Topo

Em 1º ato com PT, Kalil diz que voto em Lula é 'questão de sobrevivência'

Alexandre Kalil (PSD) e Lula (PT) no primeiro evento de pré-campanha dos dois em MG - Reprodução
Alexandre Kalil (PSD) e Lula (PT) no primeiro evento de pré-campanha dos dois em MG Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

15/06/2022 22h41

"Eu quase nunca perdi uma eleição em Minas Gerais", declarou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato ao Planalto, ao dividir o palanque pela primeira vez com Alexandre Kalil (PSD), pré-candidato ao governo mineiro, durante evento em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, na noite de hoje (15).

Apesar da declaração não ser verdadeira — das cinco eleições que disputou, apenas em duas Lula obteve a maioria dos votos em Minas—, o ex-presidente tentou ressaltar a importância do país como estado-pêndulo do pleito nacional; desde 1989, nenhum presidente eleito perdeu a votação no estado.

Durante o discurso, Kalil disse ter recebido uma ligação de Lula em fevereiro o chamando para ser seu aliado nas eleições de 2022.

Essa é uma questão de sobrevivência. Temos pessoas passando fome, abandonadas, a juventude está sem faculdade."
Alexandre Kalil (PSD), pré-candidato ao governo de MG

"Nós vamos entregar a caneta para quem tem humanidade, para quem pensa nos outros, ou vamos eleger quem tem coração e olhar humano, ou vamos entregar esse país para essa corja e desumanos que realmente amam simplesmente a anticiência, a cloroquina, a desumanidade e a fome?", questionou o ex-prefeito de BH.

Posicionado no palco à direita de Lula, o ex-prefeito de Belo Horizonte foi o único que ficou ao lado dele durante todo o discurso do petista, que durou pouco mais de meia hora. Em mais de uma ocasião, Kalil apoiou Lula com o braço; rouco e ofegante, o petista ainda se recupera da covid-19. Doente desde a semana passada, Lula testou negativo ontem (15) para o vírus.

Elogioso a Kalil, Lula disse achar que "ele pode fazer com Minas Gerais o que fez com o Atlético-MG", em referência ao período em que o ex-prefeito foi presidente do clube de futebol. O petista também afirmou que, caso os dois sejam eleitos, ele pode atrasar a própria posse em Brasília para assistir à posse de Kalil como governador.

Vice de Lula na chapa, Geraldo Alckmin (PSB) foi outro que ressaltou a importância de Minas para a campanha nacional.

"O estado é uma síntese do Brasil", disse o ex-governador paulista, que afirmou ser neto de um mineiro e evocou até ao escritor Guimarães Rosa.

Escolhida para o primeiro ato conjunto de PT e PSD, a região do Triângulo Mineiro abriga a cidade de Araxá, onde nasceu Romeu Zema (Novo), atual governador do estado e concorrente direto de Kalil nas eleições.

Drone é usado em manifestação antes do ato

Previsto para iniciar às 17h na Unitri (Universidade do Triângulo Mineiro), o ato teve início apenas após às 20h e foi precedido por manifestações contra Lula.

Horas antes de o petista subir no palco, um drone utilizado para atividades agrícolas atirou fezes e urina nos militantes que aguardavam no local. Segundo o PT, três homens foram presos em flagrante pela Polícia Militar.

"Me desculpe, presidente, Minas Gerais não recebe ninguém dessa maneira. Nós recebemos com café e pão de queijo. E eles mandaram o que gostam, que é cocô e xixi", declarou Kalil em seu discurso.

Lula disse que "não pode ser um humano normal o canalha que coloca um drone para sujar a cabeça de homem, mulher e criança". Ele acrescentou que "nunca fez um inimigo" durante a trajetória política, desde a década de 1980. "A prova disso é que o Alckmin foi meu adversário em 2006 e em 2022 ele é o meu vice", declarou.

Segundo o jornal O Tempo, grupos de direita instalaram em toda a cidade 85 outdoors com ataques ao petista e em defesa do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao jornal, o vereador Cristiano Caporezzo (PL) disse que os outdoors foram financiados por meio de vaquinhas online.

Vice de Kalil na chapa, o deputado estadual André Quintão (PT) alfinetou os protestos: "Um recado para quem comprou drone e contratou outdoor: põe a mão na consciência e compra cesta básica, porque vocês colocaram 33 milhões na pobreza", disse.

Um minuto de silêncio por Bruno e Dom

Durante a fala, Lula criticou a situação econômica do país e os desmontes das universidades públicas. Ele também pediu um minuto de silêncio pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos desde o dia 5 de junho. Segundo a Polícia Federal, nesta quarta, um suspeito confessou a morte dos dois.

Com duas representantes dos povos indígenas convidadas a subir ao palco, o ex-presidente comprometeu-se a, caso eleito, demarcar as terras indígenas do país.

Articulação

A primeira aparição pública de Lula e Kalil ocorre quase um mês após o acordo entre PT e PSD no estado ser anunciado. A demora incluiu a definição do vice de Kalil, o deputado estadual André Quintão (PT), em uma costura política que envolveu recuos de ambos os partidos.

Inicialmente, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) seria o pré-candidato do PT ao Senado. No entanto, nestas eleições apenas um senador pode ser eleito por estado, o que criou um entrave nas conversas com o PSD, já que o senador Alexandre Silveira (PSD-MG) busca a reeleição.

Como o deputado estadual Agostinho Patrus (PSD-MG) seria o vice de Kalil, o PT exigiu ao menos um petista na chapa. O PSD sinalizou que não abriria mão de Silveira no Senado, e a solução encontrada foi a desistência de Agostinho e de Reginaldo; os dois assumiram a coordenação da campanha de Lula e Kalil no estado.

Durante o evento desta quarta, Silveira foi o menos aplaudido. Com identificação mais próxima com o eleitor conservador do estado, o senador chegou a ser cotado para assumir a liderança do governo Bolsonaro no Senado. No palco, ele afirmou que Lula cumprirá um papel importante e fez o "L" com as mãos ao lado do petista.

Agostinho e Reginaldo estavam presentes no ato, assim como o senador Randolfe Rodrigues (Rede -AP) — um dos coordenadores da campanha de Lula —, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR); o presidente regional do PT, Cristiano Silveira e o deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM).

Lu Alckmin, esposa de Geraldo Alckmin, e a socióloga Rosângela Silva, a Janja, esposa de Lula, também ocuparam o centro do palco. Foi Janja quem anunciou o momento do discurso do ex-presidente, após apresentar novamente o clipe do jingle "Sem medo de ser feliz".

"Vem, meu amor, vem falar para Uberlândia."

Inquérito da PF sobre Kalil não entra na pauta

O evento ignorou o inquérito aberto pela PF, no início de junho, para investigar denúncias de Caixa 2 na campanha de Kalil à reeleição, em 2020, e também na atual pré-campanha ao governo mineiro.

A informação foi publicada pelo UOL na noite de ontem (14).

Alianças em MG

Com o palanque ainda sendo montado no estado, o PT vê o aliado nacional PSB — partido de Alckmin — anunciar o ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe como pré-candidato ao governo estadual.

No entanto, o União Brasil, que tem Luciano Bivar como pré-candidato à Presidência, anunciou na segunda (13) que apoiará Kalil em MG. Internamente, a ala mineira do PT vê com bons olhos o apoio não só pelo tamanho do partido — que pode aumentar o tempo de propaganda de Kalil na TV — como também pela possibilidade de uma aliança em São Paulo, outra praça cobiçada pelos petistas.

Na semana passada, o União Brasil abandonou o apoio a Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa pelo governo paulista e afirmou estar em conversas com as campanhas de Fernando Haddad (PT) e de Tarcísio de Freitas (Republicanos).