Transparência Internacional desmente Bolsonaro em checagens a embaixadores
A Transparência Internacional Brasil enviou aos embaixadores que se encontraram ontem com o presidente Jair Bolsonaro (PL) uma lista com checagens para desmentir as declarações do mandatário na reunião. Segundo a instituição, as checagens da Agência Lupa mostram "informações falsas e manipuladas que Bolsonaro apresentou à comunidade diplomática em Brasília".
Na reunião com os diplomatas, Bolsonaro fez declarações contra o sistema eletrônico de votação e levantou novamente suspeitas infundadas sobre a segurança do processo eleitoral de 2022. O encontro, anunciado por Bolsonaro há mais de um mês, foi transmitido pela TV Brasil, uma emissora pública, a menos de 80 dias das eleições.
"Estamos seguros de que os embaixadores estão cientes da campanha de fake news da parte do presidente Bolsonaro. O objetivo é deixar devidamente documentado mais este gravíssimo ataque do presidente às instituições brasileiras", iniciou a organização sem fins lucrativos, que também enviou as checagens para organizações multilaterais.
Minimizar a conduta do PR [presidente] como bravata irresponsável ou sandice é imprudente. A comunidade internacional deve ter consciência da degradação democrática, iminente risco de ruptura eleitoral e conflagração violenta no Brasil, com graves consequências à estabilidade internacional. Acrescentou a organização Transparência Internacional Brasil
A Transparência Internacional também explicou no Twitter que denuncia à comunidade internacional "a deterioração do estado democrático de direito no Brasil" através de seus relatórios desde 2019, o primeiro ano do governo Bolsonaro.
"Esperamos que o evento de ontem tenha dissipado qualquer dúvida sobre o grave processo de desestabilização em curso no país. Não pode mais haver espaço para ambiguidades e tergiversação. A sociedade brasileira conta com o apoio firme e inequívoco da comunidade internacional em defesa do processo eleitoral e da democracia no Brasil."
Reação às declarações de Bolsonaro
Dez deputados de sete partidos de oposição apresentaram hoje, ao STF (Supremo Tribunal Federal), uma notícia-crime contra o presidente. Os parlamentares pedem que o mandatário seja investigado por crime contra o Estado democrático de Direito devido aos ataques feitos ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada.
A representação contra Bolsonaro, que já havia sido anunciada ontem, deverá ser encaminhada pelo Supremo à PGR (Procuradoria-Geral da República), que decidirá se abre ou não uma investigação formal. Se vir indícios suficientes de crime, a PGR poderá apresentar uma denúncia contra Bolsonaro.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a senadora Simone Tebet (MDB), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pré-candidatos à Presidência da República, também criticaram o presidente pelas afirmações no encontro com os embaixadores.
New York Times diz que diplomatas 'ficaram abalados'
Diplomatas ficaram abalados durante a reunião, informou o The New York Times hoje. Segundo um dos principais jornais dos Estados Unidos, embaixadores temem que Bolsonaro esteja preparando as bases para uma tentativa de golpe, se perder as eleições presidenciais deste ano.
Dois embaixadores que concordaram em falar com o NYT sob a condição de anonimato dizem que diplomatas ficaram incomodados após a sugestão de Bolsonaro de que militares devem participar do processo para "garantir eleições seguras".
De acordo com o NYT, o presidente brasileiro fez com que acusações de fraude no sistema eleitoral se tornassem uma questão de política externa, aumentando temores internacionais de que ele pretende contestar as próximas eleições.
Outro importante veículo norte-americano, The Washington Post também repercutiu a reunião de Bolsonaro com diplomatas. O jornal publicou uma notícia da agência AP (Associated Press) que ressalta que o presidente brasileiro não apresentou nenhuma evidência de que as urnas eletrônicas não são seguras.
*Com Gabriela Vinhal, Paulo Roberto Netto, Rafael Neves, do UOL, em Brasília
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