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PL oficializa Bolsonaro candidato, que ataca Lula e STF, e convoca para 7/9

Igor Mello e Matheus de Moura

Do UOL, no Rio, e colaboração para o UOL, no Rio

24/07/2022 12h36Atualizada em 24/07/2022 16h03

O Partido Liberal (PL) oficializou neste domingo (24) a candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição. No discurso, Bolsonaro fez diversos ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas, e também ao STF (Supremo Tribunal Federal). O público reagiu com gritos de "o Supremo é o povo". Bolsonaro chegou a convocar um ato para o dia 7 de setembro, dizendo que os "surdos de capa preta" precisam entender o que é a voz do povo.

Em um aceno ao Nordeste, ele prometeu manter o Auxílio Brasil de R$ 600 se for reeleito. No evento, Braga Netto também foi oficializado com candidato a vice-presidente.

A convenção do partido foi no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e contou com a participação do público vestido de verde e amarelo, e aliados políticos.

Bolsonaro começou o discurso falando que reza o Pai Nosso e pedindo ao público que "não experimente as dores do comunismo", regime político que nunca foi implantado no país. Ele destacou sua trajetória até a Presidência e fez menção ao atentado sofrido em 2018, em Juiz de Fora. Em seguida, afagou aliados.

Ataques ao STF

Bolsonaro conclamou os apoiadores a protestarem contra o STF, na escalada de tensão envolvendo seus questionamentos ao sistema eleitoral. Sem especificar por que, Bolsonaro disse que a manifestação em 7 de setembro será "a última vez" que os apoiadores irão às ruas. Ele atacou mais uma vez o STF, chamando os ministros de "surdos de capa preta".

"Nós não vamos sair do Brasil. Nós somos a maioria, somos do bem. Nós temos disposição para lutar pela nossa liberdade e nossa pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo no 7 de setembro vá as ruas pela última vez. Esses poucos surdos de capa preta tem que entender a voz do povo. Tem que entender que quem faz as leis é o legislativo e o executivo. Todos tem que jogar dentro das quatro linhas da constituição"

Ataques a Lula

Ao citar Lula, o presidente procurou associar o concorrente a regimes como Cuba e Venezuela. "Alguém acha que o povo cubano ou venezuelano não quer a liberdade? Querem a liberdade, mas porque chegaram a esse ponto? Escolhas erradas, somos escravos de nossas decisões", afirmou.

Em outro trecho, fez um ataque direto: "De nada vale um país rico se o povo escolhe um bandido para a Presidência da República. Querem dar a presidência para um cachaceiro descondenado?", afirmou, referindo-se às condenações que foram anuladas. "O que eu falo não é um ataque, é uma constatação", disse.

Forças Armadas

Em um afago às Forças Armadas, Bolsonaro criticou a criação do Ministério da Defesa —pensado para submeter os militares ao controle civil. Ele também defendeu a presença de mais de 6 mil militares em cargos civis no governo.

"Falaram que eu botei muito militar. Não botei muito, botei o suficiente. Mas, se fosse para botar bandido, vocês tinham votado no outro candidato", falou.

Afago a aliados

Ao citar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), parte do público vaiou. O presidente então saiu em defesa dele. "Graças a ele conseguimos aprovar leis que vieram a baixar o preço dos combustíveis. A grande maioria dos parlamentares está com o governo e o governo está com eles. Temos três poderes, mas o legislativo e o executivo são irmãos", disse, arrancando aplausos da plateia.

O pastor Marco Feliciano abriu o evento, com orações e citação à família. Ao passar a palavra para Bolsonaro discursar, ele falou pouco e logo deu o microfone para Michelle Bolsonaro. A ideia da organização da campanha é atrair o público feminino e evangélico. Ela citou a facada, disse que o país é mal administrado e falou sobre o amor ao País. Michelle também disse que a gestão do Bolsonaro criou leis de proteção às mulheres e fez políticas para o Nordeste.

Para evitar ciúmes entre ministros e parlamentares, a cúpula da campanha decidiu que apenas Bolsonaro discursaria. A organização também definiu os lugares em que cada autoridade iria sentar para demarcar quem ficaria mais próximo ao presidente.

Condenado no escândalo do mensalão, o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, foi colocado em uma das cadeiras mais afastadas do local destinado a Bolsonaro.

Público de verde e amarelo e vuvuzela

A entrada ao público no Maracanãzinho começou por volta de 8h15. O público compareceu vestindo roupas nas cores da bandeira, verde e amarelo, e munidos de vuvuzela —um tipo de corneta de plástico. A entrada foi organizada por ordem de chegada, para evitar o esvaziamento do evento.

Nos últimos dias, militantes de esquerda fizeram campanha nas redes sociais para que opositores de Bolsonaro retirassem ingressos para o evento em uma plataforma virtual, como forma de esvaziar a plateia. A iniciativa repete estratégia adotada por fãs do estilo musical k-pop nos Estados Unidos contra a campanha de Donald Trump, em 2020.

Apoiadores - Igor Mello/UOL - Igor Mello/UOL
Apoiadores durante convenção do PL para lançamento da candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro
Imagem: Igor Mello/UOL

De acordo com o PL, foram retirados cerca de 50 mil ingressos —cinco vezes mais que a capacidade máxima do Maracanãzinho. No entanto, foram identificados indícios de fraude em 40 mil solicitações. O partido protocolou uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o boicote, mas não detalhou qual foi a argumentação adotada.

A entrada do público e da imprensa ocorreu lado a lado, separadas por grades de ferro. Houve certa hostilidade, com música citando "Globolixo" e xingamentos. O advogado Frederick Wassef chegou a desfilar no palco antes do início da convenção e filmar o público.

Durante a manhã do evento, o entorno do Maracanãzinho ficou marcado pelo ribombar ocasional de vuvuzelas, breves e e esparsados gritos de ordem, como "a nossa bandeira jamais será vermelha", e carros customizados rodando o quarteirão. Dentre os veículos mais chamativos, destacou-se um fusca verde e amarelo com um homem fantasiado de Jair Bolsonaro, vestindo uma desproporcional máscara alegórica com o rosto do presidente.

Bolsonaro - Matheus de Moura/UOL - Matheus de Moura/UOL
Apoiador vestido do presidente Jair Bolsonaro (PL) desfila pelas ruas do Rio
Imagem: Matheus de Moura/UOL

Ainda do lado de fora, comerciantes tentavam vender produtos fazendo referência ao Bolsonaro, como camisetas, toalhas, e faixas de cabelo.

A reportagem observou baixa adesão na compra dos produtos, salvo, senão, pelas bandeiras do Brasil e a as bebidas e as comida vendidas pelos ambulantes.

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Comerciantes vendem camisas a favor de Bolsonaro e contra Lula e imprensa durante convenção do PL
Imagem: Matheus de Moura/UOL

Houve quem aproveitasse para divulgar livros, como o "A Onda: Os Bastidores das Eleições 2018", de Léo Rodrigues, suplente do senador Flávio Bolsonaro. Um homem vestindo uma placa divulgava os livros "Quem mandou matar Bolsonario" e "Quem mandou matar Mariele", com estas grafias.

Produtos - Matheus de Moura/UOL - Matheus de Moura/UOL
Apoiadores de Bolsonaro divulgam obras a favor do presidente
Imagem: Matheus de Moura/UOL

Os prédios em frente ao Maracanã não estavam lotados de bandeiras, diferente do que havia pedido o senador Flávio Bolsonaro, para identificar as janelas com as bandeiras do Brasil.

A convenção contou com slogans como "Capitão do povo pelo bem do Brasil" e "Liberdade, verdade e fé pelo bem do Brasil".

Prédios - Matheus de Moura/UOL - Matheus de Moura/UOL
Poucas bandeiras do Brasil apareceram nas janelas, ao contrário do que havia sido pedido pelo senador Flavio Bolsonaro
Imagem: Matheus de Moura/UOL

Enquanto o público ainda chegava, por volta das 9h, e começava a se reunir próximo ao palco, alguns políticos já circulavam pelo palco principal, como Carla Zambelli. Ao anunciarem que o ex-jogador de futebol e agora senador Romário compareceria, o público vaiou.

Durante a passagem de som, antes do início da convenção, o mestre-de-cerimônias chegou a pedir uma "salva de palmas para Jesus".

A área externa ficou esvaziada de militantes após as 10h, quando a maioria já havia entrado na convenção, restando no exterior somente algumas figuras responsáveis por agitações políticas, como balançar bandeira, tocar bateria e soltar gritos de ordem.