Comparação de atos na BA preocupa campanhas de Lula e Bolsonaro
Salvador será palco da guerra entre narrativas das pré-campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste final de semana. Com atos marcados para o próximo sábado (2), na festa de independência da Bahia, os grupos disfarçam, mas veem o "encontro" com preocupação por questões de segurança e possível comparação entre os eventos. Além deles, participarão das cerimônias de 2 de Julho na cidade os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
De um lado, o ato de Bolsonaro mudou de local por causa da programação petista. Do outro, Lula gostaria de fazer um cortejo na rua, mas é desaconselhado pela equipe.
Bolsonaro vai participar de uma motociata, marca da sua pré-campanha, com o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL), seu pré-candidato ao governo do estado. O grupo sairá às 8h do Farol da Barra e deve percorrer cerca de 14 km pela orla soteropolitana até o Parque dos Ventos.
Lula fará um evento no estacionamento da Arena Fonte Nova, a céu aberto, mas com necessidade de cadastro para entrada, junto ao governador Rui Costa (PT), o ex-secretário Jerônimo Rodrigues (PT), pré-candidato ao governo do estado, e o senador Otto Alencar (PSD-BA), que busca a reeleição.
Ciro fará uma caminhada pelo centro histórico da cidade também no período da manhã.
Segurança e receio de comparação
O "encontro" dos presidenciáveis marca a disputa entre narrativas que tem permeado a campanha eleitoral de 2022. Embora nenhum deles tenha reconhecido abertamente, a presença de adversários alterou os planejamentos dos atos em Salvador.
A motociata de Bolsonaro estava marcada para sair do Dique do Tororó, manancial à frente da Fonte Nova. Contudo, foi remanejado após a confirmação do evento petista, embora o Planalto diga que o esquema de segurança será similar ao de todos os outros eventos de Bolsonaro.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) monitora a situação na esfera logística, mas diz que não deve alterar os protocolos que já são adotados pela pasta. As viagens de Bolsonaro costumam mobilizar um ostensivo aparato policial e, como o presidente faz questão de manter o contato com o público, em especial nas motociatas, a equipe de segurança segue um padrão operacional.
Há ainda uma questão logística da agenda de Bolsonaro. O presidente também tem um evento evangélico marcado para sábado, às 15h, no Rio de Janeiro. Isso exigirá certa celeridade em Salvador. Como o mandatário costuma almoçar em sua casa, na Barra, quando vai à cidade, a expectativa é que ele embarque em um voo rumo à capital fluminense o mais cedo possível.
Já Lula gostaria de fazer o cortejo pelo centro histórico de Salvador, tradicional em 2 de julho, mas tem sido desaconselhado pela equipe. O martelo ainda não foi batido. Oficialmente, somente o evento do estádio está confirmado, mas a queda de braço segue, embora a campanha não cite a presença de Bolsonaro na cidade como fator determinante.
A reportagem procurou a SSP-BA (Secretaria de Segurança Pública da Bahia) para saber se haveria mudança de contingente e estratégias de segurança em relação aos atos, mas não teve resposta.
Como o UOL já mostrou, com a escalada de ataques de opositores a eventos da campanha, o grupo do ex-presidente tem se preocupado cada vez mais com protocolos de segurança, ao passo que Lula quer ir na direção oposta, intensificando o contato com a multidão.
O objetivo do petista é fazer intervenções cada vez mais abertas, em especial a partir de agosto, quando a candidatura for registrada.
Lula tem reclamado abertamente que preferia já estar fazendo campanha oficialmente. Um dos motivos para que grandes comícios abertos, em praças ou grandes avenidas, ainda não terem acontecido é o receio com a Justiça Eleitoral. O outro é a segurança. Esta, aliás, foi a justificativa oficial que a pré-campanha alegou para cancelar, por exemplo, a viagem a Santa Catarina no início do mês.
Quanto à legislação eleitoral, desta vez, a campanha avalia que o cortejo estaria liberado, pois, na teoria, o ex-presidente estaria apenas fazendo uma caminhada pelo centro da cidade junto ao governador. Agora, a principal questão é a segurança.
Petistas não têm como prever como estarão os ânimos na cidade com a presença do presidente, mas querem combater a todo custo o discurso bolsonarista de que o ex-presidente não consegue sair nas ruas.
A narrativa de que Bolsonaro estará na rua enquanto Lula seguirá em evento fechado já circula entre apoiadores do presidente, embora o próprio grupo tenha mudado de rota por causa do PT.
Além disso, a motociata causa divergências em relação ao tamanho dos eventos. Governada pelo PT há quase 16 anos, a Bahia se tornou um dos principais redutos lulistas do país. Do lado petista, alguns dirigentes afirmam que as motociatas "fazem barulho e volume", mas não são tão representativas em número de pessoas. O grupo de Bolsonaro argumenta que o evento mostra que o apoio do presidente "fecha ruas e estradas".
Os dois lados não admitem publicamente, mas receiam comparações entre públicos, ainda mais porque é difícil estabelecer uma analogia entre uma 'cerimônia' em movimento e outra "parada".
Esses paralelos já têm sido estabelecidos em cidades visitadas pelos dois em um curto espaço de tempo. No meio do mês, Bolsonaro promoveu uma motociata em Natal, um dia depois de Lula realizar um grande evento junto à governadora Fátima Bezerra (PT).
As comparações foram inevitáveis, com vantagem para o petista. Se os bolsonaristas repetem que Lula não consegue andar pelas ruas, apoiadores do ex-presidente provocam dizendo que Bolsonaro segue os passos do PT pelo país.
Na Bahia, como pano de fundo, há ainda a disputa estadual, em que o ex-prefeito da capital ACM Neto (União Brasil) desponta nas pesquisas, com indicação de vitória no primeiro turno. Rompido com Bolsonaro, ele não deverá participar de nenhum dos dois palanques.
Jerônimo, ex-secretário da Educação de Rui Costa, está em segundo lugar, com 18%, e Roma, ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro, em terceiro, com 10%, segundo dados da pesquisa Real Time Big Data, contratada pela Record TV. Ambos se fiam em seus presidenciáveis para crescer nas pesquisas.
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