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Bolsonaro volta a atacar TSE e diz que complica se Lula ganhar na 'dúvida'

Paulo Roberto Netto e Isabela Aleixo

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

12/06/2022 21h24Atualizada em 13/06/2022 11h22

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) neste domingo (12) e disse que, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar na "suspeição da dúvida" neste ano, "aí complica". Ele também acusou os ministros do STF Edson Fachin, Roberto Barroso e Alexandre de Moraes de "imparcialidade" e defendeu a nota enviada pelo Ministério da Defesa à Corte Eleitoral.

As declarações de Bolsonaro foram feitas durante participação na CPAC Brasil, evento conservador realizado em Campinas (SP), por transmissão ao vivo em um telão. Em fala que durou cerca de uma hora, o presidente respondeu a questionamentos de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL), deputado federal e organizador da convenção.

"Ciro Gomes, há poucos dias, disse que, se o Lula ganhar, o mundo amanhece em guerra no dia seguinte. Obviamente, eu não vou interpretar a palavra do Ciro. Eu digo uma coisa: se ganhar no voto, lamentavelmente, eu não tenho muito o que fazer. Mas se ganhar na suspeição, na dúvida, aí complica", disse Bolsonaro.

O presidente também voltou a atacar os ministros Edson Fachin e Roberto Barroso, respectivamente presidente e ex-presidente do TSE. Ao citar o Judiciário, Bolsonaro disse que o "outro lado" está "fora das quatro linhas há algum tempo" — repisando as declarações que marcaram os atos de viés golpista em 7 de setembro do ano passado.

"Fachin foi quem soltou o Lula, o relator da soltura do Lula. E agora está presidindo o TSE. Agora quer, e continua achando que é o dono do TSE, o puxadinho que ele representa no STF", disse o presidente. "Barroso há poucas semanas nos Estados Unidos, deu uma palestra sobre como tirar o presidente da cadeira. Ele foi para dentro do Parlamento. Uma interferência clara. Não sei o contexto da argumentação dele, mas no dia seguinte os líderes partidários começaram a trocar seus integrantes na comissão que trabalhava a PEC do voto impresso".

Em 2021, o ministro Fachin anulou as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato, restaurando os direitos políticos ao petista — o que alterou o xadrez da eleição presidencial deste ano.

Bolsonaro disse ainda que os ministros agiram com a "conivência" de Moraes, que presidirá o TSE a partir de agosto.

Durante o evento, Bolsonaro ainda elogiou a nota enviada pelo Ministério da Defesa ao TSE. Os militares disseram à Corte Eleitoral que não se sentem "prestigiados" pela Corte Eleitoral. Segundo Bolsonaro, uma das demandas das Forças Armadas é uma "apuração simultânea" das urnas.

Diferentemente do que diz Bolsonaro, mesmo antes da soma dos votos de todas as urnas (totalização), assim que a votação de uma seção eleitoral é encerrada, é possível saber o resultado daquele local com base nas mesmas informações que chegam para o TSE. Esses dados ficam disponíveis no boletim de urna, documento público que traz o resultado da votação de cada urna eletrônica. São esses os resultados que são mandados ao TSE para totalização.

O presidente, porém, poupou seus indicados no STF e fez elogios aos ministros Nunes Marques e André Mendonça, destacando que Marques pediu vista e suspendeu a análise dos decretos do Planalto que flexibilizaram o porte de armas.

Bolsonaro diz que a manobra ajuda na manutenção dos decretos, que hoje estão suspensos por uma decisão liminar. "Se ele (Nunes Marques) apresentar um voto favorável, pode ter certeza que no pleno vai perder", disse.

"Pode ter certeza, é comum no início dar uma escorregada, mas não vamos partir para simplesmente atacar esse colega. Vamos com calma, porque são pessoas que não vão mudar completamente de uma hora para outra, mas podem se equivocar, como já me equivoquei em votações na Câmara dos Deputados".

Fake news sobre eleições

Em sua fala, o presidente também repetiu mentiras não só sobre a eleição de 2018, em que ele venceu no segundo turno, mas também sobre a disputa de 2014, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), em que a petista saiu vitoriosa com 51% dos votos válidos — os tucanos chegaram a pedir uma auditoria do pleito e não constataram irregularidades.

Bolsonaro afirmou que Dilma e Aécio estiveram alternando a liderança dos votos "minuto a minuto", o que já foi desmentido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Segundo o TSE, houve apenas uma única inversão nas colocações entre os dois candidatados, que ocorreu às 19h32, quando Dilma ultrapassou Aécio nos votos válidos.

"Começou a apuração com Aécio na casa dos 60%, a Dilma na casa dos 40%. A curva do Aécio começa a descer, a curva da Dilma começa a subir. Mais ou menos duas horas depois, as curvas se tocam. E a partir daquele momento, as curvas ficam paralelas", disse Bolsonaro.

De acordo com o tribunal, por causa dos diferentes fusos horários do país, as votações das regiões Sul e Sudeste foram totalizadas antes das regiões Norte e Nordestes, estas últimas onde houve maior votação para a candidata do PT. "Com o andamento da totalização, a vantagem inicial do candidato Aécio Neves foi, desse modo, gradativamente diminuindo, conforme os Boletins de Urna (BUs) das regiões Norte e Nordeste do país foram sendo enviados e processados", explica o TSE

Esse resultado pode ser conferido na tabela oficial com os resultados da totalização dos votos minuto a minuto disponibilizado no site do tribunal.

O presidente recorreu a inverdades ainda ao citar as eleições de 2018, vencida por ele no segundo turno, e acusou o PT — ao mencionar "um partido" — de não ter "pagado um hacker" para alterar o resultado da disputa, creditando sua vitória a isso.

Nunca foi constatada nenhuma fraude em votações com urnas eletrônicas no Brasil, e seus dispositivos não estão conectados à rede para serem "hackeados".

Mesmo sem provas, e desmentido pelo TSE, Bolsonaro insiste em dizer que tem "indícios fortíssimos" de que ele ganhou as eleições de 2018 no primeiro turno. Então candidato do PSL, ele disputou contra Fernando Haddad (PT) o segundo turno e venceu com 55% dos votos válidos. No primeiro turno, Bolsonaro teve 46% dos votos válidos e o candidato do PT, 29%.

"O que acho que eu acho que aconteceu, [mas] não tenho provas. Eu acho entre o primeiro e o segundo turno, o partido político, que vocês devem saber qual é, contratou hackers. Quando não pagou a parcela adiantada do segundo turno, os hackers não alteraram o resultado do segundo turno e aí aconteceu a minha vitória", afirmou.

Procurada pelo UOL, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, atribuiu os ataques de Bolsonaro ao PT e a Lula aos resultados das pesquisas de intenção de voto, que colocam o petista à frente na disputa, e com possibilidade de vencer ainda no primeiro turno se as eleições fossem hoje.

"As mentiras de Bolsonaro confirmam o medo que ele tem do voto popular. A Justiça Eleitoral tem que ser firme contra essa sabotagem ao processo eleitoral. Estamos examinando as medidas cabíveis contra esse caluniador", afirmou Gleisi.