Topo

Após falhas, campanha de Lula vê dilema entre segurança e grandes eventos

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

27/06/2022 04h00

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passa por um dilema quanto aos grandes eventos que o petista deverá promover pelo país nos próximos meses. Com aumento de ofensivas contra a pré-candidatura, o desafio é balancear a segurança com maior liberdade de Lula no contato com as multidões.

O plano inicial era começar a promover grandes eventos abertos e públicos no início do período oficial de campanha, em agosto. É nesse tipo de ambiente que Lula se sente à vontade. No entanto, ataques recentes de opositores têm levantado alerta para os mecanismos de segurança dos encontros.

Em pouco mais de uma semana, houve pelo menos três situações que incomodaram e assustaram a caravana do ex-presidente em três cidades diferentes:

Antes disso, em maio, em uma agenda de Campinas, no interior de São Paulo, o carro em que estava o ex-presidente Lula foi cercado por bolsonaristas.

Embora em nenhum dos casos tenha havido qualquer contato próximo com Lula, há uma avaliação de que certos procedimentos da pré-campanha podem ser melhorados.

"É um incidente que só reforça que precisamos ter mais cuidado com a segurança, com o protocolo. Mas em Minas Gerais foi pior, tinha um drone lançando, ao que parece, veneno na população, mulheres, idosos, crianças. É com esse tipo de gente que a gente está lidando", disse o ex-ministro Aloízio Mercadante, um dos coordenadores da campanha, após a invasão no evento de terça.

Detectores de metal e revista

Entre pessoas do núcleo próximo já era esperado que houvesse ataques de antipetistas ou de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas há uma preocupação para que essas ofensivas não passem a ser frequentes —por menores que sejam, como no caso dos cinco críticos que foram à porta do casamento do ex-presidente com a socióloga Janja da Silva, em maio, protestar.

Uma das medidas seria usar detectores de metal e revista até em eventos menores, conforme revelou a Folha de S. Paulo. Nos eventos grandes, como lançamento da pré-candidatura, já foram adotadas.

O problema é que, à medida que a pré-campanha avança, o objetivo do ex-presidente era fazer intervenções cada vez mais abertas, em especial a partir de agosto, quando a candidatura for registrada.

Lula tem reclamado abertamente que preferia já estar fazendo campanha oficialmente e um dos motivos para que grandes comícios abertos, em praças ou grandes avenidas, ainda não terem acontecido é o receio com a Justiça Eleitoral.

O outro é a segurança. Essa, aliás, foi a justificativa oficial que a pré-campanha alegou para cancelar, por exemplo, a viagem a Santa Catarina no início do mês.

Grandes eventos a céu aberto?

Conforme o UOL apurou, já era esperado um reforço no esquema de segurança nas viagens —em especial para a região Sul, onde a caravana do ex-presidente foi atingida por tiros em 2018; e no Centro-Oeste, onde ele vai pior nas pesquisas e Bolsonaro, melhor.

Agora, mesmo com o aumento das incursões —em especial de bolsonaristas—, o plano de grandes eventos a céu aberto, com milhares de pessoas, dos quais o petista é afeito, deve seguir.

Lula não abre mão no contato direto com eleitores nem da interação com multidões. Também há uma atenção da campanha para combater o discurso de opositores de que o ex-presidente não consegue sair nas ruas. Petistas não só discordam da afirmação como querem mostrar o oposto.

Só será preciso tentar achar o ponto de equilíbrio em busca de evitar que ofensas possam virar atitudes mais violentas contra o ex-presidente, seu grupo ou os apoiadores que forem aos eventos.