Caciques do MDB em 11 estados selam acordo para apoiar Lula no 1º turno
Onze diretórios do MDB declararam hoje apoio à do chapa ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no primeiro turno. Em reunião em São Paulo, caciques do partido prometeram defender apoio ao PT na comissão nacional da legenda.
O encontro entre líderes petistas e emedebistas sendo realizado na tarde de hoje na Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em São Paulo. Mesmo com a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) pelo partido, o apoio dessa ala já estava claro em viagens do ex-presidente.
No grupo que encontrou Lula e da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, tem governador, senadores, ex-governadores, presidentes de diretórios estaduais e líderes do partido na Câmara e no Senado. São parlamentares de nove diretórios que representam, ao todo, 11 estados:
- Alagoas: governador Paulo Dantas, senador Renan Calheiros, ex-governador Renan Filho e deputado Isnaldo Bulhões, líder do partido na Câmara
- Amazonas: senador Eduardo Braga, líder do partido no Senado
- Bahia: ex-deputado Lúcio Vieira Lima
- Ceará: ex-senador Eunício de Oliveira
- Espírito Santo: senadora Rose de Freitas
- Maranhão: ex-senador Edson Lobão, representando também a família Sarney
- Paraiba: senador Veneziano Vital do Rêgo
- Piauí: senador Marcelo Castro
- Rio de Janeiro: deputado licenciado Leonardo Picciani
- Pará, com o governador Helder Barbalho e o senador Jader Baralho, e Rio Grande do Norte, com o ex-senador Garibaldi Filho, não estavam presentes, mas estavam representados por Eunício e Lobão
Entre eles, oito são presidentes dos diretórios estaduais do partido. A articulação é feita pelo deputado José Guimarães (PT-CE), um dos coordenadores da campanha de Lula no Nordeste, presente no encontro.
A reunião tem um perfil mais simbólico. Em parte desses estados, os acordos já estão consolidados. Em Alagoas, Lula já subiu no palanque junto a Renan e com Renan Filho, pré-candidato ao Senado, em torno da reeleição de Dantas.
Na Bahia, o MDB indicou o vereador Geraldo Jr. (MDB), presidente da Câmara Municipal de Salvador, para vice na chapa de Jerônimo Rodrigues (PT) ao governo estadual.
O mesmo movimento ocorreu no Piauí, com o deputado estadual Themístocles Filho (MDB), presidente da Assembleia Legislativa piauiense, como vice na chapa de Rafael Fonteles (PT); e no Rio Grande do Norte, com o deputado Walter Alves (MDB-RN) como vice pela reeleição de Fátima Bezerra (PT).
Em outros estados, os apoios foram consolidados mais recentemente. No Amazonas, Lula deverá subir no palanque de Braga, com acordo costurado pelo senador Omar Aziz (PSD), que busca reeleição.
Já havia a expectativa de que os três se unissem no estado, embora Aziz e Braga não sejam exatamente próximos, mas o martelo foi batido na viagem a Brasília, na última semana.
O diretório do Pará também se uniu ao grupo. Embora Helder e Jader Barbalho tenham sido representados na reunião, eles visitaram Lula em São Paulo na semana passada e os três devem subir juntos no palanque na eventual viagem do ex-presidente ao estado.
Nada de Tebet: grupo defenderá Lula durante convenção
O grupo deverá defender o apoio oficial do MDB à candidatura de Lula já no primeiro turno na convenção nacional marcada para o dia 27 — rifando, consequentemente, a pré-candidatura de Tebet.
"Nós defendemos que o MDB já coligue agora, no primeiro turno, com o nosso presidente Lula, porque é o candidato que reúne as condições para o fortalecimento da democracia. Quando ele foi presidente, teve esse comportamento e é o que defendemos", afirmou o governador Paulo Dantas, antes de entrar para a reunião.
Dentro do MDB, que oficialmente segue com Tebet como pré-candidata com chancela do presidente Baleia Rossi (MDB-SP), o encontro é visto com indiferença. As lideranças que apoiam a senadora argumentam que este grupo sempre foi próximo a Lula e, na prática, já apoiariam o ex-presidente de qualquer jeito.
"Conversei há pouco com alguns dirigentes do MDB que supostamente estariam com outro candidato a presidente. Eles me garantiram que vão apoiar Simone Tebet na convenção que vai homologá-la candidata. Decidimos por maioria, respeitando as minorias. Teremos apoios nos 27 estados", tuitou Baleia, ao final da tarde, porém sem citar nomes.
Renan chegou a fazer uma cruzada pública contra o lançamento de Tebet sob o argumento de que lançar mais um nome sem chance de vitória só enfraqueceria o partido. Em 2018, o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) acabou em sétimo lugar com 1,2% dos votos.
Após a reunião, o senador Eduardo Braga afirmou que o objetivo é chegar a um acordo antes da convenção, mas que os estados não abrem mão do apoio a Lula e pretendem, inclusive, aumentar o número.
"Nós vamos conversar com o presidente Baleia, mostrando essa realidade que nós estamos enfrentando [em relação à inviabilidade de Tebet] e que o compromisso com a democracia, com o combate à fome e enfrentamento ao desemprego estão asseguradas pela candidatura do ex-presidente Lula", afirmou.
Tebet não decolou nas pesquisas e têm perdido apoios antes dados como certos. Ela tem 3,3% das intenções de voto, de acordo com o agregador de pesquisas do UOL, e quase nenhum palanque estadual forte.
O grupo pretende usar esses pontos como argumento para unir logo à chapa petista, como fez em 2010 e 2014 com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Rusgas e constrangimentos
A união mostra também a reaproximação de uma ala do MDB que, antes próxima do PT durante os governos Lula e Dilma, se distanciou durante o processo do impechment.
Eunício, um dos fiadores da queda de Dilma, já havia comandado um jantar para Lula com figurões do MDB em abril. Uma foto dos dois tocando os punhos, gesto popularizado na pandemia de covid-19 que virou marca da pré-campanha de Lula, foi divulgada para mostrar que está tudo resolvido —só não contem com a simpatia de Dilma.
O mal-estar com a ex-presidente lembra que acordos como esses trazem, também, alguns incômodos. Na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) segue como uma das lideranças do partido e faz parte do grupo de apoio a Lula — tanto que seu irmão, Lúcio Vieira Lima, está na reunião.
Condenado por lavagem de dinheiro e organização criminosa, ele está em liberdade condicional desde fevereiro deste ano, mas seu nome segue sendo associado ao caso do bunker com R$ 51 milhões encontrado em um apartamento em Salvador, em 2017.
Lula tem evitado fotos públicas com o ex-ministro, mas Geddel já avisou que vão "ter de engoli-lo".
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