Quaest: infelicidade por nora bolsonarista ou lulista evidencia polarização
Pesquisa Quaest que mediu a polarização afetiva entre o eleitorado brasileiro mostra que um terço dos eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) declararam que estariam infelizes ou muito infelizes caso tivessem filho ou filha casado com um membro do grupo adversário. Porém, o número de insatisfeitos é maior entre os eleitores do petista.
O levantamento foi publicado nas redes sociais por Felipe Nunes, diretor do instituto de pesquisa, após uma análise do especialista ao jornal O Globo.
Nunes utilizou o assassinato de Marcelo Arruda, petista que comemorava aniversário com temática do partido e foi morto por um apoiador de Bolsonaro, como gancho para trazer a reflexão dos dados sobre a chamada "polarização afetiva".
Ele aponta que a disputa entre PT e PSDB, a principal do país entre 1994 e 2002, era uma polarização partidária, porém a sociedade não refletia essa divisão. Somente a partir de 2006 que se tornaram mais claras as diferenças entre eleitores de um lado ou de outro: ricos e pobres, nordestinos e sulistas, passaram a votar de forma diferente, segundo o diretor da Quaest.
Mas, em 2018, há, segundo ele, uma intensificação do antagonismo político e aí se inicia a polarização afetiva, na qual a identificação com o grupo ideológico pertencente cresce, mas por outro lado o rancor e ódio com o lado antagônico também. Adversários deixam de ter essa denominação e passam a ser inimigos, que precisam não apenas ser derrotados nas urnas, mas destruídos por não terem legitimidade e serem ameaça.
Felipe Nunes trouxe ainda dados da Associação Brasileira de Ciência Política, que perguntava aos eleitores sobre o candidato do PT e o que representava o antipetismo e se eles amavam, gostavam, nem gostavam nem desgostavam, não gostavam ou odiavam o candidato. O resultado foi que especialmente em 2018 aumentou a diferença absoluta entre o amor e o ódio do eleitorado em relação a Lula e aos seus principais adversários. Em 2022, uma pesquisa da própria Genial/Quaest apontou que a polarização afetiva se tornou mais extrema.
E então, o argumento proposto pelo pesquisador chega em questionar os eleitores sobre conviver com genros e noras que tenham opiniões políticas divergentes, com número de um para três entre os que se sentiriam insatisfeitos ou muito insatisfeitos de que isso acontecesse.
"Para que se tenha referência de comparação, estamos tão polarizados afetivamente quanto estão os norte-americanos, onde 38% dos Republicanos e Democratas se sentiriam infelizes com o casamento de seus filhos com alguém do grupo rival", Nunes argumenta.
Além de ser uma novidade, a medição da polarização afetiva este ano se dá não mais entre partidos, mas está centralizada nas figuras de Lula e Bolsonaro. Apesar de os eleitores de Lula terem maior rejeição a Bolsonaro, os bolsonaristas confiam menos na urna eletrônica e concordam mais com a ideia que de o presidente não deve aceitar uma derrota, caso ela aconteça. Então, a polarização afetiva além de provocar um aumento nos sentimentos negativos com relação a opositores, também pode provocar atitudes disruptivas com o processo democrático, além de violência.
Felipe Nunes alerta que quando a campanha começar de fato os episódios de violência podem aumentar, a depender da retórica das duas figuras citadas: Lula e Bolsonaro.
O Quaest é um instituto de pesquisas com sede em Belo Horizonte. Até 2020, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a empresa realizava pesquisas eleitorais só em Minas Gerais. Hoje, faz levantamentos sobre intenções de voto para presidente. O instituto tem uma parceria com a Genial Investimentos, a qual financia levantamentos sobre a corrida presidencial de 2022. As pesquisas são realizadas com entrevistas presenciais.
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