Suplicy interrompe fala e constrange reunião de Lula: 'Não fui convidado'
O vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT-SP) causou constrangimento no evento de lançamento das diretrizes do programa de governo da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje, em São Paulo.
Sem ter sido convidado, ele interrompeu a reunião para reclamar que uma proposta sua não havia sido incluída no documento oficial. O encontro, com os pré-candidatos, coordenadores de campanha e sindicalistas, acontecia a portas fechadas, em um hotel na região central, e foi transmitido ao vivo pela internet.
O vereador petista cortou a fala do ex-senador Aloízio Mercadante (PT), presidente da Fundação Perseu Abramo e um dos coordenadores da campanha, para reclamar que não foi chamado para o evento. Fora dos microfones, Suplicy também se queixou que sua proposta de renda básica de cidadania não estava entre as diretrizes apresentadas, adiantadas ontem pelo UOL.
A proposta não foi considerada, infelizmente, entreguei por e-mail há dez dias e não foi considerada ainda, aprovada por todos os partidos e sancionada pelo presidente Lula. Está no programa do PT há anos. Ele [Mercadante] tem alguma coisa comigo, não me convidou para a reunião! Mas hoje estou aqui."
Eduardo Suplicy (PT-SP), vereador
"Eu de fato não tive como acompanhar o convite de todas as pessoas —é só olhar o tamanho do plenário. Nem era minha função", disse Mercadante, visivelmente constrangido.
Segundo o ex-ministro, a proposta de renda básica de cidadania, bandeira antiga de Suplicy, ainda será discutida, pois as diretrizes colocam as propostas só em "linhas gerais".
"Quando a gente fala em combater a fome, não estamos nos detalhes, quais são as propostas, têm menções genéricas. Em momento oportuno será discutido", respondeu Mercadante, citando a diretriz número 20.
"Um programa que, orientado por princípios de cobertura crescente, baseados em patamares adequados de renda, viabilizará a transição por etapas, no rumo de um sistema universal e uma renda básica de cidadania", diz o texto.
"[Suplicy] cometeu duas graves injustiças aqui. Mas estou acostumado, fui líder com vossa excelência na bancada, sei que é assim mesmo", completou o coordenador da campanha.
Em seu discurso, que ocorreu após a intervenção do parlamentar paulistano, Lula elogiou Suplicy e disse que ele está "correto" em defender seu programa e lutar contra a fome. "Se eu fosse responsável pelo prêmio Nobel, eu já tinha te dado o prêmio Nobel", disse.
Um pouco depois, dois homens invadiram a sala no fim da fala do ex-presidente. Um deles chamou Lula de "corrupto". Eles foram levados a uma delegacia.
Lançamento das diretrizes de governo
A reunião hoje marcou o lançamento das diretrizes que servirão de base para o programa de governo de Lula, adiantadas ontem pelo UOL. Além do ex-presidente e de Alckmin, se reuniram representantes dos sete partidos para apresentar as propostas que nortearão a campanha.
Ao todo, são 121 propostas divididas entre os grupos: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e defesa da democracia. Marcam o documento a revisão da reforma trabalhista, revogação do teto de gastos, a proposta de uma reforma tributária e posicionamentos contra a privatização da Petrobras e da Eletrobras.
A revogação da reforma trabalhista, que constava no documento original do PT, foi amenizada nesta versão final com a proposta de revogar apenas os "marcos regressivos da atual legislação trabalhista".
No geral, o texto é moldado por um forte tom contra o governo Jair Bolsonaro (PL), principal concorrente de Lula, com críticas ao enfrentamento "bélico" na política de combate às drogas, ao crime ambiental e à grilagem (chamada de "milícias") e no fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde) e do real.
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