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Ato com Lula marca pacificação da chapa Haddad e França em SP

Lucas Borges Teixeira e Stella Borges

Do UOL, em Diadema (SP) e em São Paulo

09/07/2022 13h46

O ato de pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) hoje (9) em Diadema, no ABC Paulista, marcou a pacificação da aliança PT-PSB em São Paulo em torno do ex-ministro Fernando Haddad (PT) para o governo. O ex-governador Márcio França (PSB) anunciou ontem (8) a retirada na disputa e irá concorrer ao Senado.

A resolução de palanque único em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, era prioridade para Lula. Na visão da pré-campanha, a possibilidade dos dois concorrerem diminuía não só as chances de vitória no estado como enfraquecia a chapa federal. Entre elogios e afagos, os presentes aparentavam deixar claro que o assunto estava resolvido.

França falou por cerca de 10 minutos. Voltou a dizer que está cumprindo um combinado sobre o lugar nas pesquisas para retirar a candidatura, como fez no vídeo divulgado ontem. Sem citar a possibilidade de concorrer ao Senado, ele reiterou o apoio a Lula e a Haddad.

"O combinado vai ser cumprido. Na última eleição aqui em São Paulo eu tive 10,2 milhões de votos e quero dizer que vou pedir para todas essas pessoas me ajudarem a eleger Lula com Alckmin e Haddad governador de São Paulo. Ele [Haddad] é uma pessoa preparada, alguém que é idôneo, correto", elogiou França.

Haddad retribuiu o gesto, repetindo que França é "um homem de palavra" e "digno", e pediu que o elejam ao Senado.

"Não é fácil imaginar o que foi a construção desse palanque (...) Nós, ao longo de um ano praticamente, começamos a construir uma solução que contemplasse todos os partidos que estão aqui representados", disse ele. "Estamos aqui num esforço incrível de unir o país contra o arbítrio e contra o autoritarismo."

Em uma fala de quase 50 minutos, Lula evitou o assunto. Ele agradeceu a França, reforçou o nome de Haddad, mas focou no projeto nacional, evitando polêmicas, como tem feito em seus discursos.

O ex-presidente falou da situação econômica do país e criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL), com referência ao orçamento secreto e à PEC dos benefícios, proposta pelo governo e aprovada no Senado no fim de junho.

Um conselho que eu quero dar pra vocês é o seguinte: se esse dinheiro [via PEC] cair na conta de vocês, peguem e comprem o que comer -- e, na hora de votar, deem uma banana pra ele [Bolsonaro].
Lula, em Diadema

9.jul.2022 - Lula participa de ato público na cidade de Diadema (SP) ao lado da esposa, Rosangela, e de seu pré-candidato a vice, Geraldo Alckmin - Roberto Sungi/FuturaPress/Estadão Conteúd - Roberto Sungi/FuturaPress/Estadão Conteúd
9.jul.2022 - Lula participa de ato público na cidade de Diadema (SP) ao lado da esposa, Rosangela, e de seu pré-candidato a vice, Geraldo Alckmin
Imagem: Roberto Sungi/FuturaPress/Estadão Conteúd

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice na chapa, um dos responsáveis pelo acerto com França, também embarcou na união e, ao defender Haddad, disse que, para ser governador do estado, é preciso, antes, ser prefeito da capital.

Ele citou os ex-governadores tucanos Mario Covas e José Serra, e aproveitou para cutucar João Doria (PSDB), seu ex-pupilo e hoje desafeto. "Até o Dorinha foi", brincou.

A definição de apenas um palanque no maior colégio eleitoral do país é algo que vinha incomodando o ex-presidente. Lula tem rodado o país para reforçar palanques locais e há tempos queria fazer o de São Paulo, mas precisava ter o assunto encerrado.

A avaliação dentro da campanha era que o quanto antes a situação fosse resolvida, melhor seria para Haddad, França e Lula. O acordo foi feito em um almoço com a presença de Lula no último domingo (3) e selado durante a semana.

No evento de hoje estavam presentes ainda Guilherme Boulos (PSOL), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o prefeito de Diadema, José de Fillipi Jr. (PT), e o ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB).

O evento ocorreu na Praça da Moça, um dos pontos centrais de Diadema, mas não foi aberto. Para entrar, era preciso fazer cadastro e passar por um esquema de segurança com detector de metais e revista.

A campanha de Lula sofreu ataques recentes, ainda que o esquema de segurança tenha sido reforçado. No centro do Rio, uma garrafa de plástico com explosivos e fezes foi lançada para dentro das grades. Ninguém ficou ferido. Um homem foi preso.

Entrave com o PSOL

No acordo proposto no almoço de domingo, é esperado que o vice na chapa com Haddad também seja do PSB. Donizette, presente no evento, é um dos principais cotados.

A indicação dos dois cargos na chapa, no entanto, enfureceu o PSOL, que entrou para a aliança de Lula em abril e retirou a pré-candidatura de Guilherme Boulos ao Palácio dos Bandeirantes logo depois.

No acordo anterior feito entre as duas siglas, o PSOL tiraria a candidatura de Boulos e apoiaria Lula. Como contrapartida, receberia apoio à Prefeitura de São Paulo em 2024. Uma adesão à campanha de Haddad se daria por meio de um lugar na chapa, fosse vice ou Senado pelo estado paulista.

A situação não passou despercebida por Juliano Medeiros, presidente do PSOL, que, embora tenha elogiado França, ressaltou o elo entre PT e PSOL.

"Nós estávamos nas ruas em 2016 denunciando o golpe contra a Dilma [Rousseff] porque foi golpe, sim. E nós fomos para a rua brigar e denunciar esse golpe. Eu estava em São Bernardo do Campo, presidente, no dia em que o senhor foi preso naquela farsa que foi a Lava Jato. No segundo turno da eleição de 2018, o PSOL não foi pra Paris, foi pra campanha do Fernando Haddad", numa indireta ao PSB, que apoiou a saída de Dilma em 2016, e ao pré-candidato Ciro Gomes (PDT).

Uma reunião está marcada para a próxima segunda (11) para tratar da situação. Ainda há a esperança do lado do PSOL que o assunto seja resolvido, mas o clima não está dos melhores.