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Com vaias e pressão por Marília, Lula defende nome do PSB em Pernambuco

Colunista do UOL, em Garanhuns (PE), e do UOL, em São Paulo

20/07/2022 14h45Atualizada em 20/07/2022 20h53

O ato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) hoje em Garanhuns (PE), sua terra natal, escancarou a insatisfação de parte da militância petista com a aliança com o governador Paulo Câmara (PSB) e a opção pela pré-candidatura do deputado federal Danilo Cabral (PSB-PE) ao governo. Em vários momentos de climão, ambos foram vaiados e o petista teve de defendê-lo em seu discurso.

No estado, o objetivo principal da viagem, além de reafirmar seu nome na disputa ao Planalto, é exatamente turbinar a pré-candidatura de Cabral. O problema é que, em Pernambuco, o nome de Lula é mais ligado à ex-petista Marília Arraes (SD-PE), que tinha apoio de grande parte da plateia e desponta nas pesquisas.

Câmara e o prefeito recifense, João Campos (PSB), foram vaiados pela maioria dos presentes já ao subirem ao palco. Cabral foi vaiado por uma parte e aplaudido por outra. Lula chegou a ir ao lado do governador para tentar amenizar, mas o climão seguiu durante todo o ato.

Quando Cabral pegou o microfone, a militância do PSB, à beira do palanque, começou a gritar seu nome enquanto parte de trás, de maioria de petista — alguns com bottons da Marília —, vaiava.

"Aqui não tem ajuntamento de projetos pessoais e de ressentidos. Aqui tem um projeto político, aqui tem um time que tá entrando em campo e tem uma história. Aprendi, na política, que as pessoas têm que ter lado, têm que saber o lado certo da história", cutucou Cabral.

O climão claramente tomou conta do palco. Constrangido, Lula — sempre último a falar — abriu seu discurso reafirmando que tinha apenas um nome em Pernambuco, Danilo Cabral, e deixou claro que este era o acordo com o PSB.

Eu não confundo a minha relação pessoal com a minha relação política. O PT tem um compromisso nacional com o PSB e eu sou do tempo em que não precisava de documento, era no fio do bigode. Eu quero cumprir o compromisso com o PSB e quero que o PSB cumpra compromisso com o PT. Porque, se a gente não fizer assim, a gente não cria base para construir uma coalizão capaz de ensinar a sociedade brasileira a conviver democraticamente na adversidade.
Lula, em resposta às vaias

"Nós não precisamos professar a mesma religião, nós não precisamos gostar da mesma praia, precisamos gostar do ser humano, respeitar a diversidade. Por isso, tinha que vir aqui dizer que tenho candidato em Pernambuco e ele se chama Danilo Cabral", completou o ex-presidente. Ainda assim, parte da militância seguiu chamando por Marília.

O apoio de Lula a Cabral foi a principal imposição do partido fundado pelo ex-governador Miguel Arraes, avô de Marília e João Campos, para se juntar a Lula com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como vice. Desde então, o PT tem feito diversos esforços para popularizar o deputado junto à militância.

Insatisfeita, Marília migrou para o Solidariedade em abril e lançou sua pré-candidatura, mas seguiu vinculando seu nome ao de Lula —o que irrita o PSB. Apoiadora fiel de longas datas, a ex-petista tem aparecido em eventos com Lula —na semana passada, em São Paulo, ela chegou a abraçar e tirar foto com Lula e Alckmin.

Os gritos pela deputada começaram já no discurso do senador Humberto Costa (PT-PE). Na sequência, ouvindo as vaias, o ex-deputado federal Silvio Costa (Republicanos), suplente na chapa ao Senado de Teresa Leitão (PT), defendeu Câmara e disse que o governador é "vítima da política" do presidente Jair Bolsonaro (PL), que deixou Pernambuco de lado.

"Vamos deixar de lado briga, intriga", pediu Câmara, em seu discurso, mas as vaias não pararam.

O clima deu uma pesada maior após uma gafe de Leitão, que, ao saudar as covereadoras Marília Ferro e Fernanda Limão (PT), do primeiro mandato coletivo da Câmara Municipal de Garanhuns, falou "Marília A...", antes de se corrigir. A plateia foi ao delírio, a pré-candidata não gostou.

"Eu sei por que elas estão saudando essas covereadoras, porque elas estão neste palanque, no palanque de Lula! Estão fazendo isso como um gesto de fidelidade partidária que o PT sempre defendeu", bradou Leitão, em indireta a Marília.

Por meio da nota, Marília disse que que não vai se manifestar sobre o ocorrido, mas diz que "lamenta que o PSB submeta o presidente Lula a tamanho constrangimento em Pernambuco".

"Os fatos e o apelo popular por seu nome durante o evento da Frente Popular, na cidade, falam por si", afirma a nota da assessoria da pré-candidata.

PSB quer que Lula impulsione Cabral

O climão não se deu à toa. O principal objetivo do PSB com Lula é que ele alavanque o nome de Cabral e, para isso, precisa se desvincular de Marília.

Até o momento, Cabral está na quarta colocação das pesquisas, com 10% das intenções de votos, tecnicamente empatado, mas atrás, inclusive, de Anderson Ferreira (PL), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado, que tem 12%.

Como ocorreu em outros estados, o PSB local espera que a ligação direta ao nome de Lula alavanque Cabral nas intenções de voto. apoiadora antiga, que hoje desponta nas pesquisas para o executivo pernambucano.

Com reprovação de Câmara em alta, o diretório local tem tido dificuldades para emplacar o nome do seu candidato à sucessão do governo. Lula torna-se, então, a principal — se não única — aposta para fazê-lo crescer.

Marília seguiu falando que está com Lula e o apoiará, ele suba ou não em seu palanque. Segundo o PT, não subirá. Sua assessoria informou ao UOL que a candidata não fará nada para "atrapalhar o que Lula vier fizer em Pernambuco".

"Bolsonaro sabe que vai perder e inventa mentiras"

Como de costume, Lula aproveitou parte do discurso para criticar Bolsonaro, seu principal concorrente nas eleições de outubro, e atacar as mentiras que o presidente tem dito sobre as urnas eletrônicas. Em encontro com embaixadores na última segunda (18), ele voltou a divulgar inverdades sobre o sistema eleitoral brasileiro.

Ele já sabe que vai perder as eleições e está inventando mentiras contra as urnas. Ele foi eleito todas as vezes pelas urnas eletrônicas. Ele está querendo criar caso mas no fundo o que ele não quer é que o povo trabalhador vote.
Lula, em Garanhuns (PE)

Ato na terra natal

Esta é a primeira vez que Lula volta à terra natal durante a pré-campanha. O ex-presidente nasceu em Caetés (PE), antigo distrito de Garanhuns, a cerca de 250 km do Recife, em 1945.

Antes do ato, ele visitou a réplica da casa em que nasceu e morou com a mãe, Dona Lindu, e os irmãos no sertão pernambucano. O petista se mudou com a família para São Paulo em 1952, aos sete anos, para fugir da fome.

casa - Divulgação/Imprensa Lula - Divulgação/Imprensa Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou a réplica da casa em que ele viveu em Caetés (PE)
Imagem: Divulgação/Imprensa Lula

Em seu discurso, ele lembrou parte da sua trajetória, tratou da seca no Nordeste e relembrou feitos na região, com programas sociais, de infraestrutura e criação de universidades.

"Eu estava cansado de ler normal e ver que o Nordeste era o lugar que tinha mais analfabeto, que tinha menos universidade, menos doutor, mais mortalidade infantil", disse Lula.

À noite, Lula participou de mais um ato em Serra Talhada (PE), ao lado de Alckmin, Janja, Danilo Cabral, Teresa Leitão, João Campos, Humberto Costa e a prefeita da cidade, Márcia Conrado (PT). Em seu discurso, o ex-presidente prometeu investimentos financeiros aos estados do nortes e à cidade, além de criticar os ataques do presidente Bolsonaro às urnas e citar novamente o assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu.