RJ: Lula reclama de motociatas de Bolsonaro e promete Ministério da Cultura
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar as motociatas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e prometeu a recriação do Ministério da Cultura, extinto por ele, em um encontro hoje com sambistas no Rio de Janeiro.
É o primeiro dia de viagem da pré-campanha de Lula e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) à capital fluminense. Os dois chegam no auge do racha entre PT e PSB em torno da indicação ao Senado. Amanhã (7) deverá ocorrer um grande ato na Cinelândia, centro da cidade.
O encontro com sambistas foi promovido na quadra da escola Unidos da Tijuca, na zona norte. Depois de ouvir falas de representantes de escolas de samba, Lula abriu seu discurso criticando a regra eleitoral que só permite a realização de comícios oficiais de campanha a partir de agosto —mas que, de acordo com ele, permite as motociatas de Bolsonaro.
A impossibilidade de fazer campanha tem sido criticada com frequência pelo ex-presidente. Afeito a grandes eventos abertos, Lula tem evitado fazer comícios em praças e avenidas sob o pretexto de segurança e de que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) poderia considerar campanha antecipada.
Por outro lado, desde o início de junho o petista tem rodado o país com eventos fechados como este no Rio. Embora não peça votos nem fale oficialmente em candidatura, os atos têm sido usados para promover seu nome e os seus candidatos locais.
Nós estamos fazendo uma coisa nova nesse período de [pré-]campanha, que a gente não pode pedir voto porque é proibido por lei. A gente só pode pedir voto depois de 15 de agosto. O Bozo pode todo dia fazer motociata, mas nós temos que ficar aqui."
Lula, em evento com sambistas
Hoje, estavam no palanque o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato ao governo do estado; e o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e pré-candidato ao Senado.
Recriação de ministério e introdução da cultura no orçamento
O principal tema das falas gerais e de Lula foi a cultura, em especial as escolas de samba e o Carnaval. O pré-candidato voltou a prometer a recriação do Ministério da Cultura —transformado em secretaria na primeira semana do governo Bolsonaro, em 2019— e o desenvolvimento de comitês regionais de cultura, para desenvolver iniciativas locais.
"O pessoal da cultura ficou passando privações por causa da política desse presidente", criticou Lula.
Estavam presentes os sambistas Teresa Cristina; Tia Surica da Portela, que fez uma homenagem a Monarco, morto em dezembro; Neguinho da Beija-flor; o carnavalesco Leandro Vieira; os atores Luis Lobianco e Sérgio Loroza e representantes de escolas, rodas de samba e alguns blocos de Carnaval.
Lula defendeu, ainda, a introdução de iniciativas culturais no orçamento da União, de estados e municípios. "Não pode o dono de uma escola [de samba] ficar mendigando ajuda, ela tem de estar no orçamento, para saber como vai gastar", disse.
"É uma indústria capaz de produzir emprego, produzir profissionalização das pessoas —porque o que vocês fazem na realização dessas fantasias não é uma coisa qualquer", discursou. "Um país que não explora sua cultura é um país fadado a ser pobre espiritualmente."
A gente precisa olhar como esse país ficou triste em 2021, quando não houve Carnaval em nenhum estado da federação, como esse país ficou triste, como esse país ficou sem um sorriso."
Lula, em evento com sambistas
O evento ocorreu um dia depois da derrubada dos vetos de Bolsonaro aos dois projetos de lei de fomento à cultura, Lei Aldir Blanc 2 (PL 1518/2021) e Lei Paulo Gustavo (PLC 73/2021), pela Câmara dos Deputados.
A Lei Aldir Blanc 2, batizada em homenagem ao compositor que morreu em 2020 em decorrência da covid-19, cria uma política nacional de incentivo permanente à cultura, com a aplicação anual de verba nos estados e municípios para financiar projetos culturais, com a previsão de repasse anual de R$ 3 bilhões da União para estados e municípios.
Já o texto que trata da Lei Paulo Gustavo —comediante que também teve covid—, por sua vez, destina cerca de R$ 3,8 bilhões do Fundo Nacional de Cultura e do Fundo Setorial de Audiovisual para artistas em razão das perdas sofridas ao longo da crise da pandemia.
Briga na disputa pelo Senado
Lula chega no auge do racha entre PT e PSB em torno da indicação ao Senado ao Rio. O ex-presidente bancou o apoio do PT à pré-candidatura de Freixo ao governo, condicionando Ceciliano ao Senado.
O problema é que o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) também vislumbra a vaga ao Congresso e, à frente nas pesquisas, tem repetido que não retirará seu nome e tem o apoio local do seu partido. Freixo, no entanto, subiu ao palanque ao lado de Ceciliano. Molon também estava presente, mas ficou na plateia.
Segundo fontes relataram ao UOL, a insistência de Molon em se manter na disputa pelo Senado tem irritado tanto Lula quanto Freixo, que defende o nome de Ceciliano. O ex-presidente pretendia chegar ao Rio com a situação resolvida, mas, como em outros estados, o impasse continua.
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