Ex-embaixador: Bolsonaro fez gesto inusitado, constrangedor e vergonhoso
O ex-embaixador brasileiro Sergio Florêncio participou hoje do UOL News e classificou a reunião convocada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores estrangeiros como desastrosa. Florêncio ainda fez questão de ressaltar que Bolsonaro se elegeu consecutivamente desde a implementação da urna eletrônica em 1996 para diversos cargos políticos, inclusive presidente.
"A repercussão internacional desse gesto do presidente é extremamente negativa porque esse gesto é inusitado, constrangedor e vergonhoso. Ele é inusitado porque um político que durante 28 anos se elegeu com esse sistema de voto eletrônico, inclusive presidente em 2018 com voto eletrônico, agora com a perspectiva de uma derrota eleitoral nas próximas eleições decide se insurgir contra o sistema que coroou toda sua vida política", disse durante participação no UOL News.
Durante a entrevista, o ex-embaixador ainda criticou uma possível participação das Forças Armadas no processo eleitoral. "Mais inusitado ainda é ele estimular uma participação absolutamente indevida das forças armadas no processo eleitoral e como ele acabou de afirmar, que as Forças Armadas foram chamadas para dar um ar de legalidade. Isso é um absurdo".
Florêncio ainda afirmou que a reunião colocou os embaixadores estrangeiros em uma situação de constrangimento, uma vez que eles não exercem a função de opinar ou questionar o processo eleitoral de um outro país.
"É constrangedor porque os embaixadores não são supostos de se manifestarem sobre fundamentos da institucionalidade do país. Eles estão sendo convocados para se manifestar sobre a base e alicerce da democracia que é o voto, e isso não é função do embaixador. O presidente os coloca em uma saia justa, ou seja, eles nada falam ou eles falam para nada dizer, porque é impossível qualquer manifestação de substância a respeito de um tema sobre o qual eles não devem se manifestar".
O ex-embaixador ainda destacou que dificilmente os embaixadores que participaram da reunião farão uma avaliação positiva sobre o encontro. Florêncio destacou que eles devem fazer uma avaliação do quadro da política interna brasileira em que o presidente já tenta explicar uma possível derrota nas urnas.
"Avaliação não pode ser positiva. Certamente será uma avaliação do quadro interno, ou seja, a três meses do processo eleitoral o presidente está em desvantagem com o principal adversário e acredito que muitos farão uma avaliação nessa linha. Vão identificar esse contexto eleitoral como um dos fatores que levou o presidente a insistir nessa campanha de crítica e de desacreditar o voto eletrônico e explicar o inexplicável, que é a condenação da urna eletrônica que funciona desde 1996 com normalidade e sem nenhum caso de fraude".
Por fim, ele também explicou que os embaixadores estrangeiros que atuam no Brasil são obrigados a aceitarem uma convocação do presidente da República. Portanto, o fato de a sala estar cheia de embaixadores não significa que Bolsonaro está prestigiado internacionalmente.
"É obrigatório um convite de um presidente para um embaixador. Não é só um convite, é uma convocação. Se o embaixador não aceita é muito mal visto pelo governo, então o fato da sala estar cheia não significa de forma alguma que o presidente está sendo prestigiado. É uma questão de protocolo e tem que ser obedecida. O fato de ainda não ter convocado alguns países é estranho e negativo, porque quando o presidente decide convidar embaixadores e não convida um país, automaticamente o país se sente marginalizado", finalizou.
Veja a entrevista completa no UOL News:
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