouxe Geraldo Alckmin (PSB) para ser vice de Lula na corrida presidencial e negocia espaço para o partido como vice de Haddad. O nome do ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette também é cotado como possível vice.

A decisão do futuro político do ex-governador Márcio França (PSB) também é considerada importante para o PT escolher o nome para vice em São Paulo. França deseja sair candidato ao governo do estado, mas também tem sobre a mesa a opção de disputar o Senado Federal pela aliança PT-PSB.

Para além disso, tanto o PT quanto a Rede terão de convencer os aliados do PSOL para emplacar o nome de Marina.

O clima com psolistas vem piorando nos últimos dias. O partido afasta a possibilidade de Marina ser vice de Haddad. Por estarem em uma federação partidária, políticos do PSOL teriam poder de barrar o nome de Marina caso ela fosse indicada ao cargo pela sigla. Enquanto isso, o diretório estadual do PT não deseja na vice um nome do PSOL.