Marina Silva sobre fama de 'sumida': 'Visão machista, racista, autoritária'
Pré-candidata a deputada federal por São Paulo, a ex-ministra Marina Silva (Rede) rebateu a fama de "sumida" que lhe imputam nas redes sociais, e afirmou que aqueles que desejam colar essa falácia à sua imagem são os mesmos que nutrem uma visão preconceituosa e autoritária do posto ocupado pelas mulheres no cenário político.
"Essa história de Marina sumida primeiro é uma visão racista, preconceituosa, machista e autoritária", afirmou Marina durante participação no UOL Entrevista de hoje.
Para a ex-ministra, a chamam de "sumida", de que só aparece de quatro em quatro anos no período eleitoral, porque ela se recusa a repetir "a lógica da polarização". Por isso, salientou que, embora participe diariamente dos acontecimentos políticos do país, insistem em tentar "eliminá-la" do debate.
"[Essas pessoas são aqueles] que pensam: 'bem, como ela não simplesmente repete o que a lógica da polarização quer, que esteja na cena política com um olhar que dialoga com as diferenças e que se coloca por si mesmo, então você não existe''.
Na entrevista, Marina Silva relembrou seu histórico por ter nascido em um "regime de semiescravidão", de ter sido seringueira, passado por "tudo quanto é tipo de violência política" e mesmo assim permanecer como uma voz importante no cenário nacional.
"Essas pessoas que dizem que estou sumida é porque gostariam mesmo que eu estivesse sumida naquilo que elas estão sumidas, no debate sobre meio ambiente, sobre povos indígenas, sobre questões que são fundamentais para o futuro do Brasil", ponderou, ressaltando que está "no processo e na dinâmica política o tempo todo".
A ex-ministra também ressaltou o quão machista essa visão é porque ninguém apontou que os ex-governadores Geraldo Alckmin (PSB) e Ciro Gomes (PDT) estavam "sumidos" antes de se lançarem como vice e candidato à presidência da República, respectivamente. Tampouco, disse ela, insinuaram que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) estivesse longe dos holofotes antes de oficializar pré-candidatura ao governo de São Paulo. Quanto a ela, por ser mulher e preta, é "mais fácil decretar que está sumida, porque nós já somos sumidas na história".
Marina nega mágoa de Lula
No UOL Entrevista, Marina Silva foi questionada sobre o porquê de ainda não ter declarado abertamente apoio à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto, embora tenha endossado a campanha de Fernando Haddad ao Palácio dos Bandeirantes, e se isso deve-se a algum tipo de "mágoa" em relação ao petista, o que ela negou de forma veemente.
Segundo Marina, justificar sua relação política com Lula a alguma mágoa do passado é uma "forma machista" de abordar questões de natureza política. Ela destacou que não tem nada contra o ex-presidente no âmbito pessoal e que sua saída do PT foi motivada unicamente por divergências no campo político.
Indagada se espera algum pedido de perdão público de Lula e do PT para então selar apoio à candidatura petista, a ex-ministra disse não se tratar disso, mas, sim, do "diálogo em cima de propostas e ideias".
Aborto
Depois de disputar a presidência da República por três vezes, Marina Silva tentará retornar ao Congresso Nacional, agora como deputada federal. Na entrevista, a política disse que pretende retornar à Brasília para continuar participando do debate "com responsabilidade" e de forma a "fortalecer a democracia", sem entrar no meio da "polarização tóxica", inclusive em temas importantes, mas "complexos", como a questão do aborto.
Embora afirme que "jamais abortaria", Marina defende que o debate sobre a legalização do aborto aconteça de uma forma que o tema não seja "demonizado". Para ela, é necessário enxergar o aborto como questão de saúde pública e impedir que entre na "agenda de costumes", pois isso seria de interesse do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"A gente tem que fazer o debate de problemas que são complexos, mas de problemas que precisam ser resolvidos. São milhares e milhares de mulheres que morrem em função de práticas que não têm nenhum tipo de suporte na medicina, na ciência, buscando uma solução para uma gravidez que não foi planejada, que não é desejada", falou. "Também nunca defendi que uma mulher deva ser presa [por abortar], porque ela precisa de suporte, acolhimento", continuou.
"É preciso fazer o debate e faço isso com muita transparência. [Porém], muitas pessoas querem que esse debate vá para a agenda dos costumes porque é aí que eles vão fazer o que sempre fizeram, isso já foi utilizado contra mim de uma forma injusta e o Bolsonaro está muito feliz se esse for o debate exclusivo de 2022. A gente tem a clareza de que é um tema complexo, difícil, mas tem o caminho do debate", completou, salientando que, em casos em que o aborto já está permitido por lei, como estupro, por exemplo, "não devemos ter nenhum tipo de retrocesso", devendo-se respeitar o que determina a legislação.
"[Estou] olhando as circunstâncias, a realidade que leva tantas mulheres a abortar e que seguem sem um respaldo do poder público, pois é um tema que deve ser tratado como saúde pública", concluiu.
Veja a íntegra da entrevista:
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