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Em Pernambuco, Lula quer alavancar nome do PSB contra ex-petista e aliada

O ex-presidente Lula (PT) e seus dois apoiadores em Pernambuco: deputados Danilo Cabral (PSB) e Marília Arraes (SD) - Arte/UOL
O ex-presidente Lula (PT) e seus dois apoiadores em Pernambuco: deputados Danilo Cabral (PSB) e Marília Arraes (SD) Imagem: Arte/UOL

Colunista do UOL, em Maceió (AL), e do UOL, em São Paulo

20/07/2022 04h00

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega hoje (20) a Pernambuco com um objetivo principal, além de reafirmar seu nome na disputa ao Planalto: turbinar a pré-candidatura do deputado federal Danilo Cabral (PSB-PE) ao governo do estado.

Para isso, o ex-presidente precisa rejeitar a ex-petista Marília Arraes (SD-PE), apoiadora antiga, que hoje desponta nas pesquisas para o executivo pernambucano. Como ocorreu em outros estados, o PSB local espera que a ligação direta ao nome de Lula alavanque Cabral nas intenções de voto.

Até o momento, Cabral está na quarta colocação das pesquisas, com 10% das intenções de votos, tecnicamente empatado, mas atrás, inclusive, de Anderson Ferreira (PL), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado, que tem 12%.

Com reprovação do governador Paulo Câmara (PSB) em alta, o diretório local tem tido dificuldades para emplacar o nome do seu candidato à sucessão do governo. Lula torna-se, então, a principal —se não única— aposta para fazê-lo crescer.

A disputa para ter o nome de Lula associado a Cabral tem como principal concorrente Marília. Apoiadora fiel de longas datas, a ex-petista tem aparecido em eventos com Lula —na semana passada, em São Paulo, ela chegou a abraçar e tirar foto com Lula e Alckmin.

Marília, porém, não foi convidada para eventos com Lula em seu estado e, em princípio, não deve encontrar o ex-presidente nesta viagem. A assessoria de Marília Arraes informou ao UOL que a candidata não fará nada para "atrapalhar o que Lula vier fizer em Pernambuco".

O apoio irrestrito de Lula a Cabral foi uma das condicionantes para o PSB fechar a aliança nacional na chapa, com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como vice.

Fundado no estado pelo ex-governador Miguel Arraes, antigo aliado de Lula e avô de Marília e do prefeito recifense João Campos (PSB), o PSB governa Pernambuco desde 2007.

Insatisfação e mudança de partido

O acordo com o PSB nacional fez com que o PT desarticulasse o nome do senador Humberto Costa (PT-PE) e o de Marília, então no partido. Insatisfeita, ela migrou para o Solidariedade em abril, mas seguiu vinculando seu nome ao de Lula —o que irrita o PSB.

Recentemente, Lula gravou um vídeo em apoio a Cabral, logo após pular Pernambuco da visita que fez ao Nordeste —passando por Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.

Na oficialização do apoio do Solidariedade a Lula, na sede da Força Sindical em São Paulo, Marília deu ao ex-presidente um grande sombreiro com o seu nome —devidamente fotografado e divulgado por ela. O ato, mais uma vez, enfureceu o PSB, que não quer nem sonhar com essa associação.

Marília seguiu falando que está com Lula e o apoiará, ele suba ou não em seu palanque. Segundo o PT, não subirá.

A briga pelo apoio de Lula

Para o cientista político Arthur Leandro, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a presença de Lula é importante para o PSB porque ele "é o principal cabo eleitoral" da campanha. "A associação de um candidato a ele [Lula] tem um impacto eleitoral visível em uma eleição que é fundamentalmente nacionalizada e no estado onde Lula tem uma das suas maiores aprovações do país", diz.

Para o pesquisador, em Pernambuco, quem leva a vantagem na associação "automática" é Marília Arraes, que tem um histórico de militância e proximidade com o ex-presidente. Além da dificuldade de colar a imagem de Cabral e Lula, existem ainda outros dois pontos que Arthur Leandro considera como complicadores para o candidato do PSB.

"Existe uma rejeição hoje, um cansaço dos governos do PSB no estado —são 16 anos de gestão. Uma questão também é que Lula não desconsidera o apoio de Marília, então temos um palanque duplo, quiçá triplo —se considerarmos o João Arnaldo, do PSOL. Isso drena a possibilidade do PSB capitalizar [sozinho] eleitoralmente a presença do ex-presidente Lula aqui no estado", conclui.